24 de novembro de 2024

Juros bancários segue com viés de alta no país em setembro

O jogo de gato e rato entre IPCA e Selic impulsionou uma décima escalada sucessiva nos juros dos financiamentos bancários, em setembro. O crédito para as pessoas físicas voltou a puxar a alta, especialmente nas operações para financiamento de compra de veículos e no cartão de crédito. É o que revelam os dados da mais recente pesquisa mensal da Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade). Diante dos resultados, a entidade reforça previsão de novos aumentos nos próximos meses. 

As estatísticas mais recentes do BC (Banco Central), por outro lado, indicam que o novo reajuste foi precedido por um novo aumento na taxa de inadimplência do consumidor, nas operações de crédito do SFN (Sistema Financeiro Nacional), e, agosto –embora o mesmo não possa ser dito do indicador para as empresas. A mesma base de dados do BC informa ainda que o volume de concessões se manteve ascendente para ambos os públicos, no mesmo período, indicando que, apesar das restrições mais severas, as instituições bancárias não estão represando empréstimos.

De acordo com a Anefac, o acréscimo no custo de dinheiro para as pessoas físicas foi de 1,16% –ou 0,07 ponto percentual –, reposicionando a taxa do empréstimo de 6,06% para 6,13% mensais –o patamar mais elevado desde dezembro de 2019. Para as pessoas jurídicas, o incremento foi de 1,23% –ou 0,04 ponto percentual. Com isso, a taxa passou de 3,25% (agosto) para 3,20% (setembro) ao mês –o maior valor desde setembro de 2019. Com a nova correção, as respectivas taxas anuais ficaram em 104,20% e 44,47%.

A linha de crédito com maior alta mensal para as pessoas físicas foi o CDC (crédito direto ao consumidor) nos bancos para financiamento de automóveis 

 (+1,63%), que passou de 1,58% para 1,62% ao mês. Foi seguida pelo cartão de crédito (+2,08%), que chegou a 12,76% mensais, a maior taxa da lista. Completam a lista das maiores altas o empréstimo pessoal em bancos (+1,16%), o cheque especial (+0,81%), o empréstimo pessoal em financeiras (+0,61%) e os juros do comércio (+0,41%) –cujas taxas se situaram em 3,49%, 7,42%, 6,56% e 4,88%.

Do lado das pessoas jurídicas, o maior reajuste ocorrido entre agosto (+1,45%) e setembro (+1,49%) se deu novamente no financiamento para desconto de duplicatas, que ficou 2,76% mais caro. O crédito para capital de giro vem em segundo lugar, com a taxa mensal saindo de 1,30% para 1,33%, o que corresponde a um incremento de 2,31%. Embora tenha registrado o menor acréscimo (+0,71%), a conta garantida também segue como a modalidade mais onerosa ao mês (7%), para esse tipo de público.

Inadimplência e Selic

Vale notar que o aumento segue em ritmo mais acelerado do que o dos juros básicos da economia. A Anefac informa que, considerando todas as elevações da taxa Selic promovidas pelo BCl, entre janeiro (2% ao ano) e setembro de 2021 (6,25% ao ano), a taxa básica de juros avançou 212,50% (+4,25 pontos percentuais). No mesmo período, o custo médio do dinheiro para pessoas jurídicas ficou 15,22% mais caro. Para as pessoas físicas, a elevação foi de 12,54%.

Em material divulgado pela assessoria de imprensa da Anefac, o vice-presidente de estudos e pesquisas da entidade, Miguel José Ribeiro de Oliveira, reforçou que as novas elevações das taxas no crédito bancário podem ser atribuídas ao aumento dos juros futuros no mercado financeiro e às expectativas de mais aumentos da Selic frente ao comportamento da inflação. Pressionado novamente pelo aumento de preços da energia elétrica e dos combustíveis, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) subiu 1,16%, em setembro, após a desaceleração de agosto (+0,87%). Foi o maior percentual para o mês desde 1994 (+1,53%).

Outros fatores citados pelo dirigente são o anúncio da elevação da alíquota de CSLL (Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido) para instituições financeiras e uma “provável” nova elevação nos índices de inadimplência –favorecida pelo fim das carências nos empréstimos, “desemprego elevado”, redução ou corte dos benefícios do auxílio emergencial, aumento da inflação e maior seletividade dos bancos para emprestar. “Tendo em vista a piora do cenário econômico, (…) a tendência é de que as taxas de juros das operações de crédito continuem sendo elevadas nos próximos meses”, frisou.

O  BC ainda não divulgou os dados nacionais de setembro, mas sabe-se que a inadimplência nas operações de crédito com recursos livres do SFN, voltou a subir pelo segundo mês seguido, em agosto, para as pessoas físicas. A taxa, desta vez, avançou de 4,10% para 4,15%, embora tenha ficado aquém da marca de agosto de 2020 (4,88%). O contrário se deu para as pessoas jurídicas, onde a taxa encolheu de 1,63% para 1,62%, além de cair também ante o patamar de 12 meses atrás (1,67%). 

O mesmo BC indica o volume de concessões com recursos livres em operações de crédito do SFN aumento nos dois casos, em todo o país. Para as pessoas físicas, agosto (R$ 197,19 bilhões) foi 3,68% melhor do que julho (R$ 190,42 bilhões) e 28,50% superior ao número do oitavo mês de 2020 (R$ 153,70 bilhões). Para as jurídicas (R$ 177,99 bilhões), houve crescimento de 7,29% diante do mês anterior (R$ 165,89 bilhões) e elevação de 38,27% em relação ao mesmo mês do ano passado (R$ 128,73 bilhões). 

“Câmbio e intervenção”

Em entrevistas anteriores à reportagem do Jornal do Commercio, o consultor empresarial, professor universitário e conselheiro do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), Francisco de Assis Mourão Júnior, já havia reforçado que a inflação “de dois dígitos” e a escalada da Selic estão pressionando os juros bancários para cima, em um ambiente de aversão crescente ao risco de um estouro na bolha do endividamento. O economista destacou, no entanto, o papel preponderante do câmbio na alta do IPCA e dos juros básicos, em um ambiente de menor consumo das famílias e exportações em alta. 

“A pressão inflacionária vem dos custos, como os encargos sobre combustíveis e os efeitos da crise hídrica, dada a necessidade de contratação de termelétricas. No aspecto macroeconômico, vemos uma diminuição da oferta da carne e de outros alimentos, por conta da alta do dólar e do incentivo às exportações, com a demanda se mantendo constante. A alta na Selic também busca valorizar o Real. Com a inflação seguindo nesse patamar, o BC provavelmente vai ter de intervir mais no câmbio”, arrematou.

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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