20 de setembro de 2024

Setor de serviços do Amazonas começou o ano em alta

Ao contrário do ocorrido com o comércio e a indústria, o setor de serviços do Amazonas começou o ano em alta. Apesar da escalada dos casos de ômicron durante o período, o volume de serviços subiu 2%, na virada de dezembro de 2021 para janeiro de 2022, recuperando as perdas do mês anterior (-1,8%). O desempenho do Estado seguiu na contramão da média nacional (-0,1%), que apresentou resultados positivos apenas nos transportes e nos serviços profissionais, administrativos e complementares. É o que revelam os dados da PMS (Pesquisa Mensal de Serviços), divulgada pelo IBGE, nesta quarta (16).

Na comparação com janeiro do ano passado, período em que o setor ficou praticamente parado, em decorrência da segunda onda, o incremento foi de 9%. Com isso, os serviços do Amazonas já acumulam expansão de 12%, em 12 meses. As respectivas médias nacionais, em ambas as comparações, foram 9,5% e 12,2%. Mas, o choque dos combustíveis, em decorrência da guerra na Ucrânia, assim como o aparecimento de uma nova variante da covid-19, sinaliza entraves para o setor, nos próximos meses.

A atividade voltou a ter descolamento na receita nominal, com números comparativamente melhores, em razão da inflação. O avanço sentido na virada do ano foi de 2,4%, em desempenho oposto ao de dezembro (-3%). No confronto com janeiro de 2021, a elevação foi de 19,8%, favorecendo uma variação anualizada também na escala dos dois dígitos (+17,7%). O Estado bateu as médias brasileiras (-1,6%, +15,3% e +16%, respectivamente) em todas as comparações.   

Com o acréscimo mensal no volume de serviços (+2%), o Estado escalou da penúltima para a sétima posição, entre os maiores valores do setor em todo o país capturados no ranking do IBGE. No mês, 12 das 27 unidades federativas amargaram recuos no volume de serviços – contra oito, na sondagem anterior. Goiás (+4,3%), Amapá (+3,7%) e Pará (+3%) tiveram os melhores números. Na outra ponta, Distrito Federal (-9,1%), Tocantins (-6,3%) e Paraíba (-4,8%) ficaram no rodapé. 

Apesar de encerrar a variação anualizada com desempenho consolidado no azul (+12%), o Amazonas acabou caindo da 11ª para a 17ª colocação no ranking nacional. Mato Grosso (+45,8%), Alagoas (+23%) e Goiás (+17,5%) subiram ao pódio, enquanto Tocantins (-2,2%), Distrito Federal (-1,8%) e Rio de Janeiro (-1,5%) figuraram no rodapé. Em relação ao mesmo mês de 2021 (+8,5), a situação foi melhor e o Estado avançou da 25ª para a 16ª posição, em uma lista iniciada por Mato Grosso (+45,8%) e encerrada por Tocantins (-2,2%). 

“Economia instável”

O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, ressaltou à reportagem do Jornal do Commercio que, depois do “bom desempenho no ano passado”, os serviços aparentemente teriam encontrado “sua independência das outras atividades”. O pesquisador salienta, entretanto, que os efeitos da redução do IPI na ZFM, assim como os impactos da guerra na Ucrânia na economia brasileira (especialmente o choque de combustíveis) tendem a nublar as perspectivas do setor, para os próximos meses. E acrescenta que a conjuntura econômica nacional já padece de resiliência da inflação, escalada dos juros e estagnação do poder aquisitivo do consumidor, 

“No passado, era comum ela refletir o que acontecia com o comércio e a indústria. Mas, atualmente, o setor de serviços anda com as suas próprias pernas. Infelizmente, não temos recortes por atividade que possibilitem saber quais são as áreas mais promissoras, no Amazonas. A média móvel trimestral até janeiro está positiva, isso traz otimismo para as próximas divulgações. No entanto, a economia local está extremamente instável, devido a diversos fatores internos e externos. Assim, é importante manter a calma com as expectativas”, ponderou.

Pandemia e guerra

O IBGE-AM reforça que, em virtude do tamanho da amostragem, a pesquisa no Amazonas ainda não apresenta os dados desagregados por segmentos. Em âmbito nacional, três das cinco atividades investigadas pelo IBGE recuaram na variação mensal: serviços de informação e comunicação (-4,7%), serviços prestados às famílias (-1,4%) e “outros serviços” (-1,1%). Em contraste, as influências positivas vieram de transportes, serviços auxiliares e correio (+1,4%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (+0,6%).

Matéria publicada no Jornal do Commercio informa que o segmento de beleza, por exemplo, não deixou de ser impactado pela escalada da ômicron. Sisbisim (Sindicato dos Salões, Barbeiros, Cabeleireiros, Instituto de Beleza e Similares de Manaus) avalia que a atividade mostrou um movimento dentro do “razoável” em janeiro, e acrescenta que o refluxo dos números da pandemia impactaram em um crescimento de 35% na primeira quinzena de fevereiro.

Mas, a presidente do Sisbisim, Antônia Moura de Souza, salienta que ainda há um longo caminho para o subsetor retomar o patamar pré-pandemia e lembra, especialmente diante da atual conjuntura econômica.  “Ainda estamos com 40% das nossas demandas mais baixas em relação ao ano de 2019, um dos períodos mais prósperos dos últimos tempos no segmento de beleza. Porém, falta muito para a categoria equilibrar as suas contas”, lamentou.

O presidente da Fecomercio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, assinala à reportagem do Jornal do Commercio que os serviços se beneficiaram de uma conjuntura que une reabertura tardia, demanda reprimida e sazonalidade positiva, que teria se estendido a janeiro. Mas, avalia que o setor, assim como os demais, tende a sofrer no atual cenário econômico desfavorável, agravado pelo conflito europeu e pelo surgimento de uma nova variante da covid-19.

“De uma forma geral, os serviços sofrem menos com os impactos dos aumentos de preços, pois tem na mão de obra o principal fator de formação de custos. Mas, a economia funciona por sinergia e uma atividade tende a impactar na outra. A inadimplência está altíssima e a inflação ainda e um problema. E, com a escalada do petróleo, os serviços de transporte e que dependem essencialmente de fretes tendem a ser os mais prejudicados. Especialmente no Amazonas, onde os modais rodo-fluvial e aéreo são dominantes”, arrematou.     

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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