Começou mais um Novembro Azul, movimento mundial que visa alertar os homens sobre a importância do diagnóstico precoce para a prevenção de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, mas principalmente o câncer de próstata. Neste caso existe até o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata, 17 de novembro. Para informar mais sobre o assunto, o Jornal do Commercio entrevistou o Dr. Giuseppe Figliuolo, membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia, especialista em Uro-oncologia no Inca (Instituto Nacional do Câncer), doutor em Saúde Coletiva e professor de Urologia da UEA.
Jornal do Commercio: Desde 2008 acontece o Novembro Azul no Brasil. Nesses 12 anos o Sr. tem notado o aumento do interesse dos homens em realizar o exame de próstata?
Giuseppe Figliuolo: Na minha experiência pessoal como médico urologista há 20 anos, ainda não consigo perceber uma ‘mudança significativa’ na postura dos homens quanto à necessidade de realizar o exame da próstata. Os indicadores de incidência do câncer de próstata segundo os dados do Inca permanecem altos e em crescimento, estimando-se para o Brasil mais de 65.800 casos novos e ao redor de 500 novos casos no Amazonas. Trata-se da neoplasia maligna mais prevalente. No entanto, isto deve-se também ao aumento da expectativa de vida dos homens, atualmente acima de 72 anos para homens e 79 anos para mulheres; e a melhora nos exames diagnósticos com os avanços da medicina.
JC: De cada dez homens o Sr. diria que quantos têm consciência da importância do toque retal e quantos continuam relutando?
GF: Alguns estudos publicados no Brasil evidenciam que ao menos 40% dos homens informam não consultar o médico regularmente, portanto, no mínimo 04 de cada 10 têm relutância em cuidar da saúde e de realizar o exame de toque retal também.
JC: No slogan desse ano é preciso chamar o homem de ‘herói’ para ele, como uma criança, ter coragem de fazer o exame. E é um exame indolor e rápido, não é isso?
GF: ‘Seja herói da sua saúde’ é um slogan bastante interessante desenvolvido pela Sociedade Brasileira de Urologia para despertar a atenção da população masculina. Devemos também destacar o papel importantíssimo das mulheres na orientação e conscientização dos seus avós, pais, maridos, irmãos, namorados e amigos. Costumo dizer que o toque retal é um exame simples, barato, rápido, eficiente, que não tira a masculinidade de ninguém e pode salvar vidas.
JC: Desde quando o Sr. começou a realizar esses exames, já houve algum avanço tecnológico que possa tornar desnecessário o tão temido dedo do médico?
GF: Existem muitos avanços diagnósticos especificamente relacionados à próstata, dentre eles podemos destacar o exame de sangue PSA (Antígeno Prostático Específico), que a partir da década de 1990 vem sendo largamente utilizado para o diagnóstico e acompanhamento pós tratamento do câncer de próstata, a ultra-sonografia transretal de próstata que permite a realização de biópsias em áreas suspeitas, mais recentemente a ressonância nuclear magnética com estudo multiparamétrico da próstata, entre outros. No entanto, no meu ponto de vista profissional, é difícil substituir completamente, como afirmei anteriormente, um exame simples, barato, rápido, eficiente, que não tira a masculinidade de ninguém e pode salvar vidas, como é o exame de toque retal. O que precisamos de fato é desmistificar e acabar com esse preconceito.
JC: O primeiro passo, então, é fazer o teste de PSA e só se der algum problema, fazer o toque retal?
GF: Não. Nenhum dos dois exames é 100% seguro, tanto o PSA quanto o toque retal podem falhar. Em torno de 10% dos homens têm câncer de próstata e pode apresentar PSA normal. A recomendação é que seja realizado o exame digital retal e a dosagem do PSA para homens a partir de 50 anos e para aqueles que têm algum antecedente de câncer de próstata na família, a partir de 45 anos.
JC: Por que só o homem tem próstata e por que ela pode vir a ter câncer na quase totalidade dos homens?
GF: A próstata é uma glândula do aparelho reprodutor sexual masculino que tem função de produzir uma parte do sêmen. Fica localizada abaixo da bexiga, é atravessada pelo canal da uretra e anteriormente ao reto. Com o envelhecimento, pode aumentar de volume (hiperplasia prostática benigna) e desenvolver tumores malignos como o câncer. Quanto maior a idade, maior também o risco de ter problemas relacionados à próstata, inclusive câncer, porém não é verdade que todos irão ter câncer. A chave do sucesso nesse caso é ter hábitos de vida saudáveis, fazer os exames de rotina e caso seja diagnosticado o câncer em fase inicial (assintomático) realizar o tratamento adequado que oferece acima de 90% de cura.
JC: Existem homens que nunca vão ter problemas com a próstata?
GF: Existem sim homens que nunca terão problemas na próstata, mas isso depende de uma enorme variedade de fatores, desde hábitos de vida, até fatores genéticos. No caso dos estudos genéticos, ainda são muito caros e pouco disponíveis, mas já é possível através deles detectar tumores de maior ou menor agressividade, e até mesmo prever quem tem maior chance de desenvolver a doença. A ciência tem evoluído rapidamente em todos os campos, desde a prevenção até o tratamento, como podemos citar o exemplo real e já disponível da cirurgia robótica. A nossa tarefa é educar, conscientizar e sempre nos manter atualizados e vigilantes quando o assunto é saúde.