18 de outubro de 2024

Como proteger e se desenvolver com as Florestas: P1

Precisamos de sensibilidade e sabedoria para mostrar ao mundo que somos capazes de proteger e de se desenvolver com as nossas florestas.

O primeiro grande passo é ter sensibilidade para querer mudar, o que se justifica pelos fatos descritos abaixo:

Há décadas os cientistas estão alertando sobre a necessidade da humanidade mudar progressivamente seu estilo de vida e suas matrizes energéticas, passando a cuidar melhor dos ecossistemas do planeta e a adotar uma agenda voltada para a migração do uso de energias renováveis. E cada vez mais eles se mostram certos, uma vez que a mãe Terra tem dado sinais claros de que não está mais conseguindo regenerar seus ecossistemas e equilibrar seu clima. 

Então, elenco alguns eventos recentes com potencial de ganhar escalabilidade em um planeta que pode deixar de ser aliado para se tornar muito hostil para a humanidade nas próximas décadas:

a) Ocorrências de mais pandemias mortais e em menor tempo

A história mostra que a humanidade já enfrentou pelo menos 20 pandemias mortais <https://bit.ly/3p02hwn>, sendo que entre 2000 e 2020, em vinte anos, registramos mais pandemias ao redor do planeta do que em períodos anteriores. Nos últimos 20 anos enfrentamos pandemias mortais como a SARS Covid 1 (2002/2003), Gripe Suína/H1N1 (2009/2010), a MERS (2012 até o presente), o Ébola (2014/2016) e agora a SARS Covid2 (2019 até o presente);

b) Ocorrências de mais inundações e em menor tempo

Inundações catastróficas estão acontecendo agora na Europa Ocidental. Até segunda (19) 196 casos fatais foram oficialmente contabilizados por lá, com centenas de desaparecidos. Para se ter ideia, a Alemanha foi o país mais afetado, com 165 mortos e 1,3 mil desaparecidos apenas em uma parte do sul de uma de suas maiores cidades, a Colônia. Além das inundações, há registro também de um enorme deslizamento de terra na cidade de Erftstadt na última sexta (16) como resultado de fortes chuvas que assolaram não somente a Alemanha, como também partes da Bélgica, Luxemburgo e Holanda, sendo que este último país tem se mostrado mais preparado para enfrentar tais problemas hídricos <https://bit.ly/3hTHoBa>. 

Enquanto isso, lá no Japão, no início de Jul/21, chuvas torrenciais provocaram “tsunamis” de lama, com avalanches de terra na cidade de Atami <https://bit.ly/2TjEWu0> que destruiram pelo menos 130 edifícios. De acordo com um relatório Japonês, na última década foram registrados cerca de 1500 avalanches no Japão, um crescimento de 50% quando comparado com os 10 anos anteriores <https://nadare.jp/>. 

Aqui na nossa casa também presenciamos a maior cheia do Rio Amazonas desde o início do registro, em 1902. Ao checar os números junto à CPRM verificamos que as três maiores cheias ocorreram em 2021 (30,02m), 2012 (29,97m) e 2009 (29,77m), ou seja, estão acontecendo em menos tempo e em maior intensidade, sendo que neste artigo científico <https://bit.ly/3zua8H9> o leitor entende como os eventos envolvendo nosso Rio estão ficando mais extremos, bastando lembrar que a cheia deste ano consumiu 230 dias e afetou mais de 29 mil pessoas, inundou casas, comércios, pontos turísticos, atingindo em Manaus, empresários e moradores de pelo menos 15 bairros.

Neste relatório do IPCC <https://bit.ly/3vJBxC7> o leitor se aprofunda sobre o aumento do nível do mar e suas implicações para o homem, especialmente os que habitam em cidades costeiras.

c) megaincêndios, ondas de calor e secas em vários países

No Iraque, 52 o C na sombra em Al Hilla, sul de Bagdá, em 03/07/21, com casos de pais colocando filhos até em geladeira ou para dormir no chão <https://bit.ly/2UkmbHC> com situações alarmantes por conta da queda de energia, ironicamente em um país com muito Petróleo;

No Canadá, na Columbia Britânica, quase 800 pessoas morreram entre 26/06 e 01/07/21, 500 a mais que o normal desse período. Foram mais de 240 incêndios florestais registrados nessa região somente em uma semana. Na região de Vancouver o calor chegou a 49,5 o C e pelo menos 134 pessoas morreram repentinamente entre 26 e 30 de junho de 2021 <https://bit.ly/2TknyFt>;

Nos EUA <https://bit.ly/3rm9dVR> cerca de 92 milhões de americanos e 76 milhões de acres de plantios estão sendo afetados <https://glo.bo/3kyQmoY> com a seca;

Na Índia <https://bit.ly/3iszhdz> em média há temperaturas sete graus acima do normal para esta época do ano (início de julho/21).

Em relação aos megaincêndios florestais, friso os acontecidos na Austrália, entre 2019 e meados de 2020. Uma parceria feita entre a WWF <https://bit.ly/3eAzz10 e https://bit.ly/3ivq9Fn> e cientistas das universidades daquele país, estimou que: a) cerca de 19 milhões de hectares foram queimados; b) 3094 casas foram destruídas com 33 casos fatais; c) cerca de 3 bilhões de animais (2,46 bilhões de répteis, 180 milhões de pássaros, 143 milhões de mamíferos e 51 milhões de sapos) foram mortos ou deslocados. 

E o que dizer dos recordes seguidos de desflorestamento e de queimadas na Amazônia brasileira, especialmente os registrados na atual gestão do governo Bolsonaro? 

Ainda não temos estudos atualizados que apontam estimativas de quantas famílias indígenas foram expulsas de suas terras, de quantas árvores centenárias foram sacrificadas, de quantos animais morreram ou foram deslocados após a destruição de 2,2 milhões de hectares (22000 Km2) queimados na Amazônia brasileira <https://bit.ly/2USoW2C> SOMENTE EM 2020, isso equivale a uma região que supera a área de países inteiros como Gales (21,2 mil Km2), El Salvador (20,7 mil Km2), Israel (20,3 mil Km2), Eslovênia (20,2 mil Km2), etc.

Mas se levarmos em consideração os indicadores descritos neste artigo <https://bbc.in/3ipQNz9> sobre o que podemos encontrar em um hectare de Amazônia, extraído de estimativas compiladas por Jos Barlow, da Universidade de Lancaster e da Rede Amazônia Sustentável, é possível estimar que as queimadas dos 2,2 milhões de hectares na Amazônia brasileira somente em 2020 podem ter matado ou deslocado cerca de: 2,2×1014 indivíduos invertebrados (exemplo insetos) no solo; 682 milhões de árvores; 352 milhões de pássaros; 72,6 milhões de anfíbios; 48,4 milhões de répteis e 22 milhões de primatas.

Se não for possível se sensibilizar com essas informações, especialmente em relação ao tamanho do estrago na Amazônia somente em 2020, convido-o a refletir seriamente sobre fatos ocorridos quando adotamos um período de tempo maior:

Segundo a Coleção 5 do MapBiomas <https://bit.ly/3x0RCE9>, entre 1985 e 2019: 1.1) o Brasil perdeu área de vegetação nativa equivalente a 10% do território nacional, uma redução acumulada de 87,2 milhões de hectares; 1.2) o ritmo da perda de vegetação nativa acelerou no Brasil entre 2018 e 2019; 1.3) mais da metade da perda nativa da vegetação (44 Milhões de hectares) ocorreu na Amazônia; 1.3) de toda a perda da vegetação natural no Brasil, pelo menos 90% foram ocupados pelo uso agropecuário, cuja expansão foi de 78 Milhões de hectares; 

E um estudo quentinho publicado no dia 14/07/21, na renomada Revista Nature <https://go.nature.com/3zdlwpZ> revelou que: a) áreas da Amazônia com mais de 30% de desmatamento geram emissão de carbono dez vezes maior do que regiões com desmatamento inferior a 10%; b) entre 2010 e 2018, a nossa floresta lançou um bilhão de CO2 por ano por conta das queimadas, porém absorveu apenas 18% dessas emissões.

Finalmente, uma vez sensibilizados de que nossa existência nesse planeta poderá estar ameaçada nas próximas décadas, o próximo passo é usarmos da sabedoria científica e organizacional (boas práticas de gestão) para adotarmos um plano de Estado e de longo prazo para se proteger e se desenvolver com as florestas, assunto que será tratado no próximo artigo.

Jonas Gomes

Prof. Dr. Jonas Gomes da Silva - Professor Associado do Dep. de Engenharia de Produção com Pós Doutorado iniciado no ano de 2020 em Inovação pela Escola de Negócios da Universidade de Manchester. E-mail: [email protected].

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