Em mais um movimento previsível, o Copom (Comitê de Política Monetária) voltou a reduzir a Selic, na reunião desta quarta (17), pela oitava vez seguida. O corte nos juros básicos foi de 0,75 ponto percentual, conforme já esperado pelos analistas financeiros ouvidos semanalmente na pesquisa Focus do BC (Banco Central). Com isso, a taxa caiu ao patamar inédito de 2,25% ao ano.
Com a decisão do Copom, a Selic chegou ao menor nível desde o início da série histórica do BC, em 1986. De outubro de 2012 a abril de 2013, a taxa foi mantida em 7,25% ao ano e passou a ser reajustada gradualmente até alcançar 14,25% ao ano em julho de 2015. Em outubro de 2016, o Copom voltou a reduzir os juros básicos da economia até que a taxa chegasse a 6,5% ao ano em março de 2018, só voltando a ser reduzida em julho de 2019.
Há dúvidas, contudo, sobre os reais impactos da medida na sustentação da economia brasileira no médio prazo e se o custo do dinheiro seguirá sofrendo rebaixas nas próximas reuniões do Copom. Dirigentes classistas ouvidos pelo Jornal do Commercio são unânimes em apontar que a iniciativa é bem-vinda, mas deve ser acompanhada por outras iniciativas governamentais que evitem o engessamento e a retração nos níveis de atividade e confiança.
Embora não deixe de considerar que reduções de juros sempre têm potencial para alavancar o consumo em um momento em que comércio e serviços começam a reabrir suas portas, o presidente da FCDL-AM (Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado do Amazonas), Ezra Azury, salienta que diminuir o custo do dinheiro pode ser uma medida de fôlego curto, caso a economia tropece na transição do período da pandemia para o da pós-pandemia.
“Toda redução de taxa Selic é importante para o comércio varejista, mas ela tem que vir junto com a confiança do consumidor nas compras. Ou seja, a decisão do Copom é uma notícia positiva, mas temos que verificar como é que vai funcionar a economia quando acabar toda essa questão do auxílio emergencial e essa enxurrada de dinheiro que o governo federal está colocando aí no mercado”, ressalvou.
Corte e recuperação
Em sintonia, o presidente em exercício da Fecomércio-AM (Federação do Comércio de Bens e Serviços do Amazonas), Aderson Frota, também comemorou a nova diminuição nos juros, mas lembrou que os efeitos da medida do BC levam algum tempo para chegar ao consumidor e aos caixas do varejo e do setor de serviços.
“Quanto mais cortes nos juros, melhor para o setor. É claro que, em um primeiro momento, temos um efeito negativo no câmbio, valorizando o dólar. Mas, esse processo tende a se estabilizar e a especulação cair, dando espaço para investimento. Também é fato que ainda teremos números negativos para o comércio, no curto prazo. A tendência é de uma recuperação lenta, mas o menor custo do dinheiro ajuda nesse processo”, avaliou.
Melhor estratégia
De acordo com o presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), Antonio Silva, o corte nos juros é a melhor estratégia para incentivar o crescimento econômico, ao incentivar o consumo com o aumento do dinheiro em circulação, facilitar o crédito mais barato às empresas, reduzir a inadimplência e potencialmente diminuir o spread bancário.
“Para o governo é bastante benéfica, porque reduz o custo da dívida pública. Agora, para quem tem aplicações com a Selic, é prejudicial, reduzirá rendimentos. Creio que o impacto será positivo para a indústria, em meio a essa crise provocada pela covid-19. Entendo que haverá melhores condições de financiamento empresarial, surgimento de novos negócios, incentivo ao consumo da população e geração de empregos, fatores essenciais para crescimento da produção industrial”, afiançou.
“Crédito desburocratizado”
Na mesma linha, o presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, destacou ao Jornal do Commercio que o novo corte na taxa Selic será benéfico ao setor agropecuário do Amazonas, que também precisa de outras medidas para facilitar o acesso do produtor rural aos financiamentos bancários.
“Essa nova redução nos juros básicos, a nosso ver, é acertada. Principalmente, diante da grave retração econômica vivenciada atualmente pelo país, em decorrência da pandemia. O Brasil precisará para a retomada econômica de crédito mais barato e desburocratizado”, asseverou.
Pandemia e impactos
Em comunicado, o BC informou que a redução dos juros decidida nas últimas reuniões é compatível com os impactos econômicos da pandemia do novo coronavírus e que, para as próximas reuniões, poderá haver um “ajuste residual” no estímulo monetário. No entanto, a manutenção da taxa em patamares reduzidos, no médio prazo, vai depender da trajetória dos gastos do governo no ano que vem, tendo em vista os altos investimentos em recursos para conter os efeitos da pandemia.
“O Copom entende que, neste momento, a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que o espaço remanescente para utilização da política monetária é incerto e deve ser pequeno. O comitê avalia que a trajetória fiscal ao longo do próximo ano, assim como a percepção sobre sua sustentabilidade, são decisivas para determinar o prolongamento do estímulo”, afirmou o BC, em nota à imprensa.