O ser humano é mesmo um ser social. Foi só o governo reabrir o comércio, as academias, os espaços públicos, as praias, para que esses lugares fossem tomados pela população. O mais impressionante de tudo isso é observar que ainda tem gente que teima em não usar máscara, o único meio cientificamente comprovado que impede a propagação do vírus.
Infelizmente ainda vivemos tempos difíceis, e precisamos urgentemente aprender a conviver socialmente com o outro, com o diferente, com o teimoso, com aquele ou aquela pessoa que não aceita as normas, as regras, as leis, que teimam em não usar máscara. O que fazer com essas pessoas? Como lidar com pessoas difíceis, que se acham acima do bem e do mal? Ignorá-las?
Não é uma resposta unívoca, mas todo mundo sabe que para haver convivência pacífica é preciso tolerância, sobretudo nos momentos de crise. Tolerar é não desistir do outro, até mesmo quando ele te faz sofrer. Não é somente aturar, mas manter e nutrir o respeito pelo outro, mesmo você não concordado com a atitude dele. Sem isso, as relações sociais tornam-se “uma guerra de todos contra todos” como disse Thomas Hobbes.
Como seres sociais, precisamos nos adaptarmos a esse novo mundo, a essa nova realidade, a esse novo normal. Não é possível saímos dessa crise separados, discordando de tudo. É preciso união de todos. É preciso, enfim, lembrarmos que somos seres humanos, que somos da mesma espécie, e que teremos o mesmo fim.
As relações humanas também passam por momentos de purificação. Elas também são provadas pelas durezas da vida. O contato social, por exemplo, que é uma forma de identidade humana, terá que enfrentar as suas crises. As relações sociais devem ser sinceras, por aquilo que somos, seres humanos sociais, e não pelo cargo ou função que ocupamos.
A famigerada expressão “Você sabe com quem está falando” não deve existir nesses novos tempos de pós-pandemia. Se isso continuar acontecendo é porque, verdadeiramente, não aprendemos nada com a dor e o sofrimento de milhões de pessoas que perderam a vida, o emprego, estão passando fome por causa desse maldito vírus.
A boa notícia é que a maioria da sociedade repudia esse tipo de comportamento. Socialmente falando, a tolerância, o respeito, o amor, a paciência e a bondade são as melhores formas de lidar com as pessoas. Quando falta uma dessas opções a tendência é caminhar para o conflito, agressões, e até mesmo para a violência.
Nas relações sociais é sempre uma pena quando alguém escolhe a violência como meio para alcançar o que quer. Dizem que, com ternura e bondade, você pode puxar um elefante com um fio de cabelo. Com carinho e paciência, você obtém das pessoas o que jamais conseguiria pela força bruta. Por fim, a propósito da reconstrução da vida social pós-pandemia, deixo aqui para você o belo poema “Olhe” de Charles Chaplin:
“Quando estiver em dificuldade e pensar em desistir/Lembre-se dos obstáculos que já superou/OLHE PARA TRÁS/Se tropeçar e cair, levante, não fique prostrado/Esqueça o passado/OLHE PARA A FRENTE/Ao sentir-se orgulhoso por alguma realização pessoal/Sonde as suas motivações/OLHE PARA DENTRO/Antes que o egoísmo o domine, enquanto o seu coração é sensível/Socorra os que o cercam/OLHE PARA OS LADOS/Na escalada rumo às altas posições no afã de concretizar os seus sonhos/Observe se não está a pisar alguém/OLHE PARA BAIXO/Em todos os momentos da vida, seja qual for a sua atividade/Procure a aprovação de Deus/OLHE PARA CIMA”.
*Luís Lemos é filósofo, professor de Filosofia e palestrante