18 de outubro de 2024

Valores da nova sociedade pós-pandemia

Pode-se dizer que por causa dessa pandemia estamos vivendo numa época em que a excessiva individualidade favoreceu o egoísmo e enfraqueceu as relações que deveriam ser profundas. Pesquisas apontam que houve aumento do número de casos de violência doméstica, feminicídio, separação. Sob todo os pontos de vista, às relações humanas se intensificaram bastante nesse período, tanto para o bem, quando para o mal.

Por que isso vem acontecendo? Quais são as verdadeiras causas? Será que a constatação de que já morreram mais de 92 mil pessoas por causa do Covid-19 no país tem alguma influência nesse processo? Precisamos aprofundar essa temática, mas particularmente pensamos que sim. Talvez o temor da morte, que todos os homens sentem, seja o principal motivo pelo qual o homem contemporâneo vem desenvolvendo atitudes tão egoístas.

Todos os seres vivemos lutam pela vida. Somente os suicidas, os doentes, os loucos não gostam da vida. Contraditoriamente o medo da morte faz o ser humano lutar pela vida, querer viver. Mas de onde vem o medo da morte? Será que existe uma causa?

Segundo a Teologia, o medo da morte provém não só do horror à extinção, ou da incerteza que o ser humano experimenta ao penetrar em nova dimensão, mas também da consciência de que o homem não tem certeza de sua própria retidão e pode assim estar sujeito à reparação pelos pecados dessa vida.

Qual é o sentido da vida humana: a bondade ou a maldade? Esta inquietação ética gerada no sentimento obscuro de uma relação com um poder superior dá testemunho da dimensão espiritual do homem atual. Ou seja, está comprovado que uma vida boa e feliz só pode ser conseguida por meio da bondade, e que relacionamentos verdadeiros, alegres e serenos só podem ser alcançados quando o ser humano decide ser uma pessoa boa.

Ser egoísta, característica principal do homem contemporâneo, é um processo ultrapassado, que tende sempre ao fracasso, ao sofrimento, a dor, e ninguém gosta de sofrer. Ao contrário, todos nós, seres humanos, somos chamados à felicidade. Todo o nosso ser, tudo o que somos, a nossa vida, o que queremos, fazemos e desejamos, é para sermos felizes. À vida humana não tem outra finalidade: ser feliz é a nossa meta.

Atualmente vemos tantas pessoas sofrendo por tão pouco. Pessoas que tem de tudo: casa, trabalho, dinheiro, fama, poder, mas não tem o mínimo de felicidade, de paz interior. Quando isso acontece certamente é porque essa pessoa não sabe sair de si, é egoísta por natureza, só pensa em si, ou porque acha que o mundo gira em torno do seu umbigo.

Somos da opinião de que somente os seres humanos evoluídos, aqueles que amam o que fazem, o que são, o que tem, se pobres ou ricos, se importam com o seu semelhante. Amar o próximo significa despertar algo positivo na evolução do ser humano, de suscitar um desafio que impulsione uma reflexão diferente, que motive uma mudança de postura e no agir, que ocasione, portanto, certo progresso, quem sabe uma convenção.

Por fim, ter boas maneiras, ser cavaleiro, deixar o outro passar, não furar fila, etc., são valores que precisamos desenterrar de nós mesmo que parecem que foram enterrados há muito tempo, mas que eles estão aí, é só acionar o lado bom do ser humano, sentimentos que não sabíamos que existiam mais, anseios e medos profundos que nunca escutamos, gestos que demonstram que você não é uma pessoa egoísta, enfim, valores que precisamos ter nessa nova sociedade pós-pandemia.

Luís Lemos

É filósofo, professor universitário e escritor, autor, entre outras obras, de "Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente", Editora Viseu, 2021.

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