A produção pecuária do Amazonas voltou a apresentar resultados contraditórios no primeiro trimestre deste ano. Os abates na bovinocultura e suinocultura recuaram em números de cabeças e peso de carcaças, ao mesmo tempo em que a produção de leite e ovos rendeu bons resultados aos produtores. A conclusão vem dos dados mais recentes da Pesquisa Trimestral de Abate de Animais e de Produção de ovos de Galinha, do IBGE.
O número de unidades produtoras de ovos no acumulado dos três meses iniciais de 2020 seguiu estagnado em 31 para todo o Estado, repetindo a performance da série histórica de 2019. A quantidade de galinhas poedeiras seguiu trajetória inversa do levantamento anterior e subiu 5,38% sobre o último trimestre, ao passar de 1,842 milhão para 1,941 milhão. Isso não impediu que a produção de ovos caísse 3,19% ao mesmo tempo –de 11,66 milhões para 11,28 milhões de dúzias.
Na comparação com o mesmo trimestre do ano passado (1,85 milhão de cabeças), a sondagem do IBGE aponta que o fechamento do acumulado até março de 2020 apontou para um incremento de apenas 5,15% para o número de poedeiras no Estado. A produção amazonense de ovos, por sua vez, apresentou um acréscimo de 1,21% em relação ao mesmo período (11,15 milhões de dúzias).
No caso dos abates, a sondagem do IBGE apontou para uma redução de 4,20% na produção local de carne bovina, na virada do quarto trimestre de 2019 (59.856 cabeças de gado) para o primeiro de 2020 (57.342). O saldo foi ainda mais negativo (-8,90%) na comparação com o mesmo período do ano passado (62.447). O peso total das carcaças (12,56 mil toneladas) também foi menor, tanto no primeiro (-4,07%), quanto no segundo caso (-8,12%).
O abate de suínos no Amazonas foi mais fundo na mesma direção e encolheu 27,08% na variação da virada do ano, ao totalizar 1.451 animais abatidos contra 1.990. Em contrapartida, o confronto com o mesmo trimestre do exercício anterior (1.291), que apontou para alta de 12,39%. O peso total das carcaças (81,21 toneladas), contudo, apresentou desempenho negativo em ambas as comparações (-25,01% e -15,02%, respectivamente).
Melhor resultado veio da produção leiteira. O Amazonas produziu, no acumulado de janeiro a março de 2019, 2,78 milhões de litros de leite cru (resfriado ou não). A produção foi 100% industrializada e avançou 25,17% sobre o volume total registrado em igual intervalo do ano anterior (2,22 milhões de litros). O IBGE não registrou números para a atividade, no último trimestre de 2019.
“Questão sazonal”
Em sua análise para o Jornal do Commercio, o supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, salientou que a queda dos bovinos levou o Estado ao mais baixo patamar de cabeças dos últimos cinco trimestres, com reflexos no peso das carcaças. Situação semelhante ocorreu com o rebanho suíno, mas o pesquisador destaca que os segmentos de leite e ovos apresentaram dados positivos para o Amazonas.
“A produção de leite cru teve boa alta em relação ao mesmo trimestre do ano passado. Na produção de ovos, a boa notícia foi o aumento de produção, embora o número de unidades produtoras não tenha sofrido alteração. Em síntese os animais tiveram queda, enquanto os produtos de origem animal tiveram aumento, no primeiro trimestre de 2020. Não temos dados suficiente para apontar os motivos, mas creio que é uma questão sazonal, que pode ter influenciado a oferta e a demanda pelos produtos”, ponderou.
Concorrência e pandemia
No entendimento do presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, o fator preponderante para a redução de abates no primeiro trimestre de 2020 foi a redução de consumo decorrente da pandemia, “já a partir de março”. O dirigente atribui as altas na produção de leite e de ovos aos esforços dos produtores rurais em um mercado competitivo e fortemente afetado pela crise da covid-19.
“O número da produção de leite tem relação com sua trajetória de expansão em nosso Estado, principalmente porque parcela dos produtores tem investido em melhoramento genético do rebanho e retificação da atividade. A produção de ovos se mantém com plantel ascendente, mostrando que a atividade é competitiva por aqui, apesar da forte concorrência do Centro-Oeste. Mesmo com as incertezas da pandemia e seus reflexos econômicos, esperamos aumento da pecuária, nos próximos trimestres”, afiançou.
Ração e confiança
O titular da Sepror (Secretaria de Produção Rural do Amazonas), Petrucio Magalhães Júnior, avaliou que a pequena retração nos índices da pecuária de corte demonstra alguma estabilidade nos trimestres. No caso do abate suíno, o fator preponderante para a queda de produção local seria a alta do milho –e da ração, já que a commodity é um de seus principais ingredientes.
“Entretanto, os números da pecuária de leite são animadores, demonstrando o bom momento para a produção de leite e derivados no Amazonas. A mesma tendência de crescimento foi observada na avicultura de postura, com aumento da produção de ovos, consequência do maior consumo, nesse período de pandemia”, asseverou.
Para o secretário estadual, os produtores rurais do Amazonas estão demonstrando otimismo e confiança na retomada das atividades econômicas pós-pandemia e ações do governo do Estado. O titular da Sepror acrescenta ainda que programas de incentivos e de compras institucionais estão sendo determinantes para que a agropecuária não pare e possa garantir o crescimento do PIB amazonense.