27 de novembro de 2024

PIB do Amazonas estanca de novo em julho

Marco Dassori

Twitter: @marco.dassori  Twitter: @JCommercio

O PIB do Amazonas estancou pelo segundo mês seguido em junho. Mas, desta vez, com viés de queda, e em sentido inverso ao da média nacional. A passagem de junho para julho rendeu recuo de 0,18% para a economia estadual, em resultado simétrico ao do levantamento anterior (-0,18%), mas ainda estatisticamente estável. O Estado, contudo, conseguiu avançar somente 6,62% em relação ao mesmo mês de 2021, além de acumular expansão de 4,35%, nos sete meses iniciais deste ano. É o que apontam os números mais recentes do IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central). 

Dados do IBGE indicam que o desempenho negativo da economia amazonense foi lastreado por quedas na produção da indústria, nas vendas do comércio, e na agricultura, apesar da recuperação do setor de serviços. A manufatura encolheu pelo segundo mês seguido, puxada pelas linhas de produção de condicionadores de ar, terminais bancários, materiais elétricos e aparelhos de barbear. O varejo registrou seu terceiro recuo seguido e só se saiu bem na venda de combustíveis. A produção rural segue majoritariamente em baixa, especialmente na cultura de mandioca, laranja, cacau, banana, arroz e feijão. A única alta veio dos serviços, especialmente em transportes e atividades de informação e comunicação.

Assim como ocorrido nos meses anteriores, o Amazonas teve performance inferior à da média brasileira no IBC-Br. Este subiu 1,17% na variação mensal, superando as expectativas do mercado. Em junho, a economia brasileira já havia expandido 0,93% – em dado já revisado pelo BC. Mas, o confronto com o mesmo mês do ano passado rendeu um resultado abaixo do alcançado pela economia amazonense, já que o incremento não passou de 3,87%. O acumulado do ano também segue menor, com alta de 2,52%. Os dados são dessazonalizados e desconsideram diferenças de feriados e de oscilações da atividade econômica, típicas de determinadas épocas do ano.

A economia amazonense aparece com 154,41 pontos em julho deste ano, conforme a série histórica do BC. O PIB do Amazonas subiu apenas 1,04%, na média móvel trimestral, e cresceu somente 2,08%, no acumulado de 12 meses. Vale notar que estes dois tipos de comparação são os mais usados pelos especialistas para indicar eventuais tendências. A média nacional apresenta uma pontuação menor do que a estadual (148,86 pontos), mas conta com desempenhos comparativamente mais robustos, tanto na base trimestral (+3,56%), quanto na variação anualizada (+2,52%).

Serviços na frente

Na edição mais recente de seu boletim regional, o Banco Central informa que, a despeito da estagnação mensal, os principais indicadores econômicos da região Norte evoluíram no segundo trimestre, resultando na expansão da atividade econômica. O IBCR-N avançou 1,5% em relação ao trimestre anterior, e 1,7% em 12 meses, sendo lastreado pela expansão do setor de serviços. A progressão trimestral registrada no Amazonas foi ainda maior e chegou a 1,7% e se deveu principalmente às divisões de serviços às famílias de alojamento e alimentação. A situação no comércio, no entanto, mostra bases mais frágeis, especialmente nos bens duráveis.

“Sob a ótica da demanda, observou-se estabilidade nas vendas do comércio ampliado, com avanço em todos os Estados, à exceção de Roraima. Para o período acumulado em 12 meses, o foi de 0,8%. Prospectivamente, espera-se que os efeitos das políticas temporárias de apoio à renda impulsionem o setor no segundo semestre. Dados do licenciamento de automóveis e comerciais leves da Fenabrave apresentaram incremento das vendas no trimestre (+3,6%). No acumulado 12 meses, ocorreram dinâmicas distintas nos segmentos, com contração em veículos leves e estabilidade em caminhões e ônibus”, analisou o BC, no texto da pesquisa.

O Banco Central lembra que estatísticas mais recentes relacionadas à confiança apontaram ambiente favorável à continuação da expansão do consumo na região, com elevações na margem, tanto no índice de Intenção de Consumo das Famílias, quanto no Índice de Confiança do Empresário do Comércio, divulgados pela CNC. Observa também que o mercado de trabalho formal vem mostrando continuidade nas contratações e destaque no setor de serviços (+18,5 mil vagas). Pará, Amazonas e Rondônia se sobressaíram nas contratações e a taxa de desocupação recuou de 10,9% para 9%, na virada trimestral.

No setor primário, o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola de julho indicaria crescimento para a safra de cereais, leguminosas e oleaginosas em 2022 em relação à do ano anterior, com destaque para os aumentos da produção de milho e soja. A colheita de mandioca, no entanto, deve sofrer redução. Em contraste, a produção industrial registrou estabilidade no trimestre e contração em 12 meses. “O Nível de Utilização da Capacidade Instalada alcançou 83,4% em junho, crescimento de 5,2 p.p. em relação ao mesmo mês do ano anterior, de acordo com a Fieam”, destacou o texto do BC.

A autoridade monetária observa, entretanto, que os preços na região caíram 0,59% no trimestre, conforme o IPCA. Os preços livres expandiram 1,18%, enquanto os monitorados contraíram 5,21%. No acumulado de 12 meses, o Norte registrou a menor inflação entre as regiões (7,45%). Acrescenta também que o indicador foi impactado pelas medidas de desonerações tributárias, que resultaram na diminuição do preço da gasolina e da energia, fatores que podem contribuir para resultados melhores, no curto prazo. “Prospectivamente, comércio e serviços podem ser beneficiados por políticas temporárias de apoio à renda”, encerrou.

“Processo de ajuste”

Em entrevistas recentes à reportagem do Jornal do Commercio, a ex-vice-presidente do Corecon-AM, e professora universitária, Michele Lins Aracaty e Silva, avaliou que os indicadores mais recentes do Amazonas apontam que o cenário local ainda é de um mercado em “processo de ajuste” e que isso se deve aos juros elevados, inflação e endividamento das famílias. A economista ressalva que, no curto prazo, a sazonalidade deve favorecer aquecimento, embora as eleições ainda ofereçam uma incógnita para 2023. 

“Pelo menos até dezembro, época de festas, a tendência é de aquecimento da economia e números positivos para a indústria, o comércio e para o setor de serviços. Acredito ainda que os juros elevados possam aliviar o peso do processo inflacionário sobre a economia. Minha expectativa para a inflação é de uma leve queda até dezembro de 2022 e de retomada da atividade econômica em função da Copa, 13º salário, festividades de final de ano e proximidade do período de férias”, arrematou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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