24 de novembro de 2024

Indústria eletroeletrônica mantém expectativa cautelosa

Otimismo cauteloso na indústria eletroeletrônica depois de perder Dia das Mães e uma Olimpíada
Indústria eletroeletrônica mantém expectativa cautelosa

Passado o pico pandemia até aqui, e depois de perder as vendas do Dia das Mães e de uma Olimpíada cancelada pela covid-19, a indústria eletroeletrônica expressa otimismo cauteloso. Por um lado, comemora o aquecimento de vendas nos dias mais amargos da crise da covid-19 e o restabelecimento dos níveis de atividade. Por outro, não arrisca projeções, pois vê incerteza para os próximos meses e teme que os recentes resultados positivos tenham ocorrido por demanda reprimida.

Levantamento interno e inédito da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos) aponta aumento de 46,25% nas vendas no varejo, entre abril e maio. Em torno de 84% das empresas elevaram o faturamento na mesma comparação, sendo que uma em cada quatro obteve alta de 40% a 50% nos resultados e outras 25% conseguiram avançar além dos 80%.

Em relação a maio de 2019, contudo, o polo eletrônico amargou queda de 27,3% na produção, igualando os resultados aos registros de 2015 e 2016 – no auge da crise econômica que desembocou no impeachment da ex-presidente Dilma. As linhas de produção de condicionadores de ar (-46%) responderam pelas maiores perdas do subsetor, nesse tipo de comparação. 

Vale notar que os condicionadores lideravam as listas de produção e vendas da indústria da Zona Franca de Manaus. O levantamento mais recente da Suframa informa que a produção dos modelos split system já havia acumulado alta de 93,45% e mais de 1,29 milhão de aparelhos fabricados entre janeiro e março de 2020. O faturamento com as venda do produto até ali tinha sido de US$ 302.26 milhões, conforme a mesma base de dados.

A sondagem interna da Eletros informa ainda que 74% das fábricas de eletroeletrônicos recuou em vendas e produção na comparação com maio do ano passado, sendo que a maioria absoluta (64%) teve decréscimos de 20% e 30%, embora uma minoria (11%) tenha conseguido seguir na contracorrente e crescer 10%. Como se não bastasse, um em cada três fabricantes registrou entre 20% e 30% de inadimplência nas vendas.

O desempenho da indústria eletroeletrônica foi equilibrado pelos resultados positivos das vendas online, dada quarentena geral e o fechamento das lojas de comércio de bens não essenciais por imposição de medidas governamentais de isolamento. A alta se deu também em relação a maio de 2019 e se estendeu a 84% das empresas – e o incremento superou a casa dos 80% para 44% delas. Uma em cada quatro avançou entre 60% e 70%. 

Reequilíbrio de estoques

O presidente da Eletros, Jose Jorge do Nascimento Junior, informou ao Jornal do Commercio que ainda não dispõe dos números do semestre e que, a despeito dos dados relativamente positivos em um momento adverso, a entidade não se arrisca a fazer uma nova projeção para o ano. Antes da pandemia e do cancelamento das Olimpíadas de 2020, a expectativa dos fabricantes era repetir o crescimento de 5% obtido no ano passado.  

Indagado sobre as vendas para o Dia dos Pais, já que as lojas ainda estavam fechadas no Dia das Mães e apenas alguns segmentos tinham voltado a atender presencialmente no Dia dos Namorados, o executivo respondeu que a entidade ainda não dispõe de estatísticas a respeito, mas sinalizou que estas não devem ser elevadas. “O varejo e a indústria constituíram muitos estoques e a produção está ocorrendo para reequilibrar alguns estoques em locais específicos”, comentou.

Ociosidade e cautela

O dirigente destaca, contudo, que a produção do polo eletroeletrônico tem sido significativa, no rastro do aumento da demanda, ensejando “otimismo no ar”. Passado o pico da pandemia e o retorno às atividades, as fábricas do PIM já teriam retornado a um nível semelhante ao de março de 2020. O uso da capacidade instalada está em 70%, de acordo com Jose Jorge do Nascimento Junior. 

Em condições normais, o nível de ociosidade de 30% abriria espaço para crescimento nos próximos meses, em sintonia com o aquecimento para as vendas de fim de ano. Seria o momento de incremento de produção de TVs e condicionadores de ar na ZFM. Mas, o fato de as parcelas do 13º salário terem sido adiantadas como medida cautelar de proteção econômica nos dias iniciais de pandemia, sinaliza limar o alcance de datas favoráveis à venda de eletroeletrônicos, como a Black Friday e o próprio Natal.

“TVs costumam ter bons resultados. As vendas de ar-condicionado dependem da temperatura, que vem caindo no Sul. Só vamos entender como serão as vendas, quando o verão chegar. Há uma previsão de pelo menos empatarmos. Superar o ano passado, de forma alguma. Mas, não sabemos qual será o patamar, já que todas as previsões realizadas em janeiro de 2020 foram descartadas com a pandemia. Estamos acompanhando o mercado mês a mês e avaliando os impactos, com cautela”, encerrou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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