19 de setembro de 2024

Aleam tramita projeto que proíbe menu exclusivamente digital

Com objetivo de facilitar o acesso dos consumidores aos menus, vários estabelecimentos que atuam com alimentação fora do lar implantaram os cardápios digitais e QRCode. No entanto, a iniciativa é questionada pelo deputado estadual Thiago Abrahim (União Brasil), por entender que a tecnologia traz certa dificuldade para quem não domina as opções por meio do celular, em especial os idosos. Ele é o autor do PL em tramitação na Aleam (Assembleia Legislativa do Amazonas),  que proíbe a disponibilização do cardápio ou menu exclusivamente digital nestes locais.

De acordo com o deputado, o projeto de lei visa garantir ao consumidor o direito de ter o cardápio físico, pois, muitas vezes, o consumidor não tem Smartphone com acesso à internet ou está com o celular sem bateria. “É importante também  que possamos incluir as pessoas idosas, que têm dificuldade no manuseio da tecnologia e deficientes visuais para que também possam ter acesso aos cardápios. Destaco que o nosso projeto de lei não proíbe o uso do cardápio digital com QR Code, mas é importante dar mais uma  opção ao consumidor”, explicou. 

Na contramão, o presidente da Abrasel-AM (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), Rodrigo Zamperlini, rebate, e diz que a entidade não é favorável à imposição de uma lei para obrigar os estabelecimentos a disponibilizarem o cardápio impresso. “Nós entendemos que o cliente tem liberdade de escolha”. 

Conforme o projeto, os cardápios exclusivamente digitais não são inclusivos, pois os consumidores precisam ter o telefone conectados a internet e o QRCode pode ser desafiador para quem tem pouco familiaridade com as novas tecnologias. 

Já algum tempo os cardápios digitais vem ganhando cada vez mais espaço nesses locais. Com um mundo mais digital, a Abrasel vem apostando nesse processo e sempre enfatizou sobre a importância do uso de cardápios em QR Code em bares e restaurantes para aprimorar a experiência dos clientes. Além de oferecer uma solução prática e higiênica para apresentação do menu, o uso desta tecnologia traz inúmeros benefícios para os estabelecimentos, como a possibilidade de atualizações rápidas de informações detalhadas dos pratos.

Rodrigo Zamperlini, reforça que o cliente tem liberdade de escolha. E que se ele for a algum estabelecimento que tenha apenas o cardápio em QR Code, que não agrade, tem toda a liberdade de buscar um outro local onde ele se sinta atendido com o cardápio impresso. 

Incômodo x acessibilidade

Em material compartilhado pela assessoria, Simone Galante, fundadora e CEO da Galunion, consultoria especializada em alimentação fora do lar e catalisadora de conhecimento, network e inovação em prol dos negócios e dos profissionais do setor, é sabido que, como qualquer outra mudança, é necessário um certo tempo para nos acostumarmos com essa nova realidade. Mas admite que tal iniciativa vem sendo questionada por alguns consumidores saudosos do cardápio físico. 

“Vale a pena lembrar que o setor de restaurantes, bares, lanchonetes e similares vive da fidelização de seus clientes, que buscam alimentos saborosos, acessíveis, sem renunciar à qualidade e muitas vezes necessitam de rapidez, e a diferenciação entre os negócios muitas vezes é a hospitalidade. É um setor muito competitivo, com várias opções no mercado. E quando o consumidor não é bem atendido, muitas vezes troca o estabelecimento por outra opção, e é por isso que atender seu cliente com um bom produto e serviço a preços justos é um cuidado muito importante”, enfatizou. 

Dados revelados pela especialista na 6ª edição da pesquisa Alimentação Hoje: a visão do consumidor, realizada pela Galunion, é possível observar que as novas gerações preferem digitalização e ter autonomia no momento de efetuar o pedido na hora das refeições. Para os entrevistados de 18 a 23 anos, 52% preferem este meio para acessar o menu, 43% para realizar o pedido e 45% para realizar o pagamento. Na faixa etária que vai de 24 a 38 anos, 48% preferem o digital para acessar o menu, 41% para realizar o pedido e 45% para pagar o pedido. Porém, quando considerada as idades entre 39 e 54 anos, apenas 38% preferem acessar o menu digital, 36% realizar o pedido e 42% efetuar o pagamento.

Apesar da preferência do consumidor contar muito na jornada de compra no mercado de Food Service, a implantação de cardápios digitais, como o QRCode, trazem benefícios e vantagens ao setor como um todo, em diferentes frentes. Uma das questões é a praticidade e autonomia, já que é possível acessar as opções disponíveis no menu com apenas um clique, de forma mais rápida, sem a necessidade de esperar pelo garçom. Isso facilita muito a dinâmica principalmente quando o local está com alto volume de pessoas.

De acordo com o material enviado pela assessoria da empresa, ao considerar os novos hábitos oriundos da pandemia, trata-se de uma opção mais higiênica se comparado ao cardápio em papel ou plástico, que podem não ser limpos com a frequência necessária ao longo do dia. Esta alternativa também visa questões de acessibilidade, já que na evolução dos cardápios digitais sabemos que é possível ouvir o cardápio em caso de pessoas com deficiência visual, por exemplo, promovendo mais autonomia na hora da escolha. Para aqueles que acham as letras pequenas, basta aumentar a tela por meio de zoom, para facilitar a visualização, ou até mesmo as letras. Para pessoas com baixa visão, os smartphones atuais tem a opção de deixar o fundo preto e as letras brancas, melhorando a leitura. E na questão das pessoas que possuem alergia a ingredientes e precisam das informações nutricionais, podem ter links para facilitar o acesso, que muitas vezes o atendente ou garçom não saberiam explicar.

Vantagens

Uma das melhores vantagens é que o cardápio digital acaba sendo mais ecológico, pois não há a necessidade de ser impresso. Sim, isso reduz custos, o que é importante para os preços do cardápio continuarem a ser competitivos. Mas também traz outras vantagens: o cardápio digital pode ser atualizado antecipadamente a cada mudança de prato, alteração de valores ou inclusão de promoções esporádicas. Por meio do digital, as promoções podem ser aproveitadas de forma melhor e mais ágil, ganhando destaque logo que o consumidor acessa o menu da casa. Há muitos chefs que adotam produtos mais frescos e sazonais, e o cardápio digital facilita a introdução das novidades. No caso do impresso, há uma dificuldade nas alterações, pois há a necessidade de uma nova versão. Ou seja, também há uma redução considerável na produção de lixo e nos gastos com impressão de inúmeras cópias.

Pensando do ponto de vista do estabelecimento, o próprio dono pode acessar, editar e incluir as novidades de maneira prática e dinâmica. Isso possibilita o lançamento de promoções com mais frequência, que acabam sendo uma alternativa mais atrativa e barata aos próprios clientes. Na parte visual, as fotos acabam sendo um destaque à parte, já que, como sabemos, comemos primeiro com os olhos do que com a boca. Assim, as imagens dos produtos também facilitam no momento de escolher o que beber ou comer em determinada ocasião.

Temos ainda o benefício, no cardápio digital, de atualizar os produtos que temos em estoque: aquela bebida que acabou, ou ingrediente, pode ser facilmente atualizado e no cardápio consta apenas o que realmente se tem. Ou seja, sem o consumidor ficar frustrado por pensar em pedir algo e de repente o garçom informa que infelizmente este item não poderá ser servido.

Os benefícios são inúmeros, mas há quem não goste ou não se adapte a esta nova realidade. Para isso, os bares e restaurantes devem sempre prezar pela hospitalidade, tendo o QRCode ou tablet como opção principal, mas ter formas de atender os consumidores que têm alguma resistência ou dificuldade de verificar as opções por meio de uma tela. E isso também pode ser feito digitalmente, com um tablet do garçom que explica o menu. Ou pelos exemplares impressos, que, no entanto, limitam a introdução de novidades, aumentam os custos, são menos higiênicos e podem não ter as fotos que tantos gostam no momento da escolha.

Mais autonomia para uns, incômodo para outros. Porém, as questões que envolvem o quesito sustentabilidade, seja ela no âmbito social, econômico ou ambiental, acabam sempre prevalecendo quando optamos pelo digital. Pode dar um pouco de trabalho para alguns, há necessidade de evoluirmos nas transformações da jornada dos consumidores para quem opta pelo digital, mas é fato de que pode ser bom para o planeta como um todo.

Andréia Leite

é repórter do Jornal do Commercio

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