24 de novembro de 2024

Ferramenta para o homem do interior cultivar palmeiras em escala

O Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) acaba de assinar o contrato de Transferência de Tecnologia da ferramenta palmhaste para a empresa Carvalho Suportes, que agora a produzirá em escala industrial.  

“Esse contrato oficializa uma parceria que tem como missão principal levar o resultado das pesquisas realizadas pelo Inpa à sociedade. Trata-se do sétimo contrato assinado nesta categoria e a quinta tecnologia a ser disponibilizada para produção e comercialização”, informou Noélia Falcão, coordenadora de Gestão da Inovação e Empreendedorismo do Inpa.

“A palmhaste é uma tecnologia reconhecida, simples, acessível, fácil de ser replicada e capaz de colher cachos de todas as espécies de palmeiras arbóreas altas, e que possuem estipes (troncos) finos, grossos, retos ou tortuosos, lisos ou espinhosos e com até 18 metros de altura”, falou o engenheiro florestal Afonso Rabelo, um dos inventores da palmhaste.

“Para que a ferramenta seja operante e capaz de atingir as alturas desejadas, foram produzidos acessórios para apoiar o equipamento no tronco das palmeiras e, simultaneamente assegurar a sustentação, equilíbrio, estabilidade e a segurança do operador da ferramenta durante todas as atividades de colheitas dos cachos”, completou.

A palmhaste é constituída por 13 tubos redondos de alumínio naval, com cada unidade medindo 1m50 de comprimento, por 3,20cm de diâmetro e pesando 850 gramas. Seu peso total é de 10,8 quilos.

A ideia da criação dessa ferramenta surgiu em 2015, após a experiência de Afonso em trabalhos de campo realizados em comunidades rurais e extrativistas na Amazônia. Nesses locais, ele observou a ocorrência de acidentes e grandes dificuldades dos produtores rurais e extrativistas nas colheitas dos cachos das espécies de palmeiras pelos métodos tradicionais. Além disso, verificou enormes desperdícios de frutos. Na busca de soluções tecnológicas na literatura e no mercado, atestou que não existia nenhuma tecnologia eficaz sendo usada nas colheitas das diferentes espécies de palmeiras, sobretudo na Amazônia, pois as colheitas dos cachos das palmeiras, principalmente aquelas de porte elevado ou espinhosas, são muito difíceis, por essa razão, a produtividade é afetada devido ao desperdício de frutos. Junto com Afonso, também participaram da criação da palmhaste os ilustradores botânicos Felipe França e Gláucio Belém.

Operando transformações

Em 2019, ainda só no protótipo, o invento de Afonso foi certificado pela Fundação Banco do Brasil de Tecnologias Sociais.

“Isso indica que esta ação conseguirá operar transformações no ambiente em que atua e que é possível observar resultados, sejam eles quantitativos ou qualitativos. Uma iniciativa certificada, de acordo com as concepções da FBB/TS, apresenta relevantes resultados em uma comunidade e com potencial de disseminação para outros territórios e por outras entidades”, informou.

Os principais usuários da palmhaste serão produtores rurais de frutos de palmeiras, comunidades extrativistas, estudantes de pós-graduação que desenvolvem dissertações e teses com frutos das espécies de palmeiras e pesquisadores das espécies de palmeiras.

Do protótipo à fabricação

A Carvalho Suportes surgiu em 20 de fevereiro de 2020, mas a história de Edimar Carvalho com o empreendedorismo começou bem antes.

“Eu tive uma empresa, com mais de 200 funcionários, prestadora de serviços para o Polo Industrial de Manaus, entre os anos de 2005 e 2013. Devido à concorrência, que cobrava preços mais baixos e começou a prejudicar meus negócios, em 2015, me vi obrigado a fechar a empresa, porém, investi em máquinas e equipamentos, pois tinha intenção de montar uma metalúrgica. Minha esposa gosta de plantas, então comecei a fabricar suportes para as plantas dela. Logo começaram a surgir clientes se interessando pelos suportes e encomendando”, contou.

Um dia, Edimar conheceu o pai de um amigo de sua filha. Ao saber que Edimar tinha uma metalúrgica, este revelou trabalhar no Inpa, e falou sobre uma ferramenta que estava sendo desenvolvida no Instituto, mas que os pesquisadores encontravam dificuldades para concretizá-la.

“Ele disse que iria pedir para um deles entrar em contato comigo. Era o Afonso. Vi o protótipo da ferramenta e levei uma peça para analisar. Perguntei se eu poderia fazer algumas modificações e eles permitiram. Voltei uns 20 dias depois com outro conceito e informei que daquele jeito seria possível fabricá-la. Isso foi em outubro de 2019. Em janeiro de 2020 saiu a primeira licitação, logo cancelada. Depois tudo parou por conta da pandemia. Somente em maio de 2022 veio outra licitação, aí ganhamos”, comemorou.

Desde então a Carvalho Suportes vem fabricando a palmhaste e vendendo para todo o Brasil.

“Continuamos fabricando suportes e móveis de metal e madeira, mas criamos uma linha de montagem somente para a palmhaste, tal a quantidade de pedidos. Seu potencial de vendas é grande”, finalizou Edimar.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio

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