18 de dezembro de 2024

Recuperação da BR-319, uma lenda urbana que culminou em tragédia

A recuperação da BR-319 virou uma lenda urbana. Por mais de três décadas, os Estados que compõem a Amazônia Ocidental aguardam pela pavimentação da estrada, fundamental para promover maior intercâmbio comercial e econômico da região com o resto do País, principalmente em relação à competitividade dos produtos da ZFM (Zona Franca de Manaus), hoje extremamente impactada pela redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados).

Havia muitas expectativas com a autorização da licença prévia para a retomada das obras na via. Porém, é só um primeiro passo para realmente tornar a BR trafegável como se deseja. O acidente envolvendo a queda de uma ponte com pelo três mortes, sem ainda contabilizar o número de desaparecidos, além de 14 feridos, é mais um argumento para mostrar o quanto a rodovia está inadequada para o tráfego. Completamente sob abandono.

Parece uma tragédia anunciada que acontece agora, às vésperas do primeiro turno das eleições deste ano, corroborando para aumentar o sentimento de que as políticas públicas abandonaram um projeto crucial para o desenvolvimento da Região Norte, praticamente isolada dos outros Estados, impossibilitados de alçar mais voos na concorrência comercial em relação às regiões com melhor logística para o escoamento de produtos.

Trafegar pela BR-319 é uma completa aventura. Buracos, falta de sinalização e fiscalização, só para mencionar algumas adversidades, são iminentes riscos para quem desafia tamanhas intempéries. Nada garante que quem ouse desafiá-la chegará incólume adiante com tantos caminhos adversos ao longo de mais de 800 quilômetros de estrada.

A situação empaca no trecho do meio, alvo de grandes embates ambientais, vivenciado por mais de 30 anos. Os governos se revezam no poder, mas o impasse se mantém. O presidente Jair Bolsonaro (PL), apesar de tantas críticas ao seu governo, tentou a liberação das obras, sem alcançar praticamente nenhum sucesso. Mas se mostrou defensor de uma rodovia importante para fomentar o desenvolvimento de praticamente toda a Amazônia Ocidental.

Existem outros interesses por trás dos entraves em torno da BR. Muitas vozes se levantam acusando lobbies do segmento de balsas que conspiram contra a recuperação da estrada, temendo a falência de seus negócios. O setor de navegação também estaria aliado a essas estratégias. A trafegabilidade por via rodoviária culminaria na queda das demandas, com a vantagem de impactar menos nos custos de logística para exportação e importação.

Portanto, são tantos alardes em torno da lenda urbana em que se transformou a recuperação da BR-319, abrindo precedentes para especulações de toda ordem. A rodovia já existia durante o governo militar. E sua construção fez parte do grande mote de propaganda da ditadura – ‘Amazônia, integrar para não entregar’, veiculado praticamente durante o tempo em que durou o regime de exceção.  E por que só agora, ao longo de mais de três décadas, há tanto rigor nas licenças ambientais que impedem a atração de novos investimentos.

A Amazônia está montada em um berço esplêndido. Não há dúvida quanto a isso. Tão importante quanto preservar o meio ambiente também o é a defesa do homem que habita a região. A tecnologia já mostrou que é possível conciliar desenvolvimento sustentável com geração de novos empregos e renda. O que está faltando para a consolidação de tantas iniciativas? Um paradoxo!  

Nota abre Perfil

Continuam não se bicando….

Bolsonaro e o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, não se bicam faz tempo. Isso já é fato. Recentemente, tentaram fumar o cachimbo da paz, mas não adiantou. E agora protagonizam uma nova treta, desta vez em torno da primeira-dama Michelle. O chefe do Planalto não gostou das alfinetadas do magistrado contra a sua esposa, questionando o uso do cartão corporativo que a teria beneficiado. “Uma coisa é me atacar, Moraes, mas não admito que ofenda a minha esposa”, reagiu ele.

A praticamente três dias do primeiro turno das eleições, o PL, partido ao qual é filiado Bolsonaro, voltou a questionar a segurança das urnas eletrônicas, provavelmente uma retaliação direta a Moraes. As dúvidas estão explicitadas em um documento de duas páginas, elaborado em um momento em que o presidente elevou o tom das críticas ao TSE, levantando questionamentos sem apresentar qualquer prova. A situação preocupa, admitem lideranças políticas e empresariais. Que garantias tem a democracia?

Ataques

O governador Wilson Lima (UB), que tenta a reeleição, e Eduardo Braga (MDB), candidato ao governo do Amazonas, enfrentaram uma artilha pesada durante o último debate em uma TV local. Os outros oponentes direcionaram suas metralhadoras verbais para os dois adversários, que devem disputar um eventual segundo turno nas eleições deste ano. Porém, Amazonino, que não esteve no encontro, ainda tem grandes possibilidades de passar para a segunda fase. O clima se acirra cada vez mais.

Defesa

Wilson Lima preferiu o tom mais conciliador, optando por revidar aos ataques falando das realizações de sua gestão e de outros projetos em um eventual novo mandato de quatro anos no governo do Amazonas. Na realidade, o debate serviu como pano de fundo para atacar o governador a quatro dias do primeiro turno das eleições, tendo como um dos argumentos a frágil infraestrutura do Estado para o enfrentamento da pandemia que matou quase 15 mil pessoas. Ficou na mira de um fogo cruzado.

Liderança

As últimas pesquisas apontam o favoritismo de Wilson Lima, seguido de Amazonino Mendes e Eduardo Braga. Depois, vêm Ricardo Nicolau (Solidariedade) e Carol Braz. Os outros candidatos não têm avançado. No entanto, um possível segundo turno entre Lima e Eduardo Braga pode virar o jogo do tabuleiro eleitoral no Amazonas, segundo cientistas políticos. Com o apoio de Lula, o seu maior cabo eleitoral na disputa deste ano, o senador tem grandes chances de decolar. É esperar para ver mais adiante.

Liderança 2

No Senado, Omar Aziz (PSD) mantém o favoritismo, em detrimento de Arthur Neto (PSDB) e o Coronel Menezes (PL), que tem o apoio de Bolsonaro. Aliás, o presidente da República não tem economizado nos pedidos durante a propaganda eleitoral gratuita pedindo para os eleitores votarem no ex-superintendente da Suframa, seu amigo desde os tempos de academia militar. No entanto, tudo indica que Aziz, alvo também de um fogo cruzado dos seus principais oponentes (Arthur e Menezes), vai se reeleger.

Financiamento

Em encontro com empresário do comércio e da indústria, o governador Wilson Lima anunciou que o governo federal destinará pelo menos R$ 500 milhões para a recuperação do trecho do meio da BR-319, fundamental para ligar o Amazonas ao resto do País e os outros Estados que formam a Amazônia Ocidental. Licenças ambientais têm travado a pavimentação da estrada. E também existem por trás outros interesses contrários ao projeto, principalmente o segmento de balsas. Complicado.

Voto

Mesmo aliado de Wilson Lima, o prefeito David Almeida (Avante) disse que irá votar em Aziz. “Ele está ajudando Manaus”, ressaltou ao anunciar a sua escolha para as eleições. Ontem, porém, ele saiu com uma nova pérola, dizendo que não tem candidato. “Meu candidato é a população. Vou defender sempre a Zona Franca”. Almeida tromba com o Coronel Menezes, maior articulador da campanha de Bolsonaro no Amazonas. E não esconde a sua insatisfação com os decretos que reduzem o IPI.

Ódio

Infelizmente, a disseminação do ódio é uma das características destas eleições, culminando em mortes e tendo como vítimas seguidores de Lula. Há dois dias, um bolsonarista atacou um militante do PT com uma barra de ferro, que pedia votos para o ex-presidente em uma rua de Manaus. Foram dois golpes na cabeça. A vítima estava acompanhada de dois filhos adolescentes. O episódio só não terminou em mais uma tragédia porque transeuntes contiveram o defensor do atual presidente.

5G

O Ministério das Comunicações garante que o sistema 5G começa a ser operado em 6 de outubro em Manaus. A capital é uma das últimas a receber a conexão de alta velocidade, capaz de baixar arquivos em milésimos de segundo. A população aguarda com muita expectativa o início das operações da nova tecnologia que, em breve, deve também ser estendida para os municípios do interior do Estado, onde a internet é precária. A grande pergunta manifestada por muitos é – será que decola desta vez?

FRASES

“Vamos virar a página da história política desse Estado”.

Wilson Lima (UB), governador, durante comício pela reeleição.

“Mexer com Michelle é ultrapassar todos os limites”.

Jair Bolsonaro (PL), presidente, em resposta ao ministro Alexandre de Moraes.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.

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