22 de dezembro de 2024

Campanha da fraternidade

Há muitos anos a Igreja Católica vem provocando reflexões profundas no tempo de quaresma com a Campanha da Fraternidade. Consciente do seu papel de “maior Igreja do Brasil” tem optado sempre mais por temas sociais, com forte conotação religiosa, como não poderia deixar de ser. Muitos dos que se dizem católicos não seguem os dogmas, nem as orientações da sede da sua Igreja. Talvez nem conheçam porque a quaresma é um período especial. A Igreja Católica Apostólica Romana é a mais velha crença viva do cristianismo. Entre aqueles que pouco se preocupam com o seguimento de dogmas se encontram os que cumprem os sacramentos mais por tradição que por fé. Assim a grande maioria dos casais ainda batiza seus filhos como uma espécie de vacina e, com isso mantém o “ranking” da ICAR.

Contudo, o tema “Fraternidade e Diálogo, Compromisso com o Amor” se mostra profundo para quem se dedica a refletir sobre ele. Em primeiro lugar, Fraternidade pretende ser sinônimo de harmonia e Diálogo remete a conceder a todos o seu direito de manifestar seu parecer. O tema vem em boa hora, isto é, no momento que se rotula as pessoas de esquerda ou de direita, de comunista ou capitalista. O objetivo final é sempre é colocar em pauta a riqueza e a pobreza. 

Há muitas décadas a Igreja insiste em sua opção pelos pobres. Ela própria ostenta uma riqueza invejável disfarçada em comportamento humilde e a vivência espartana de alguns dos seus sacerdotes e fiéis. O próprio inspirador da Igreja, Jesus, levava uma vida que só cobria as necessidades básicas. Quando, no entanto, lhe banharam os pés com perfumes caros e alguém sugeriu que isso era uma extravagância, que deveriam vender o perfume e distribuir o dinheiro as pobres, respondeu: “Ora, pobres sempre os tereis…” A intrigante resposta pode ser entendida como: ”Não é um frasco de perfume que vai acabar com a pobreza”, ou então uma profecia que perdura até os dias de hoje seria; “Por mais que faças pelos pobres, eles vão continuar a existir”. Ou então que todos têm direito a momentos extravagantes. Não é crível que a resposta era dirigida apenas ao discípulo.

O complemento da campanha “compromisso com o amor” não se refere ao amor filial, nem ao amor carnal apenas. Embora o amor de um casal possa ser usado como exemplo. No início do namoro tudo é tolerado e perdoado porque existe amor. Quando este deixa de existir, pequenas falhas se transformam em grandes defeitos. O amor em seu estado puro, jamais se deteriora. A maneira preconceituosa de ver o próximo interrompe o diálogo e impossibilita o entendimento. Querer o melhor para o outros, sem o objetivo de troca, com total desapego  é a chave para qualquer convivência harmoniosa. A máxima “Urbe et Orbis” é para se fazer presente. O mundo só é maior que a casa no tamanho. Existindo o amor individual, este contagia o coletivo. Até mesmo o “compromisso” passa  a ser prazeroso. 

Sempre existe a intenção utópica de ressaltar o amor ágape. Se a campanha conseguir frear o egoísmo, a ambição exacerbada, o sucesso a qualquer preço já pode se considerar bem sucedida. O individualismo, a competição são virtudes que não podem ser confundidas com defeitos, sob o risco de anular os projetos pessoais do homem e formar uma legião de frustrados. 

Em todos os casos, é uma campanha diferente de outras. Não dá a entender que ser pobre seja ser virtuoso nem ser rico ser pecaminoso. É uma campanha de cunho social.

Luiz Lauschner

é empresário

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