Os rios da Amazônia são ricos em peixes sem escamas, os chamados peixes lisos: surubim, piramutaba, piracatinga, bacu, pirarara, dourado, pintado, jaú, mandi, caparari e mapará, entre várias outras espécies, mas culturalmente as pessoas, tanto ribeirinhos quanto moradores das cidades, não têm o hábito de consumi-los, apesar da carne macia, saborosa e com poucas espinhas.
Desde o dia 15 de março passado, com o fim do defeso, a pesca de oito espécies de peixes foi liberada pelo Ipaam (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas) até novembro, entre elas os lisos caparari, surubim e mapará. Mas se os lisos não são apreciados pelos amazônidas, por que entram na lista do defeso? A resposta é que, não são apreciados aqui, na região, mas fazem a festa no Nordeste, Peru e Colômbia, para onde são enviados às toneladas. Prova disso é que as 315 toneladas pescadas esse ano durante os três dias, 16, 17 e 18 de março, no evento ‘Pesca do Mapará’, no lago do Tilheiro, entre os municípios do Manaquiri e Careiro Castanho, já tinha direcionamento certo para aqueles destinos.
Para mostrar aos amazonenses que tais peixes, bem preparados, não deixam nada a desejar aos campeões de consumo, tambaqui, pirarucu e matrinchã, a chef Débora Renata, do restaurante Point Gourmet, no Careiro Castanho, deu algumas dicas de como fazê-los cair no gosto dos amantes de peixes.
“Entre os peixes lisos, o surubim sempre foi o que mais apareceu, seguido pelo mapará. Os demais, praticamente ninguém consome. Quando trabalhei na Pousada 319, no quilômetro 107 da BR-319, vendia muito filé de mapará, parte que eu chamo de ouro do mapará”, revelou.
Poucas espinhas
A forma mais comum de o ribeirinho consumir o mapará é assado, principalmente porque sua carne é muito gorda. Pescado na hora e preparado em seguida, acompanhado de farinha, não tem melhor.
“Para mim, o sabor das carnes dos peixes lisos tem algo parecido com o sabor da carne dos peixes de mar. O mapará, por exemplo, tem um sabor e um cheiro bastante fortes, por isso eu indico mariná-lo antes, com limão e sal. Quem preferir pode deixá-lo de molho em uma mistura de temperos de sua preferência, depois é só assar, fritar ou cozinhar”, falou.
“Pelo costume, que vem do interior, as pessoas preferem o mapará assado. Na minha opinião, entre o frito e o cozido, eu prefiro o frito, mas isso é questão de gosto pessoal, e cada pessoa tem seu gosto”, afirmou.
Uma das principais características dos peixes lisos é ter poucas espinhas com a carne, podendo ser facilmente retirada sem o perigo de engolir alguma delas, diferente de espécies com escama que, mesmo ‘ticadas’, podem ‘esconder’ as perigosas pontas. Alguns exemplos são o matrinxã, o curimatã, o aracu, e os piores: a pirandira (peixe cachorro) e o apapá, este, o pior entre os piores.
“Exatamente por esse motivo, do mapará você consegue retirar filés e saboreá-lo tranquilamente. Um mapará adulto normalmente mede 45 cm, mas pode chegar a 60 cm. Imagine um suculento filé desse tamanho”, contou.
“Outra forma que se pode servir o peixe é em postas. Como essas espécies são meio roliças, são ideais para se cortar as postas preferencialmente retirando-se a parte do osso dorsal”, explicou.
Ótimo petisco
Apesar de ser bastante gorda, a carne do mapará é rica em proteínas, vitaminas, minerais e gorduras boas, como o ômega 3, por isso seu consumo é indicado para a prevenção de doenças cardiovasculares, melhoras na memória e fortalecimento de ossos e dentes.
“A comida gostosa é aquela bem preparada, feita com amor, então, dependendo de quem faz, qualquer peixe liso pode ficar muito saboroso. Pense num mapará frito no molho de camarão numa fusão de peixe de rio com fruto do mar. O filé do peixe pode ser assado, frito ou cozido, e por que não a milanesa? Com certeza ficará tão saboroso quanto o tradicional pirarucu a milanesa”, ensinou.
E a imaginação da chef Débora vai longe.
“Já fiz moqueca de mapará. Nesse caso, deve-se temperar com o que for do seu gosto: ervas, pimenta, leite de coco, azeite de dendê, jambu, coentro, urucum. Vai de cada um. Também já preparei o peixe assado, desfiado acompanhado com batatas e banhado com azeite. Excelente”, garantiu.
Quando parece que o cardápio de Débora acabou, ela surge com algo inusitado.
“O mapará a milanesa, cortado em pequenos pedaços, é um ótimo petisco para acompanhar uma cerveja gelada, e para quem sabe comer, a cabeça do peixe não pode ser desperdiçada”, finalizou.
O Point Gourmet Castanho (av. Sargento Nonato Brito, 137 – Bairro da Paz) serve café da manhã, almoço e no sábado tem um happy hour. Abre diariamente das 6h às 23h. Informações: 9 9193-8936. O restaurante tem Face e Instagram.