21 de dezembro de 2024

A filosofia de Agostinho de Hipona aplicada na atualidade

Atendendo a numerosas mensagens de leitores, alunos e ex-alunos interessados em Filosofia, mas que não têm tempo para ler, e muito menos ainda dinheiro para comprar livros, destaco aqui alguns aspectos das obras “As Confissões”, “A Trindade”, “A Cidade de Deus”, “A Cidade dos Homens” de Agostinho de Hipona e suas contribuições para a sociedade atual.

Tratar-se de uma modesta e desinteressada colaboração para que o leitor possa se aproximar do pensamento filosófico desse grande homem, que além de santo, foi bispo, teólogo e um filósofo de mão cheia na Idade Média. Espero, também, contribuir com todos aqueles e aquelas que acreditam que a filosofia é importante na sociedade atual e que presta um serviço de excelência à coletividade. 

A filosofia de Agostinho de Hipona está marcada, toda ela, pela busca de conexão entre a Filosofia clássica e o Cristianismo. Influenciado por Plotino, Agostinho foi o propagador do neoplatonismo na época medieval. Assim, ao ler os conceitos de “inteligível”, “material”, “sensível”, “imaterial”, por exemplo, Agostinho “cristianiza” Platão, isto é, adaptou as ideias do filósofo grego ao universo cristão.  

Nascido em Tagaste, no ano de 354, no norte da África, Agostinho seguiu inicialmente a seita maniqueísta, que proclamava a existência de uma luta constante entre o princípio do bem e do mal, porém, ao estabelecer contato com Santo Ambrósio, em Milão, abandonou o materialismo e converteu-se à religião cristã, ordenando-se sacerdote e, quatro anos após, sagrou-se Bispo de Hipona, antiga cidade da Numídia, na África, onde veio a falecer no ano de 430 d.C., aos 76 anos de idade. 

Na sua obra “As Confissões”, Agostinho traz a lume questões de fórum íntimo, ou seja, foi o primeiro participante do “big brother” da história da humanidade. Suas ideias de que o homem é um pecador por natureza foram expostas, pela primeira vez, nessa obra. “Quem me poderá lembrar o pecado da infância, já que ninguém está diante de ti limpo de pecado, nem mesmo a criança cuja vida conta um só dia sobre a terra? Quem mo recordará? Acaso alguma criança pequena de hoje, em quem vejo a imagem do que não recordo de mim? E em que eu poderia pecar nesse tempo? Acaso por desejar o peito da nutriz, chorando?” – indaga Agostinho sobre os pecados da primeira infância.

Ao escreve a obra “A Cidade de Deus”, Agostinho “organiza” o céu cristão, tomando como referência o pensamento filosófico de Platão, colocando Deus no topo da hierarquia, seguido dos Anjos, Arcanjos, Querubins e Serafins. Por causa dessas ideias, Agostinho foi muito criticado pelos padres “progressistas” da época, o que “forçou” a escrever o livro “A Cidade dos Homens”, como resposta a esses questionamentos. Nessa obra, Agostinho “organiza” a Igreja Católica, colocando no topo da hierarquia o Papa, seguido dos Cardeais, dos Bispos, dos Padres, e dos Fiéis. Por essas obras, é considerado o padroeiro dos administradores. De forma geral, pode-se dizer que o “organograma”, que encontramos atualmente nas organizações, é um resumo fiel de suas ideias.

Na obra “A Cidade de Deus”, Agostinho descreve a sociedade humana antes do pecado original, afirmando que todos os homens eram iguais, puros, imortais e que viviam como irmãos. E na obra “A Cidade dos Homens”, Agostinho descreve o ser humano descaído no pecado, por isso mesmo vivendo na injustiça, na miséria, na paixão e propenso à morte. Já na obra “A Trindade”, que é considerada sua obra-prima, Agostinho aborda à questão da fé, destacando que à existência humana somente revela seus traços substanciais na medida em que se expõe em sua abertura para o transcendente. “Sem Deus o homem é um nada e Deus sem o homem continua sendo Deus” – dizia ele.

Em todas as obras de Agostinho de Hipona, constata-se à exaltação da tríade: Deus, Amor, Homem. Para ele, entre os mais belos espetáculos que o Criador oferece cotidianamente aos seres humanos, está, sem dúvida, o Amor. “Ama e faz o que quiseres. Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos” – dizia Santo Agostinho.

Por fim, as contribuições da filosofia de Agostinho de Hipona para a sociedade atual apontam para a promessa, a esperança e, mais ainda, para a certeza da vitória daqueles que têm fé. Ou como ele mesmo dizia: “Apenas com a ajuda da graça divina é possível o homem fazer sempre o bem”. Que os meus leitores, os atuais e ex-alunos possam entender que a filosofia de Agostinho contribui com a sociedade atual na prática da ética, da solidariedade, da justiça, do bem, da paz e do amor. 

Luís Lemos

É filósofo, professor universitário e escritor, autor, entre outras obras, de "Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente", Editora Viseu, 2021.

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