A CDL-Manaus (Câmara dos Dirigentes Lojistas de Manaus) conseguiu tirar 42 mil consumidores amazonenses da lista vermelha do SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), no encerramento de 2022. Esse é o saldo da edição mais recente da tradicional campanha “Limpe seu crédito, faça seu nome brilhar”, realizada pela entidade no último bimestre de 2022, em parceria com 1.155 empresas. O resultado, no entanto, ficou pouco abaixo da meta, que de retirar um contingente de 43 mil consumidores da base de inadimplentes, além de contar com o apoio de um total de 1.235 pessoas jurídicas.
Motivos para otimismo não faltavam. Os meses seguidos de saldos positivos de empregos com carteira assinada, somado aos pagamentos de 13º salários e políticas de transferência de renda eram apontados como fatores que poderiam alavancar os resultados da campanha. O apelo ao consumo nas festas de fim de ano era outro trunfo apontado, uma vez que, ao limpar o crédito, o consumidor estaria apto a comprar mais. A confirmação do crescimento projetado pelos Lojistas para as vendas de Natal (+6%) reforça o argumento.
Em paralelo, a maior parte das pesquisas, incluindo as da proporia entidade, indicavam que o consumidor estava priorizando limpar o nome para poder contar com o crédito para suas compras, a despeito da alta dos juros. Sondagem da CDL-Manaus já mostrava que o percentual de manauenses dispostos a priorizar o 13º salário para quitar dívidas chegava a 39%, fatia bem mais robusta do que a capturada pela sondagem análoga da CNDL (Câmara Nacional de Dirigentes Lojistas), que indicava a mesma disposição para 17% dos brasileiros.
O presidente da entidade, Ralph Assayag argumenta que a redução da taxa de inadimplência possibilita ao comércio reduzir seus preços e ampliar ganhos de escala, em uma dinâmica positiva para empresas e consumidores. E, conforme o dirigente, também propicia melhora na autoestima do consumidor endividado. “Conforme for a limpeza do nome do consumidor, melhora a situação de seu escore e isso facilita mais a venda do comércio, já que as pessoas terão mais crédito para comprar”, frisou.
“Perda de foco”
O maior impulso da campanha de 2022 veio em seu primeiro mês de vigência, quando a CDL-Manaus conseguiu enxugar 18 mil cadastros, atingindo a meta estabelecida para aquele mês. A fase inicial contou com a participação de 735 empresas. Houve, contudo, uma nítida desaceleração em dezembro. A entidade já esperava números mais acanhados no mês em que todas as atenções estariam direcionadas para o Natal e o Reveillon, mas o número de novas negociações (24 mil) e de ingresso de empresas (420) veio abaixo do aguardado (25 mil e 500, respectivamente).
No entendimento do presidente da entidade empresarial, o principal motivo para que os números projetados não fossem efetivamente alcançados decorreu da corrida eleitoral. “A campanha resultou na diminuição da base de Inadimplentes, fechando dezembro com 376 mil negativados. No mesmo período, concorremos com o segundo turno das eleições, ocasionando a perda do foco. Isso acabou ofuscando nossas divulgações e reduzindo a participação de outras empresas. Ainda assim, atingimos um resultado satisfatório em dois meses”, ponderou.
Ainda assim, o balanço apontou para uma progressão de 2,44% sobre os números atingidos pela campanha em 2021, quando a entidade empresarial conseguiu positivar 41 mil pessoas. Vale notar, no entanto, que o saldo daquele ano também ficou muito aquém da estimativa inicial (48 mil), embora o Ralph Assayag assinale que o resultado “foi muito bom para um período ainda de pandemia”.
O número de empresas que abraçaram a campanha também foi maior do que o obtido no exercício anterior. De acordo com Ralph Assayag, a edição de 2021 contou com a participação inicial de 980 empresas, mas o número subiu para 1.110, no fechamento de dezembro daquele ano. O destaque foi o ingresso de concessionárias de serviços públicos – onde estão a maior parte das contas atrasadas –, como a Águas de Manaus. A Amazonas Energia, por outro lado, estendeu sua participação também a municípios do interior. Em 2022, órgãos públicos também teriam se juntado a time.
Longe do ideal
Com os resultados atingidos na campanha de 2022, a base de negativados dos últimos cinco anos foi reduzida dos 418 mil cadastros registrados até outubro, para um total de 376 mil, ao final de dezembro. Esperava-se que a taxa de inadimplência conseguisse ser revertida dos 3,4% para 3%, mas a entidade não informou qual foi a taxa efetivamente atingida na consolidação de 3033. Em entrevistas anteriores à reportagem do Jornal do Commercio, o comerciante ressaltou que o número ideal para o setor seria de 2,9% ou menos, um percentual que passou longe das estatísticas dos anos anteriores, em razão dos impactos econômicos da pandemia.
Na mais recente coletiva de imprensa a respeito do assunto, o dirigente lembrou que a crise da covid-19 fez a fatia de amazonenses negativados em comércio e serviços explodir, em 2020, ano inicial da pandemia. No período, a taxa disparou de 3,1% e chegou a atingir pico de 4,8%, logo após a primeira onda. Foi o maior número atingido pelo indicador, em mais de 15 anos, embora tenha perdido de longe para a média brasileira do período (7,2%). O número de pessoas com dívidas pendentes saltou de 329 mil para 380 mil naquele ano.
A partir de abril de 2021, o indicador perdeu força, em paralelo com o avanço da vacinação, o refluxo da pandemia e a reabertura das lojas. Mas as dificuldades econômicas impostas por inflação galopante, juros em alta e mercado de trabalho reagindo aquém do necessário, mantiveram a taxa em 3,9% – acima da média histórica (3,2%) e ainda abaixo do dado nacional (6,8%). Em 2022, os impactos de uma economia global ainda desarranjada pela pandemia e pela guerra na Ucrânia gerou mais movimentação de entradas e saídas no cadastro local do SPC Brasil.
O dirigente, no entanto, não quis falar sobre suas expectativas para 2023. Segundo o presidente da CDL-Manaus, a maior parte das dívidas do Amazonas inscritas no cadastro do SPC Brasil até outubro era relativa a serviços públicos de água e energia. Conforme o comerciante, o maior volume de débitos dizia respeito a valores “relativamente baixos” e, portanto, mais fáceis de serem negociados. A estimativa era que metade das dívidas era de R$ 1.000 ou menos, o que favorece parcelamentos. Ainda assim, a sazonalidade do primeiro trimestre, e a expectativa de aumento de impostos não abrem boas perspectivas para o consumidor ficar em dia com suas contas.