19 de setembro de 2024

O Brasil está mais perigoso

Ao contrário do que os militares alardeiam, não são os estrangeiros que mais ameaçam a pátria, mas brasileiros truculentos, cuja maioria atua de forma ilegal, segue impune, perseguindo, expulsando ou matando gente do seu próprio país.

Por mais que profissionais competentes tentem vender uma boa imagem do Brasil, ela nunca esteve tão ruim no exterior quanto nos dias atuais, e há motivos de sobra para isso:

1o) País da corrupção e impunidade

Essas práticas nocivas acontecem desde quando Cabral chegou aqui, valendo à pena ler o livro Corrupção na História do Brasil <https://bit.ly/3O4UVDD> que relata casos frequentes de funcionários públicos, que em vez de cumprirem suas funções, praticavam comércio ilegal de produtos brasileiros.

Mas em nenhum momento de nossa história, o combate à corrupção foi tão implacável, quanto o realizado pela Lava- Jato, operação que colocou criminosos intocáveis na cadeia, desde ex-presidente (Lula-PT), caciques políticos (Dirceu-PT, Pedro Corrêa-PP, Eduardo Cunha-MDB, Cabral-MDB, Geddel-MDB), militar (Almirante Othon), até empreiteiros que por décadas surrupiaram o erário, corresponsáveis por profundas recessões e falta de recursos na educação, saúde, moradia, segurança, etc.

No entanto, o avanço desta Operação rumo ao judiciário, com delações envolvendo maus feitos até de ministro da alta corte do STF (Toffoli – https://bit.ly/3tQK5YS e https://bit.ly/39ieBV8), fez o sistema vicioso reagir, em pleno Governo Bolsonaro, desde a nomeação de Aras, até contínuas interferências do presidente na PF, na RF, no Coaf, no TCU, no STJ e STF, para blindar a si mesmo, sua família e aliados, especialmente os do Centrão.

Os avanços obtidos pela Operação Lava-Jato, entre 2014 e 2018, começaram a ruir em 2019, com vários retrocessos, não somente em áreas de combate à corrupção, transparência, mas também em direitos humanos, meio ambiente e fortalecimento da democracia, os quais já foram denunciados <https://bit.ly/3PmaozU e https://bit.ly/3MJ8YOO> para o comitê  da OCDE.

2) País que não cuida das pessoas quando elas mais precisam

No auge da falta de oxigênio em Manaus, em jan/2021, o Brasil foi avaliado pelo Low Institute <https://bbc.in/3xKG5LB> como o pior no combate a pandemia. E mesmo sendo o 2o com mais casos fatais do planeta (668.300 ou perto de um milhão de mortos se considerarmos a taxa de subnotificação), os principais responsáveis pela estratégia institucional para disseminar o vírus <https://bit.ly/3i3ib7K> continuam impunes, mesmo adotando práticas consideradas criminosas <https://bit.ly/3oUMWPo>.

3) País sob o domínio dos traficantes e milicianos

Um relatório publicado anualmente pelo Instituto para Economia e Paz, que mede o índice de paz global, revelou que em 2021 <https://www.visionofhumanity.org/maps/#/> o Brasil ficou na 128a posição entre 163 países, caindo duas posições (126a) em relação a 2020 e 12 posições em 2019 (116a).  Esse índice mede o grau de pacificação de um país, a partir da análise de 23 indicadores quantitativos e qualitativos. 

Em grande síntese, o relatório de 2021 revelou que o Brasil:

3.1 é o quinto com a pior deterioração do índice desde 2019, perdendo apenas para Nicaragua, Burquina, Zimbabue e Irã;

3.2 é o país em que há maior medo de violência por parte de sua população, com 83% dos entrevistados revelando muita preocupação em ser vítima de crime. Além disso, o país ficou em segundo lugar com 63.7% dos entrevistados revelando sentir que a violência é o maior risco para a sua a segurança;

3.3 está entre os países (México, Uruguai e Costa Rica) com o maior nível de deterioração em relação aos homicídios.

O fato é que vivemos em uma prisão a céu aberto, fechados, nossas casas estão rodeadas de grade, os que podem, instalam câmeras, sensores de movimento, pagam seguranças, etc. Além disso, o povo tem que fingir que não vê o tráfico de drogas acontecendo, bem como sente medo de denunciar por não acreditar na polícia, ainda mais quando presencia maus militares pegando propinas ou dando apoio aos traficantes.

A milícia do RJ <https://bit.ly/3hOpR9Z> se expandiu e já está em pelo menos 12 Estados <http://glo.bo/3xNf9fc>. São paramilitares que atuam com maus empresários, policiais e servidores para integrar esquemas, exploram a insegurança, a pobreza, e pautas conservadoras para ganhar apoio do povo. 

Eles utilizam estratégias sutis de penetração em comunidades mais pobres, em igrejas, especialmente evangélicas, bem como têm trabalhando para eleger seus representantes em Câmaras Municipais, Assembleias, Congresso, Senado e Presidência da República, valendo a pena estudar a robusta denúncia <https://bit.ly/2RuAjvX e https://bit.ly/3vRAlgo> contra Flávio Bolsonaro, bem como ler o livro ”Dos Barões ao extermínio: a história da violência na Baixada Fluminense”, uma obra <https://amzn.to/2HtvZIl> escrita pelo Dr. José Cláudio, um especialista em milícias.

4) O país é perigoso para indígenas e ambientalistas

Em set/21, Marcelo Brito fez um desabafo que precisa ser ouvido <https://bit.ly/3HhD0XD>, uma vez que é Presidente da Associação Brasileira do Agronegócio. Para ele, a imagem do Brasil no exterior é o pior da história, uma vez que a percepção está ligada com à destruição da Floresta Amazônica, tirando valor não somente dos produtos do agro-negócio, como dos demais produtos brasileiros.

Um relatório <https://bit.ly/39phDXG> publicado pela Global Witness desde 2012, revela que em 2020, 227 ataques fatais foram registrados no mundo contra os que defendem a terra e o meio ambiente, sendo que o Brasil foi considerado o quarto país mais perigoso, com vinte mortes. 

Já o relatório “Ilegalidade e Violência na Amazônia”, publicado <https://bit.ly/3xtt7l0>  em 2021 por pesquisadores brasileiros, apresentou indicadores estarrecedores sobre o aumento dos homicídios na Amazônia nos últimos 20 anos, especialmente por causa de mercados ilegais associados a recursos naturais (terra, madeira e ouro). E estudo da Comissão da Pastoral da Terra aponta que em 2020 foram 2054 ocorrências de violência no campo, o maior registrado desde 1985, com povos indígenas sendo as maiores vítimas <https://bit.ly/3MOSp2w>. 

Atualmente, o mundo acompanha as buscas em nossa região do indigenista Bruno Pereira e do Jornalista Britânico Dom Phillips, profissionais que não estavam vagabundando com dinheiro público em Motociatas, nem curtindo Jet Sky ou praias, mas estavam trabalhando, e há indícios de que foram vítimas de criminosos que tocam o terror em nossa região.

Finalmente, o Brasil está cada vez mais perigoso e não vai ser com armas, disseminação de fake news, negacionismo ou ataques a democracia que nos tornaremos uma pátria próspera. Pelo contrário, precisamos de mais educação, transparência, fortalecimento democrático, bem como de novas lideranças com um projeto sustentável de desenvolvimento que nos coloque entre os mais competitivos e pacíficos do planeta.

Jonas Gomes

Prof. Dr. Jonas Gomes da Silva - Professor Associado do Dep. de Engenharia de Produção com Pós Doutorado iniciado no ano de 2020 em Inovação pela Escola de Negócios da Universidade de Manchester. E-mail: [email protected].

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