24 de novembro de 2024

Amazonas apresenta leve recuperação nos empregos

Especialista vê melhora gradual no mercado de trabalho do Amazonas após auge da crise da pandemia
Amazonas apresenta leve recuperação nos empregos

De forma gradual, o Amazonas vem apresentando recuperação de empregos de abril para cá e deve manter o ritmo ascendente – e lento – nos próximos meses, mantidas as atuais condições econômicas, políticas e sanitárias. O mesmo não pode ser dito na hipótese de uma retirada prematura das políticas anticíclicas de cena, antes que a economia do país possa voltar a andar com as próprias pernas.   

Em linhas gerais, este é o diagnóstico do economista, doutor em Controladoria e Contabilidade, e professor da Faculdade Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), Samuel de Oliveira Durso. Para amparar suas projeções, levou em conta os dados mais recentes do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) e da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar) Covid19, do IBGE – ambos referentes a junho.

“Percebemos que a região Norte foi umas da que apresentou o resultado mais positivo, com saldo de 6.000 novas vagas em junho, segundo o Caged. Embora o Amazonas tenha sido o único que teve saldo negativo em termos de geração de vagas, com corte de 273 empregos, este é um número bem baixo e dá uma certa estabilidade”, minimizou. 

Na análise do professor da Fipecafi, o Caged aponta para um processo de recuperação, dado o número cadente de demissões. E, apesar de ter perdido postos de trabalho, ao contrário do ocorrido no mês anterior, o setor não foi mais o foco das demissões do período. Boa notícia para o Amazonas, tendo em vista que seu diferencial econômico ainda é ancorado pela ZFM. 

Comércio e serviços, por outro lado, foram os que mais sofreram, dada sua maior exposição aos riscos provocados pela covid-19 e o impacto direto das medidas de distanciamento social e o fechamento em massa de lojas de bens e serviços não essenciais. No atual cenário de reabertura, entretanto, as atividades sinalizariam recuperar protagonismo.

Tradicional motor de contratações no mercado de trabalho, a construção civil foi destaque em ambas pesquisas. Foi o único dos cinco setores econômicos listados pelo Caged a não fechar no vermelho no Amazonas, entre maio e junho (+401 vagas), embora o saldo do semestre se mantenha negativo. Com metodologia diferente, a Pnad Covid19 aponta alta de 9,37% na ocupação do setor, que teria passado a empregar 70 mil trabalhadores. 

Indagado se esse crescimento poderia se espraiar para os demais e alavancar a economia amazonense nos próximos meses, ou se a insegurança e as incertezas poderiam falar mais alto na hora contratar, Samuel Durso lembrou que, apesar de empregar muito, o setor depende excessivamente de demanda e investimentos, além de sofrer mais rápido os efeitos de um mercado desaquecido. 

Desalento e informalidade

Os dados da Pnad Covid19 indicariam que houve um aumento no número de pessoas procurando emprego e não conseguindo, gerando alta na população desocupada. O especialista destaca, contudo, que a quantidade de trabalhadores ocupados também subiu no período, ao mesmo tempo em que grupo de desalentados sofreu baixas.

O cenário mais provável para justificar esse quadro, de acordo com o professor da Fipecafi, sinalizam um número elevado de amazonenses perdendo o benefício do seguro-desemprego, ou alguma outra espécie de ajuda governamental, indo em busca de trabalho. Como resultado, a taxa de desocupação subiu 3 pontos percentuais entre maio e junho, passando de 12% para 15,1%. 

“Apesar de o aumento ser um pouco preocupante, os dados não são tão ruins, quando a gente percebe que a taxa de ocupação também teve acréscimo de 17 mil postos de trabalho. E o perfil dos novos empregos tem um número significativo de vagas com carteira assinada, o que dá maior segurança para o trabalhador e para a economia. Ao mesmo tempo, o trabalho informal se manteve estável, o que também é positivo”, ponderou, lembrando que os postos informais normalmente são ocupados por pessoas de baixa renda e menor nível de instrução, sendo mais vulneráveis no contexto da pandemia.

Um dado que chama a atenção, segundo Samuel Durso, é o crescimento do trabalhador familiar auxiliar, em junho. De acordo com o IBGE, essa pessoa trabalhava pelo menos uma hora na semana, sem receber pagamento, em ajuda a um membro da família ou da casa. “Isso é preocupante pela característica de não ser um trabalho efetivo, ou que permita a pessoa se desenvolver e ter segurança, sendo mais volátil”, frisou.

Auxilio ou depressão

Para perspectivas futuras, o professor da Fipecafi avalia que os dados do IBGE confirmam que o mercado de trabalho amazonense não está mais no período de piora dentro, além de mostrar sinais de estímulo em direção à formalidade. Ele salienta, no entanto, que se trata de uma recuperação em ritmo lento e aquém do necessário. “Mas, é bom a gente lembrar que a Pnad Covid19 ainda está em fase de testes e tem uma metodologia nova”, observou. 

O que não impede que o mesmo cenário de retomada em marcha lenta seja confirmado na análise dos dados do Caged. Para o especialista, o comportamento dos números entre abril – auge da pandemia – e junho indica “pequena recuperação”. O economista salienta a necessidade de manter políticas de auxílio para incentivar as empresas a segurar postos de trabalho e evitar que a economia entre em depressão com uma derrocada nos empregos. 

“Tudo vai depender da forma como o governo vai proceder e das questões de saúde, dada a possibilidade de uma segunda onda. O cenário aponta para melhoria, mas a gente ainda precisa ter bastante cautela. Tudo pode piorar, caso as políticas governamentais sejam interrompidas de uma única vez. Mas, isso não deve acontecer e de alguma forma, elas devem ser prorrogadas, tendo em vista que as melhorias percebidas não indicam 100% de recuperação. O governo deve estar atento a isso”, encerrou. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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