De forma gradual, o Amazonas vem apresentando recuperação de empregos de abril para cá e deve manter o ritmo ascendente – e lento – nos próximos meses, mantidas as atuais condições econômicas, políticas e sanitárias. O mesmo não pode ser dito na hipótese de uma retirada prematura das políticas anticíclicas de cena, antes que a economia do país possa voltar a andar com as próprias pernas.
Em linhas gerais, este é o diagnóstico do economista, doutor em Controladoria e Contabilidade, e professor da Faculdade Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), Samuel de Oliveira Durso. Para amparar suas projeções, levou em conta os dados mais recentes do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) e da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar) Covid19, do IBGE – ambos referentes a junho.
“Percebemos que a região Norte foi umas da que apresentou o resultado mais positivo, com saldo de 6.000 novas vagas em junho, segundo o Caged. Embora o Amazonas tenha sido o único que teve saldo negativo em termos de geração de vagas, com corte de 273 empregos, este é um número bem baixo e dá uma certa estabilidade”, minimizou.
Na análise do professor da Fipecafi, o Caged aponta para um processo de recuperação, dado o número cadente de demissões. E, apesar de ter perdido postos de trabalho, ao contrário do ocorrido no mês anterior, o setor não foi mais o foco das demissões do período. Boa notícia para o Amazonas, tendo em vista que seu diferencial econômico ainda é ancorado pela ZFM.
Comércio e serviços, por outro lado, foram os que mais sofreram, dada sua maior exposição aos riscos provocados pela covid-19 e o impacto direto das medidas de distanciamento social e o fechamento em massa de lojas de bens e serviços não essenciais. No atual cenário de reabertura, entretanto, as atividades sinalizariam recuperar protagonismo.
Tradicional motor de contratações no mercado de trabalho, a construção civil foi destaque em ambas pesquisas. Foi o único dos cinco setores econômicos listados pelo Caged a não fechar no vermelho no Amazonas, entre maio e junho (+401 vagas), embora o saldo do semestre se mantenha negativo. Com metodologia diferente, a Pnad Covid19 aponta alta de 9,37% na ocupação do setor, que teria passado a empregar 70 mil trabalhadores.
Indagado se esse crescimento poderia se espraiar para os demais e alavancar a economia amazonense nos próximos meses, ou se a insegurança e as incertezas poderiam falar mais alto na hora contratar, Samuel Durso lembrou que, apesar de empregar muito, o setor depende excessivamente de demanda e investimentos, além de sofrer mais rápido os efeitos de um mercado desaquecido.
Desalento e informalidade
Os dados da Pnad Covid19 indicariam que houve um aumento no número de pessoas procurando emprego e não conseguindo, gerando alta na população desocupada. O especialista destaca, contudo, que a quantidade de trabalhadores ocupados também subiu no período, ao mesmo tempo em que grupo de desalentados sofreu baixas.
O cenário mais provável para justificar esse quadro, de acordo com o professor da Fipecafi, sinalizam um número elevado de amazonenses perdendo o benefício do seguro-desemprego, ou alguma outra espécie de ajuda governamental, indo em busca de trabalho. Como resultado, a taxa de desocupação subiu 3 pontos percentuais entre maio e junho, passando de 12% para 15,1%.
“Apesar de o aumento ser um pouco preocupante, os dados não são tão ruins, quando a gente percebe que a taxa de ocupação também teve acréscimo de 17 mil postos de trabalho. E o perfil dos novos empregos tem um número significativo de vagas com carteira assinada, o que dá maior segurança para o trabalhador e para a economia. Ao mesmo tempo, o trabalho informal se manteve estável, o que também é positivo”, ponderou, lembrando que os postos informais normalmente são ocupados por pessoas de baixa renda e menor nível de instrução, sendo mais vulneráveis no contexto da pandemia.
Um dado que chama a atenção, segundo Samuel Durso, é o crescimento do trabalhador familiar auxiliar, em junho. De acordo com o IBGE, essa pessoa trabalhava pelo menos uma hora na semana, sem receber pagamento, em ajuda a um membro da família ou da casa. “Isso é preocupante pela característica de não ser um trabalho efetivo, ou que permita a pessoa se desenvolver e ter segurança, sendo mais volátil”, frisou.
Auxilio ou depressão
Para perspectivas futuras, o professor da Fipecafi avalia que os dados do IBGE confirmam que o mercado de trabalho amazonense não está mais no período de piora dentro, além de mostrar sinais de estímulo em direção à formalidade. Ele salienta, no entanto, que se trata de uma recuperação em ritmo lento e aquém do necessário. “Mas, é bom a gente lembrar que a Pnad Covid19 ainda está em fase de testes e tem uma metodologia nova”, observou.
O que não impede que o mesmo cenário de retomada em marcha lenta seja confirmado na análise dos dados do Caged. Para o especialista, o comportamento dos números entre abril – auge da pandemia – e junho indica “pequena recuperação”. O economista salienta a necessidade de manter políticas de auxílio para incentivar as empresas a segurar postos de trabalho e evitar que a economia entre em depressão com uma derrocada nos empregos.
“Tudo vai depender da forma como o governo vai proceder e das questões de saúde, dada a possibilidade de uma segunda onda. O cenário aponta para melhoria, mas a gente ainda precisa ter bastante cautela. Tudo pode piorar, caso as políticas governamentais sejam interrompidas de uma única vez. Mas, isso não deve acontecer e de alguma forma, elas devem ser prorrogadas, tendo em vista que as melhorias percebidas não indicam 100% de recuperação. O governo deve estar atento a isso”, encerrou.