21 de dezembro de 2024

Mudaremos?

Muito se comenta acerca da possível mudança de comportamento das pessoas após o fim da pandemia. Muitos acreditam que sairemos dessa situação bem melhores e evoluídos, até porque a humanidade não pode deixar tanto sofrimento acontecer sem tirar algo positivo de ensinamento. 

Mas não é bem isso que parcela da população nos deixa pensar. Com mais de 330 mil vidas perdidas e com a pandemia avançando cruelmente sobre o Brasil, percebemos desacertos e falhas graves não só por parte dos governantes, mas também por parte dos governados.  

Percebe-se que já temos informações suficientes sobre como evitar a propagação do vírus, mas tem muita gente abusando e aí entram outras questões em jogo: a falta de compromisso coletivo, as teimosias, o individualismo, a falta de responsabilidade e a grosseira e nada inteligente mistura entre ciência e política. 

Aliado a isso muita gente costuma questionar sobre como fica o nosso direito de ir e vir, em momentos cruciais da nossa história, quando a mídia nos mostra fartamente péssimos exemplos de aglomerações irresponsáveis e criminosas, como as tais festas clandestinas em todo o Brasil, onde ricos e pobres, independente da classe social, se esforçam para mostrar quem faz pior. 

Depois de tantos abusos e hospitais lotados, faltam leitos e sobram sofrimentos. Aí os mesmos abusadores (e infelizmente muitos inocentes) correm desesperados, acusando a quem está no poder nas três esferas. Ora! Espera-se pelo menos que os culpados assumam os seus erros e suas responsabilidades, ou irresponsabilidades. 

Claro que daqui pra trás os governantes deixaram muito a desejar e parte da culpa também recai sobre os eleitores e suas péssimas escolhas. Hoje, tardiamente para muitos, se questiona o porquê da realização de Copa do Mundo e Olimpíadas no Brasil, quando em vez de estádios poderíamos ter construído e equipado escolas e hospitais. 

Quando se fala em Amazonas, por exemplo, não dá pra se admitir que, por tanto tempo, dos 62 municípios somente a capital possuísse UTIs e que os nossos irmãos do interior morressem sofrendo calados por falta de condição mínima de atendimento médico. Ah, mas continuam a eleger e reeleger os mesmos políticos. Isso nos orgulha enquanto eleitores? 

Por aqui já tinha até gente feliz quando viu o Amazonas no topo da vacinação, torcendo como se fosse uma competição. Ora! O Amazonas conseguiu ser notícia internacional e chocou o Mundo com o lamentável e criminoso episódio da falta de oxigênio, coisa que merece profunda investigação, apuração e punição. Manaus simplesmente chegou a ser a pior cidade do Mundo na segunda onda. Do que se orgulhar? 

Percebemos que muitos erros cometidos na primeira onda se repetiram na segunda e agora o fantasma da terceira nos ameaça com muita força, tal como ocorre na Europa. Ou seja, não aprendemos. Apenas ajustamos algumas ações, mas a correção de rumos parece estar distante. Resultado: muitas perdas de vidas, de patrimônios, de qualidade de vida, com o empobrecimento batendo nas portas, mas com a mesma teimosia acerca da relação vidas/economia, mesmo sabendo que é preferível termos pessoas vivas do que se expondo e morrendo. 

Augusto Bernardo

é auditor fiscal de tributos estaduais da Secretaria de Estado da Fazenda do Amazonas e educador. Foi um dos fundadores do Programa Nacional de Educação Tributária (atualmente nomeado de Educação Fiscal).

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