O superintendente da Suframa, Algacin Polsin, é um entusiasta da necessidade de estender as riquezas geradas pela ZFM (Zona Franca de Manaus) para o interior do Amazonas, onde os 62 municípios ainda dependem de medidas para alavancar as atividades econômicas, que hoje se concentram mais na capital do Estado.
A ZFM completa seus 55 anos de existência, mas ainda não foi capaz de levar os benefícios para os ribeirinhos amazonenses. E assim continua sendo ao longo de mais de cinco décadas de existência do projeto mais bem-sucedido do Brasil. Porém, o desenvolvimento continua extremamente desigual na região. E a maior parte das cidades ribeirinhas depende de repasses estaduais e federais para manter algum fôlego econômico (se é que ele existe), abrindo precedentes para a migração de pessoas em direção a Manaus, agravando os problemas sociais e ainda de habitação.
Conhecedor dessa realidade, Polsin tem estratégias para mudar esse cenário, interagindo com todos os atores econômicos. Ao longo de quase dois anos à frente da Suframa, ele desenvolve, hoje, pelo menos 13 eixos temáticos para espraiar o desenvolvimento, como bem o define, não conseguindo disfarçar o grande entusiasmo quando o assunto é a ZFM alcançando todos os estratos sociais, gerando mais riquezas e renda à população. “A Suframa tem que zelar de forma permanente pelo futuro de nossa região”, ressalta ele.
Algacir Polsin aposta no potencial da bioeconomia para transformar vidas, melhorar as condições de trabalho e a sobrevivência de aproximadamente 4 milhões de pessoas que vivem no Amazonas, das quais pelo menos 2,3 milhões só em Manaus. Ele acredita que são medidas capazes de impulsionar toda uma cadeia produtiva, possibilitando ainda o desenvolvimento de uma tecnologia de vanguarda para exploração dos recursos naturais da rica biodiversidade, mas preservando o meio ambiente.
“Todos devem usufruir das riquezas proporcionadas pela Zona Franca, algo que não aconteceu até agora. O Amazonas é um Estado continental. E precisamos criar condições de sobrevivência para as pessoas que vivem no interior. Daí a importância de espraiar o desenvolvimento”, defende Polsin.
Para o superintendente, toda a sua equipe na Suframa está empenhada em alavancar as cadeias produtivas que alimentam a indústria e o comércio da ZFM. “Vencemos grandes obstáculos. E nem a pandemia nos impediu de continuar crescendo, mantendo empregos e as atividades econômicas nas mais de 500 empresas instaladas, hoje, na Zona Franca”, acrescenta. “Novos desafios virão pela frente. E estamos preparados. É isso que nos motiva a seguir adiante para estender os benefícios para todo o Amazonas”, ressalta Polsin.
O superintendente da Suframa falou exclusivamente ao Jornal do Commercio por ocasião do aniversário da ZFM. Ele faz um balanço de sua gestão e discorre ainda sobre as próximas metas da autarquia,
Jornal do Commercio – Que balanço faz de sua gestão à frente da Suframa? As medidas avançaram satisfatoriamente em relação aos diversos atores sociais e econômicos?
Algacir Polsin – Avançamos em muitas medidas. A pandemia foi desafiadora, mas conseguimos manter as atividades e os empregos, sem que o mercado ficasse desabastecido. Mesmo com a crise, nossas ações foram superavitárias, como mostram os indicadores da ZFM.
Inauguramos o projeto ‘Zona Franca de portas abertas’. Abrimos as portas da Honda para receber as pessoas. E outras empresas também receberão essa iniciativa. Então, a ideia é alavancar o turismo na região, que beneficia a indústria e também o comércio.
Queremos levar a população de Manaus para conhecer as fábricas, principalmente os estudantes, que podem descobrir vocações. Podemos receber também formadores de opiniões de todo o País e ainda os tomadores de decisões nacionais.
Essa é a concepção. Mostrar fábricas que são verticalizadas, trazendo empregos e renda não só na cidade de Manaus, mas também espraiando essa riqueza em toda a região. Outro aspecto que estamos buscando é melhorar sempre o ambiente de negócios para capacitá-lo cada vez mais e ser um polo de atração de novos investimentos nas várias vertentes econômicas. E ainda pesquisas em desenvolvimento e inovação.
Objetivamos fazer também alterações nos marcos legais em toda a área de interesse e abrangência na Zona Franca de Manaus. Já temos implantados vários projetos aprovados e que melhoraram substancialmente o ambiente de negócios no Amazonas.
Tivemos aprovada uma resolução que permite a concessão de incentivos fiscais a empresas que fazem o beneficiamento de matéria-prima regional, fomentando as agroindústrias e as bioindústrias. Com isso, poderemos levar emprego e renda de maneira legal a nossa população, potencializando ainda as cadeias produtivas em escalas necessárias.
JC – Pelo menos 50 empresas já estariam interessadas no projeto de bioagroindústria em Rio Preto da Eva, mas o empreendimento ainda depende de autorização para doação de áreas da União. O sinal verde depende do Congresso Nacional. Como está essa iniciativa?
AP – O Distrito Agropecuário da Suframa tem uma área de 600 mil hectares que foram destinados, no início da Zona Franca, para que lá fosse desenvolvido um setor agropecuário. Tanto para a sobrevivência da população de Manaus e que fosse replicado em todo o Estado.
Buscamos potencializar essas áreas da Suframa por meio do processo licitatório que foi lançado na reunião do CAS, ocasião em que distribuímos lotes para essa iniciativa. E pretendemos atrair naquela região grandes empreendimentos na agroindústria e bioagroindústria, reforçando as cadeias produtivas.
Além disso, temos um projeto em Rio Preto da Eva em parceria com o governo do Amazonas, a prefeitura daquele município e a Suframa, pretendendo implantar toda uma infraestrutura de apoio para indústrias vocacionadas na operacionalização de matéria-prima regional.
É um processo que está em andamento. Já houve autorização do presidente da República, mas falta ainda a aprovação do Congresso Nacional. A partir daí, tem todo um trabalho conjunto para montar uma infraestrutura com recursos de emendas parlamentares. É uma obra que vai levar alguns anos, mas vamos começar.
JC – O sr. tem falado muito em espraiar o desenvolvimento regional. Os benefícios da ZFM se concentram principalmente na região de Manaus. Como expandir essas riquezas numa região tão vasta como o Amazonas?
AP – Primeiro é preciso entender quais são as características da Amazônia. Concordo que o modelo ZFM é um sucesso no Amazonas, mas é necessário espraiar essas riquezas, o desenvolvimento.
Mas não dá pra gente abarcar a Amazônia toda de uma só vez. É um verdadeiro continente. Temos buscado elencar mesorregiões para que possamos reunir esses esforços. Entendemos que não se pode fazer nada sozinho na Amazônia. Devemos integrar os diversos órgãos, sejam do governo estadual, governo federal, municipais e centros acadêmicos para que possamos realizar essa empreitada, montar nossas capacidades.
Tudo isso pode potencializar e criar a sinergia de que precisamos para esse projeto. Um dos nossos projetos é a zona de desenvolvimento sustentável no sul do Amazonas, no noroeste de Rondônia e leste do Acre, onde existem 32 municípios. A ideia é reunirmos todos esses atores e gerar empregos e renda de forma lícita à população, melhorar a qualidade de vida e ao mesmo tempo criar um cordão de proteção das florestas.
Explorando o potencial da terra, mas respeitando a legislação ambiental, as áreas indígenas. E lembrando que temos uma população que ali vive e temos que respeitar. Não adianta só olhar o meio ambiente. Temos que buscar o desenvolvimento de uma maneira sustentável. É isso que temos buscado por meio de 13 eixos temáticos, com vários órgãos envolvidos.
Na hora que tivermos um ciclo virtuoso, poderemos replicar o projeto para outras áreas da região. Assinamos um acordo de cooperação técnica com alguns municípios. Tivemos com Silves e Manacapuru. A ideia é a gente cooperar desde o nível da gestão municipal até áreas de interesse de acordo com as características de cada município.
Há projetos que podem mostrar resultados imediatos à população, mas muitos deles são de médio e longo prazos, ainda mais na Amazônia. Mas devemos persistir numa política pública, localizando as áreas de interesse. É dessa forma que temos condições de potencializar o desenvolvimento da região.
JC – Há muito tempo se fala da necessidade de uma nova matriz econômica no Amazonas. O sr. compartilha das opiniões de que a bioeconomia tem potencial para outro viés econômico, que se somaria às atividades da ZFM?
AP – Não podemos de maneira nenhuma falar numa economia sem a ZFM. Temos ainda uma grande dependência. Mas temos que somar esforços para contribuir com essa matriz econômica, complementar o polo de Manaus. Temos buscado o turismo. E fazer dinheiro com isso, movimentar a economia nessa direção.
Outro fator muito importante é a bioeconomia. A nossa matéria-prima aqui é exclusiva. Então, temos que avançar muito nessa vertente, investigando o máximo possível e criando riquezas para a nossa população, espraiando o desenvolvimento para todo o Estado do Amazonas.
Outro vetor importante também é a parte de pesquisa, desenvolvimento e inovação. Com os recursos advindos da lei de informática, daquelas fábricas que produzem bens de informática, 5% devem permanecer na região. Estamos buscando potencializar o máximo possível esses recursos.
Tudo isso nos ajuda a potencializar os vetores econômicos, a inovação tecnológica, e também possibilita espraiar a riqueza. Por isso, temos incentivado muito essas novas iniciativas, não só em Manaus como também em outros municípios.
JC – Lideranças alertam que a reforma tributária é uma ameaça à ZFM. Extremamente liberal, o ministro Paulo Guedes já mostrou que não é favorável a qualquer tipo de incentivo fiscal. As mudanças vão, realmente, impactar em prejuízos ao Amazonas?
AP – Não tenho dúvida sobre a estratégia do nosso modelo Zona Franca de Manaus. O governo federal tem total entendimento desta importância e das consequências de alterações significativas neste projeto.
Mas temos que potencializar esse desenvolvimento, não adianta ficar somente em Manaus. E tivemos que conceder benefícios fiscais para atrair empresas à região. Então, não vejo a curto prazo que haja modificações significativas de impacto. Mas é natural que seja necessária uma evolução. E cabe à Suframa assessorar tecnicamente o governo federal, o Ministério da Economia, como também as nossas bancadas parlamentares, entidades de classe e o governo do Estado para que se busque soluções para a economia em nível macroeconômico que atendam aos interesses do País e também os da nossa região.
É uma política de Estado e um projeto estratégico para o desenvolvimento dessa região.
JC – Para manter a floresta em pé….
AP – A floresta em pé é uma consequência positiva deste modelo de sucesso, mas não era a razão de ser de sua criação. A hora que você pega uma cidade como Manaus, gera empregos e renda para mais de 2 milhões de habitantes, e a grande maioria depende direta e indiretamente do polo industrial, há um incentivo..
E todo o comércio acaba dependendo da renda que é gerada no Polo Industrial de Manaus. Toda essa geração de empregos e renda acabou por contribuir para a manutenção da floresta em pé, apesar de não ter sido esse o objetivo.
JC – Estamos em ano de eleições. Será eleito um novo governador. Quais as expectativas da Suframa em relação a isso?
AP – A Suframa não vê as pessoas. Até comento que nós deixamos a política partidária de fora do portão. A Suframa é um órgão técnico. E vamos tratar com os atores que estiverem na função. Faremos uma integração para produzir o que é melhor para a nossa sociedade.
Temos uma excelente interlocução com a atual gestão da prefeitura de Manaus, do governo do Estado do Amazonas e naturalmente com o governo federal, independente de quem esteja na função. A Suframa é um órgão do Estado, uma autarquia federal e tem que zelar de forma permanente para o futuro da região, como zelou nesses 55 anos de criação.
JC – Lideranças industriais e comerciais dizem que nunca viram uma integração tão grande entre a prefeitura, o governo do Estado e a Suframa, como acontece agora em sua gestão. A que atribui essa questão?
AP – Temos buscado nos integrar a todos. Vejo com muita satisfação que esse trabalho tem funcionado muito bem com os inúmeros atores. Temos uma interação muito boa com a prefeitura e o governo do Estado.
Há uma integração entre entidades de classe da indústria e do comércio, agropecuário, com o setor acadêmico. No ano passado, fizemos quatro reuniões com todas as universidades no Amazonas. E fazemos ainda reuniões temáticas vocacionadas para mineração, logística. Muitas vezes é num cafezinho que as soluções aparecem.
JC – Muitos dizem que a ZFM é uma mera replicadora de tecnologias desenvolvidas lá fora. E ainda não produziu um know how de vanguarda. O que está faltando….?
AP – É importante termos polos tecnológicos e também valorizar recursos e pesquisas, tendo condições de alavancar essas áreas. É difícil estarmos nas linhas de frente de motocicletas, eletroeletrônicos.
Temos que avançar no que nos é possível. Há muitos jovens talentosos. Mas a bioeconomia é o que temos mais de imediato para desenvolver tecnologias próprias.
JC – O sr. continua no cargo? Até quando?
AP – Cargo quem escolhe é o nosso presidente da República. Até agora, não houve nada contrário. Nós permanecemos até quando houver a decisão da mudança. Não há nenhuma expectativa neste momento sobre isso. E considero que há muito o que fazer pela frente. Toda a equipe técnica da Suframa é muito competente e tem me apoiado bastante. E vejo como importante a continuidade deste trabalho profícuo com bons resultados para a nossa população, integrando os vários atores.