24 de novembro de 2024

Artistas paraenses criam o ‘Tarô Amazônida’

Onze artistas plásticas paraenses se reuniram e criaram o Tarô Amazônida, uma forma de empoderar as mulheres

Você pode até nunca ter jogado, mas já ouviu falar do tarô, baralho com 78 cartas, mais compridas do que o baralho normal, possuindo 56 cartas, os Arcanos Menores, mais 22 outras, os Arcanos Maiores, com figuras diferentes. Criado na Itália, no século 14, como o jogo tem um quê de previsão e adivinhação, rapidamente ganhou popularidade sofrendo releituras em todo o mundo, como o Tarô de Marselha, o Tarô Egípcio e agora o Tarô Amazônida, criado em Belém.

“No Tarô Amazônida, buscamos recriar os personagens com a cara das mulheres da Amazônia, com sua diversidade étnica, valorizando nossos corpos, nossas cores e nossas culturas. Por isso, o Tarô Amazônida possui os mesmos 22 arcanos de um deck tradicional de tarô, com o diferencial de ser uma releitura criativa, inovadora e inédita, feita por mulheres amazônidas com traços e referências locais”, explicou Renata Segtowick, designer gráfica e uma das artistas que ilustrou as cartas.

Renata Segtowick, “buscamos valorizar nossos corpos, nossas cores e nossas culturas” Foto: Divulgação

O tarô é um jogo de cartas cuja leitura ajuda a interpretar situações e mesmo criar um panorama da vida de quem o consulta. As cartas permitem, em quem nelas acredita, uma profunda conexão espiritual com os nossos ancestrais e guardiões

“Então, fazer essa ponte com os seres encantados e com as culturas amazônicas, além de ser um processo de busca pela nossa ancestralidade, também reforça a necessidade de termos mais conteúdo produzido por artistas que vivenciam esse local e cultura”, completou Ty Silva.

Ty Silva, “é um processo de busca pela nossa ancestralidade” Foto: Divulgação

Revisando o tarô tradicional de forma criativa e inovadora, as artistas paraenses esperam que sua arte abra portas para discussão de vários temas como feminismo, descolonização e valorização de mulheres da Amazônia. Através de pesquisa, produção de ilustrações e da exposição no site do coletivo, seguido de debate, este material é mais um elemento de empoderamento e reflexão sobre várias questões do corpo feminino.

As ilustrações criadas pelas artistas formam os Arcanos Maiores Foto: Divulgação

Onze mulheres, 22 ilustrações

O Tarô Amazônida foi criado a partir de um projeto de Renata Segtowick, Ty Silva, Moara Brasil e Mandie Gil, e viabilizado por meio do MAR (Mulheres ARtistas Pará), projeto de conexão feminina artística, contemplado no edital Moda e Design, do Instituto Ágata, Secretaria de Estado de Cultura do Pará, através da Lei Aldir Blanc.

Participaram do projeto onze mulheres artistas plásticas. Além de Renata, Ty, Moara e Mandie, completam o time Helô Rodrigues, Mandy Barros, Beatriz Amaral, Duana Aquino, Emilly Rodrigues, Mama Quilla e Thay Petit. As quatro idealizadoras buscaram dentro do coletivo MAR artistas interessadas e, posteriormente, sortearam os arcanos entre elas para que cada uma ilustrasse dois.

As 22 ilustrações criadas pelas artistas formam os 22 Arcanos Maiores do tarô tradicional: Louca, Maga, Sacerdotisa, Imperatriz, Imperador, Eremita, Hierofante, Enamorados, Carro, Força, Roda da Fortuna, Justiça, Dependurado, Morte, Temperança, Sol, Diabo, Torre, Estrela, Lua, Julgamento e Mundo.

Todas as ilustrações são de personagens femininos ou sem gênero definido e o objetivo, repassado para as artistas, foi o de apresentar as figuras com referências locais.

Parceria com outros grupos

O MAR (Mulheres ARtistas Pará) é um projeto de conexão feminina que foi criado e organizado para dar visibilidade e divulgar o trabalho das artistas plásticas, grafiteiras, ilustradoras, game designers, profissionais de animação, profissionais de lettering, tatuadoras e quadrinistas da Amazônia paraense. Hoje, o coletivo conta com mais de 100 inscritas.

“No momento o MAR está aceitando somente mulheres (cis e trans) paraenses, até por conta da dificuldade de gerir um grupo que já é grande, mas quem sabe num futuro próximo a gente consiga agregar mulheres de outros estados amazônicos? Mas já fazemos parcerias com outros grupos de mulheres de outras áreas, de outros estados, em projetos e eventos”, acrescentou Renata.

As vendas do tarô, via financiamento coletivo e dos produtos inspirados no baralho, servirão de fonte de renda para a equipe, que vive exclusivamente de sua arte e foi duramente atingidas pela crise resultante da pandemia da covid-19, além de reverter 15% do lucro para comunidades indígenas paraenses. O projeto possibilitará que as artistas continuem criando.

O Tarô Amazônida pode ser adquirido através do: https://www.kickante.com.br/campanhas/taro-amazonida.

Também foram disponibilizados em pré-venda camisetas, canecas e sacolas ecológicas com estampas relacionadas ao projeto na loja virtual do MAR: https://mulheresartistaspa.com.br/.

Quem quiser também pode acompanhar o grupo no Instagram: @mulheres.artistas.pa.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio

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