25 de novembro de 2024

Indústria registra quinto mês consecutivo de deflação

Os preços da indústria brasileira marcaram o seu quinto mês consecutivo de deflação, em dezembro. O declínio em relação a novembro foi de 1,29%, e veio mais forte do que o apresentado no levantamento anterior (-0,52%). Com isso, a inflação medida no setor fechou 2022 com alta de apenas 3,13%. Foi um patamar significativamente mais baixo do que o de 2021 (+28,13%), sendo este o terceiro menor percentual desde 2014. A indústria de transformação (-0,96% e +3,70%), contudo, mostrou números mais altos. Os dados são do IPP (Índice de Preços ao Produtor), e foram divulgados pelo IBGE, nesta quarta (1º). 

O indicador do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística confirma que os preços da indústria nacional seguiram em trajetória oposta à do IPCA, que marcou o seu terceiro mês seguido de aumento. Medida pelo mesmo órgão de pesquisa, a inflação oficial avançou 0,62% em dezembro, em alta mais severa do que as apontadas em outubro (+0,59%) e novembro (+0,41%). O resultado do IPP –que verifica a variação dos valores cobrados em “porta de fábrica”, sem incidência de impostos e fretes –também ficou abaixo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo no acumulado no ano (+5,79%).

Ao menos 15 das 24 atividades industriais tiveram quedas de preços na variação mensal. O impacto veio das indústrias extrativas (-7,21%), e dos segmentos de refino de petróleo e biocombustíveis (-5,46%), madeira (-2,96%) e produtos químicos (-2,79%). Em termos de influência, as atividades de maior peso foram as de refino de petróleo e biocombustíveis (-0,68 pontos percentuais), indústrias extrativas (-0,33 p.p.), produtos químicos (-0,25 p.p.) e metalurgia (-0,08 p.p.). Entre as grandes categorias econômicas, as influências se restringiram aos bens intermediários -2,08%) e de consumo (-0,43%), em detrimento dos bens de capital (+0,85%).

No acumulado do ano, apenas sete subsetores conseguiram marcar deflação, mas os segmentos de papel e celulose (+19,45%), impressão (+19,17%), perfumaria, sabões e produtos de limpeza (+16,99%) e fabricação de máquinas e equipamentos (+15,71%) mantiveram o indicador em alta. O resultado se estabeleceu também a partir da variação positiva de 11,92% para os bens de capital (com influência de 0,82 p.p.), alimentando reajustes nos preços da cadeia produtiva da indústria brasileira. Os bens intermediários (0,53 p.p.) ficaram 0,90% mais caros, e os bens de consumo (1,79 p.p.), 5,18%. 

Commodities em baixa

Em texto postado no site da Agência de Notícias IBGE, o gerente do IPP, Felipe Câmara, assinala que o resultado do indicador em dezembro consolida a trajetória deflacionária da indústria iniciada no segundo semestre do ano passado. Na análise do pesquisador do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, esse movimento descendente pode ser associado, “em grande medida”, à redução nas cotações internacionais das commodities, com destaque para os derivados de petróleo e produtos petroquímicos.

“Barril de petróleo, minério de ferro e insumos fertilizantes são alguns dos produtos de destaque nesse sentido. A redução do preço do óleo bruto, acompanhando os preços internacionais, além de exercer impacto direto sobre o resultado das indústrias extrativas, naturalmente provoca uma redução de custos ao longo da sua cadeia derivada, como o refino e os outros produtos químicos, com reflexo no preço final praticado nesses setores”, analisou

No caso dos alimentos, prossegue Felipe Câmara, a ligeira alta observada em dezembro estaria associada a aumentos pontuais. “Produtos com influência grande no resultado do setor, como carne bovina e leite, mantiveram a dinâmica de meses anteriores, com os preços em viés de baixa em face da maior oferta nesta época do ano. Influência superada por aumentos como o do açúcar cristal, provocado por uma expansão lenta da oferta nacional, ou do farelo de soja, que acompanhou a alta corrente do mercado internacional”, explicou.

Câmbio e incertezas

O ex-presidente do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), consultor empresarial e professor universitário, Francisco de Assis Mourão Júnior, avalia que os números já eram esperados, em razão da diminuição da atividade econômica global. Mas salientou que o câmbio ainda é um fator que induz inflação e que o cenário segue volátil. “Há muita pressão por causa da guerra na Ucrânia, e uma superprodução de petróleo, o que influencia nos preços das commodities. Mas, isso pode mudar a qualquer momento, diante das incertezas e dos riscos. Há resiliência na inflação e não creio que a indústria efetuará repasses”, frisou. 

O presidente da Aficam (Associação dos Fabricantes de Insumos e Componentes do Amazonas), Roberto Moreno, concorda que a diminuição da pressão dos custos é “tudo o que o setor espera”. Mas, ressalva que os repasses ao comércio devem ser analisados com “muita atenção”, mediante as condições de cada subsetor e que a “recuperação não ocorre diretamente”.  “Cada segmento trabalha com foco na aceitação de seus produtos e isso passa por estudos que impactam nos repasses”, explicou. 

O dirigente acrescenta que ainda há muita defasagem nos preços da indústria, para que qualquer alívio na coluna dos passivos das empresas possa ser dividido com a clientela. “Os últimos anos foram cruéis, devido aos aumentos de matérias-primas e problemas logísticos internacionais, sendo que a totalidade desses custos não foi repassada. A tendência é haver uma manutenção desse comportamento dos preços, lembrando que há um fator que a demanda influencia toda essa equação. Se cair, haverá necessidade de medidas corretivas”, ponderou.

Repasse iminente

Em sintonia, o presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas) e vice-presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Antonio Silva, destaca que os indicadores são positivos para a atividade e demonstram uma melhora contínua e substancial de seus preços base. “A deflação foi sentida, especialmente, sobre os bens intermediários, aqueles industrializados usados no setor produtivo. Temos ainda uma expectativa tímida em relação à manutenção dessa deflação para os meses subsequentes, haja vista o cenário de instabilidade econômica a nível nacional e internacional”, analisou.

Na mesma linha, o vice-presidente da Fieam e presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Manaus, Nelson Azevedo, diz que a deflação é benéfica para a economia, pois demonstra estabilização nos custos de produção, após um longo período de oscilações causadas pelo desajuste nas cadeias produtivas durante o enfrentamento da pandemia. Mas, destaca que a redução de preços tende a chegar ao consumidor, mais cedo ou mais tarde.

“A indústria é uma peça importante na engrenagem da economia e é afetada por diversos fatores, como infraestrutura logística, taxa cambial, taxa de juros e da carga tributária. Se o preço dos produtos manufaturados diminui, isso beneficia o consumidor final, que tem um aumento no seu poder de consumo. E, sem dúvida, o setor transfere para o preço dos produtos toda a redução de custo e melhorias na eficiência que consegue auferir. Com isso, aumenta o consumo e o número de postos de trabalho, além de contribuir para o aumento da capacidade instalada, reduzindo a ociosidade nas linhas de produção”, concluiu.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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