18 de outubro de 2024

        Consciência Política e Gestão Pública (III)

Dando continuidade temática aos artigos anteriores, apresento uma abordagem sintética sobre alguns países que evoluíram bastante no contexto das democracias ocidentais e  orientais. Neste contexto, adoto o conceito de evolução num sentido amplo e associativo, que vai dos costumes sociais às prioridades públicas, passando por gestões   transparentes e eficientes  dos organismos estatais. Trata-se de nações que estão sob a égide da democracia, com liberdade de expressão, eleições livres, com a escolha consciente de parlamentares e governantes. Além disso, valorizam o profissionalismo nos serviços governamentais e dão prioridade ao combate à corrupção, ao desenvolvimento econômico e um Sistema Judiciário bem organizado, com magistrados diligentes e honestos.

Países antes atrasados, Espanha e Portugal, saíram de ditaduras anacrônicas, a franquista e a salazarista, para regimes democráticos. E, desta maneira, puderam integrar a União Europeia, recebendo investimentos expressivos e adotando práticas de gestão evoluídas. Assim, deixaram de ser países subdesenvolvidos, passando ao patamar de nações desenvolvidas do I Mundo. Os cidadãos espanhóis e portugueses desfrutam hoje em dia de qualidade de vida bem superior à do Brasil e da maioria dos países da América Latina, contando com a garantia de bons serviços de saúde, de educação, de saneamento, de energia, de infraestrutura, de transporte, de cultura e de esportes. E, no caso de Portugal, a vantagem de um custo de vida mais baixo do que na maior parte do Brasil. Por isso mesmo, e também devido as  oportunidades de emprego e renda – a nação portuguesa continua atraindo muitos brasileiros desiludidos com as mazelas de nosso país.

Na Ásia, destaco o Japão e a Coreia do Sul. O primeiro soube aproveitar os investimentos norte-americanos do Plano Marshall e depois de ter sido praticamente destruído na II Guerra, tornou-se, em poucas décadas, uma das nações mais desenvolvidas do planeta. Os japoneses não desperdiçaram as oportunidades de investimento na educação e tiveram um foco estratégico na ciência e na tecnologia, saindo do estágio lamentável do pós-guerra para um patamar de bem-estar social e oportunidades econômicas de dar inveja ao resto do mundo. Da mesma maneira, umas duas décadas mais tarde, a Coreia do Sul também obteve um salto de desenvolvimento econômico e social impressionante, no período entre o final da década de 1970 e o início do atual século. Os sul-coreanos investiram de modo maciço na educação, na ciência e tecnologia, tornando seu país um modelo de desenvolvimento em menos de 30 anos! Hoje desfrutam de um alto nível de saúde e de renda, somente comparável aos Estados Unidos, Japão, Singapura, Formosa, Austrália, Nova Zelândia e países da Europa Ocidental.

Nos comparativos com o Brasil é interessante destacar que no início da década de 70, a Coréia do Sul possuía uma economia muito inferior à nossa. Hoje é um dos “tigres asiáticos” mais competitivos do mundo, ao nível do próprio Japão. Todos esses países, além da Alemanha, sofreram enormes revezes decorrentes da destruição e do sofrimento causados por guerras.  Mas tiveram em comum lideranças políticas voltadas para o bem comum e povos decididos a vencer de modo cooperativo, não individualista, os desafios de um processo intenso de desenvolvimento econômico aliado ao bem estar social.

Penso que nós brasileiros devemos ter a humildade de aprender com os sucessos – e os fracassos – de outras nações. Não se trata de copiar e importar modelos de gestão idênticos, até mesmo porque isto não é possível. Mas devemos observar onde estas e outras nações acertaram seus passos na direção correta e observar o que têm em comum: fortes e inteligentes investimentos em educação, em ciência e tecnologia, em infraestrutura, em saúde e no judiciário, principalmente. Tudo isso permeado por uma cultura política voltada para o bem comum das populações, com mecanismos efetivos de enfrentamento das desigualdades e da criminalidade, promovendo a ética do trabalho e focando no uso estratégico de seus recursos humanos e naturais.

Para concluir, estes países tiveram – ainda têm – um forte senso de propósito coletivo, associado aos princípios de solidariedade, respeito aos direitos e cumprimentos de deveres por parte dos cidadãos. O engajamento de suas populações, de acordo com estes e outros princípios éticos, individuais e coletivos, nas diferentes camadas sociais, foi e ainda é fundamental para sua prosperidade, competividade e qualidade de vida. 

Cabe a nós brasileiros fazer uma profunda reflexão onde desejamos chegar como povo e nação. E nos inspiramos e orientarmos pelos bons exemplos de outros países.

Luiz Castro

Advogado, professor e consultor

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