Nos últimos dias, a notícia do reajuste da passagem do transporte público em Manaus pegou os usuários de surpresa. O anúncio feito em coletiva no dia 19, onde revelou que a passagem passaria de R$ 3,80 para R$ 4,50 a partir do domingo, dia 21.
O atual prefeito de Manaus informou que o número de passageiros do transporte coletivo da cidade caiu e, hoje em dia, a frota atende em média 10 milhões de passageiros por mês. A meta da atual gestão é entregar 420 ônibus até o final do contrato; a estimativa é que até o final de 2023 sejam entregues 150 novos veículos, e até 2024, sejam mais 200.
Após seis anos sem reajuste, a nova tarifa veio em meio a um anúncio de greve geral por parte dos trabalhadores do transporte coletivo coordenado pelo Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Manaus. Como reivindicação, os profissionais solicitavam reajuste salarial, além de outros benefícios.
Como forma de remediar a classe, a prefeitura decidiu aumentar a tarifa integral, assim como a tarifa estudantil; apesar dos estudantes da rede municipal terem acesso aos benefícios do Passe Livre Estudantil, ainda há muitos alunos bolsistas em escolas particulares que utilizam o transporte coletivo, além de estudantes de faculdades da capital.
A prefeitura justifica que paga R$3,72 por passageiro, e a partir do reajuste, a pasta pagará R$ 3,02; a instituição informou também que sem o reajuste, não teria como manter a data-base dos funcionários que atuam nas secretarias. Diante de todo o embaraço entre prefeitura e sindicato, apenas uma parte foi realmente afetada diretamente: a população.
Os manauaras, além de pagar mais caro para utilizarem o transporte coletivo, também estarão a mercê de problemas que colocam em risco a vida dos usuários, como os assaltos aos coletivos, por exemplo.
De acordo com a SSP-AM (Secretaria de Segurança Pública), houve uma queda de 8% nos casos de roubo a ônibus em Manaus em 2023, até o momento. Já no ano de 2022, o Sinetram (Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Amazonas) apontou que foram registrados 1.943 assaltos a coletivos na cidade.
Em contrapartida, basta ligar a TV ou abrir um portal de notícias online para acompanhar casos de violência dentro de ônibus que operam na cidade. A linha 650, por exemplo, virou alvo de grupos criminosos após ser constantemente assaltada durante o turno da noite na capital.
Não podemos esquecer a triste história do jovem aprendiz Melquisedeque Santos do Vale, que tinha 20 anos quando foi assassinado durante um assalto a ônibus após mais um dia de trabalho. Mesmo entregando todos os pertences e sem reagir de maneira alguma, o trabalhador foi baleado na cabeça e morreu na hora. Uma fatalidade que poderia ocorrer com qualquer um que utilize o transporte coletivo.
Apesar da redução de casos, a população se sente segura ao utilizar o transporte coletivo? Você acha que faz sentido aumentar a tarifa do transporte vivendo em meio à insegurança no ônibus, frota ineficiente, sucateamento de paradas de ônibus e falta de acessibilidade para usuários com deficiências físicas?
Colocando na ponta do lápis, devemos analisar o impacto desse aumento no bolso de quem pagará por esta mudança, ou seja, na vida do manauara. Se você paga duas passagens de ônibus por dia, durante os cinco dias da semana, no final do mês você pagará R$ 198, ao invés de R$ 167,20, como era antes do reajuste.
Um aumento de um pouco mais de R$ 30 que poderia ser usado em outros gastos pessoais, como alimentação, pagamento de dívidas, mas que agora, por conta do reajuste, estará comprometendo a renda mensal das famílias amazonenses.
A tarifa do transporte público em Manaus, mesmo que recente, possui um peso significativo na vida do usuário. Entre contar moedas para conseguir finalizar o mês e viver em insegurança, o manauara precisará economizar para continuar pegando o mesmo ônibus lotado diariamente, correndo os mesmos riscos, dentro de um sistema que ainda não consegue atender todas as demandas da população.
*é deputado federal eleito pelo Amazonas, pela 2ª vez