Os juros dos financiamentos bancários escalaram pelo quinto mês consecutivo, em abril. Dados divulgados pela Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) apontam que o dinheiro voltou a ficar mais caro paras as pessoas físicas principalmente nas operações de CDC para financiamentos de veículos, cartão de crédito e empréstimo pessoal nos bancos. Para as pessoas jurídicas, o peso foi mais sentido no crédito para capital de giro e desconto de duplicatas.
As estatísticas mais recentes do Banco Central, por outro lado, apontam que o novo reajuste foi precedido por uma nova estabilização nas taxas de inadimplência nas operações de crédito do SFN (Sistema Financeiro Nacional), no mês anterior, tanto para pessoas físicas, quanto para jurídicas. Em paralelo, o volume de concessões de empréstimos em todo o país aumentou para as empresas e para os consumidores – depois da virtual estagnação de fevereiro.
De acordo com a Anefac, o acréscimo no custo de dinheiro voltou a pesar mais sobre as pessoas jurídicas, que amargaram reforço de 1,66% no custo do dinheiro, reposicionando a taxa do empréstimo de 3,02% para 3,07% mensais – o patamar mais elevado desde abril de 2020. Para as pessoas físicas o incremento foi de 1,05%, passando de 5,74% (março) para 5,80% (fevereiro) ao mês – o maior valor desde dezembro de 2019. As respectivas taxas anuais ficaram em 43,74% e 96,71%.
A linha de crédito com maior aumento mensal para as pessoas físicas foi o CDC para financiamentos de automóveis (+2,82%), que passou de 1,42% para 1,46%. Foi seguida de longe pelo cartão de crédito (+1,56%) e pelo empréstimo pessoal nos bancos (+0,92%) e nas financeiras (+0,79%) – que se situaram em 11,72%, 3,27% e 6,30% ao mês, respectivamente. As menores correções da lista (+0,64% e +0,56%, na ordem) ficaram nos juros cobrados pelo comércio (4,70%) e no cheque especial (7,20%).
Do lado das pessoas jurídicas, o maior reajuste ocorrido entre março (1,11%) e abril (1,15%) se deu no crédito para capital de giro, que ficou 3,60% mais caro. O financiamento para desconto de duplicatas ficou em segundo lugar com taxa mensal de 1,28% e incremento de 1,56% ante o mês anterior. Embora tenha registrado o menor acréscimo (+0,10%), a conta garantida também segue como a modalidade mais onerosa (6,76%) para esse tipo de público.
Inflação e inadimplência
O BC ainda não divulgou os dados de abril, mas a inadimplência nas operações de crédito com recursos livres em todo o país teve estabilidade com viés de queda, no mês anterior. Para as pessoas físicas, ela praticamente não se moveu na variação mensal (2,97%) e desabou ante a marca de março de 2020 (3,95%). Para as pessoas jurídicas, ela recuou entre o segundo (1,35%) e o terceiro (1,20%) mês de 2021, ficando ainda mais aquém do patamar de 12 meses atrás (2,16%).
O mesmo BC indica que o saldo brasileiro das operações de crédito do SFN para as pessoas físicas de abril (R$ 172,367 bilhões) foi 12,08% maior do que o de fevereiro de 2021 (R$ 153,793 bilhões) e 12,15% superior ao de março de 2020 (R$ 153,698 bilhões). Para as jurídicas (R$ 193,614 bilhões) cresceu 46,97% ante o mês anterior (R$ 131,734 milhões), mas caiu 10,48% em relação ao ano passado (R$ 216,275 milhões).
Em material divulgado pela assessoria de imprensa da Anefac, o vice-presidente de estudos e pesquisas da entidade, Miguel José Ribeiro de Oliveira, atribuiu as novas elevações das taxas no crédito bancário ao aumento dos juros futuros no mercado financeiro e às expectativas de mais aumentos da Selic frente ao comportamento da inflação. Pressionado pelos reajustes de produtos farmacêuticos, o IPCA de abril subiu 0,31% – embora já tenha desacelerado em relação a março (+0,93%).
Outros fatores citados são a elevação da alíquota de CSLL (Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido) para instituições financeiras e a inadimplência – favorecida pelo fim das carências nos empréstimos, “desemprego elevado”, hiato no pagamento de auxílios emergenciais, aumento da inflação e maior seletividade dos bancos. Diante do maior risco ao crédito, Oliveira avalia que, tendo em vista o derretimento do cenário econômico, a tendência dos próximos meses é que as taxas de juros devem prosseguir e trajetória de expansão.
“Fim do túnel”
O conselheiro do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), Francisco de Assis Mourão Junior, concorda que, diante do aumento da inadimplência, da inflação e das incertezas decorrentes da pandemia, tudo converge para que os juros bancários sigam em trajetória ascendente, a despeito da baixa atividade econômica em meio à segunda onda.
“A tendência dos juros é subir nos bancos e financeiras, pela questão do retorno desse capital. Esses números vão continuar elevados, até porque o próprio Banco Central já vem, há poucos meses, com uma política de novos aumentos da taxa Selic, no âmbito do Copom (Comitê de Política Monetária), para reduzir a inflação. Então, tudo indica que devemos ter juros altos até o fim deste ano e, provavelmente, um começo de 2022 com a mesma política”, ponderou.
Indagado a respeito dos efeitos do aumento do custo do dinheiro sobre a atividade econômica, e os prognósticos para esta nos próximos meses, o economista sugere que ainda há espaço para micropolíticas para gerenciamento da crise, mas ressalta que a retomada do ritmo de imunização da população brasileira segue sendo a principal variável decisiva para nortear a retomada do crescimento da economia nacional.
“Temos aí a questão da abertura de linhas de crédito para fomentar o crescimento, neste momento de acirramento da pandemia, quando os empresários estão sem capital de giro. Mas, não vejo melhoras ainda, pelo fato da demora da vacinação. Não temos certeza de como isso vai ficar e este ano está praticamente perdido. Vejo luz no fim do túnel só a partir do ano que vem. Mas, só se conseguirmos vacinar 60% a 70% da população, até dezembro”, concluiu.
Foto/Destaque: Divulgação