19 de setembro de 2024

Comerciantes de Manaus ensaiam retomada de otimismo 

Os comerciantes de Manaus retomaram parte do otimismo, em maio. O avanço seguiu na contramão da média nacional e foi puxado pelas perspectivas para a economia, para o setor e para a empresa. Houve melhora também na formação de estoques e nas intenções de investir, mas o mesmo não pode ser dito dos planos de efetuar novas contratações, no curto prazo. Companhias com mais de 50 funcionários e que atuam no setor de bens não duráveis são as mais confiantes. É o que revelam os dados locais do ICEI (Índice de Confiança do Empresário do Comércio), levantados pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).

Manaus aparece com 108,1 pontos no levantamento, sendo que valores acima de 100 pontos indicam satisfação. O resultado configura acréscimo de 2,85% em relação a maio de 2023 (105,1 pontos), embora ainda esteja 17,74% abaixo da marca do mesmo mês do ano passado (129,9 pontos). Mesmo com a melhora, o indicador de Manaus não conseguiu chegar ao nível de dois meses atrás (111 pontos). Já a média brasileira (108, pontos) foi na direção contrária, com declínio mensal de 0,6%, levando o ICEC nacional ao menor patamar desde junho de 2021. Em relação a 12 meses atrás, a queda foi de 13,1%.

Nos últimos meses, o ICEC de Manaus vinha contrastando com os dados de outras pesquisas da CNC. O indicador de ICF (Intenção de Consumo das Famílias) confirmou seu 12º mês de aumento mensal, sendo alavancado por nova melhora nas percepções do consumidor local sobre sua renda, emprego e acesso ao crédito, assim como nas perspectivas e na disposição de adquirir bens duráveis. A Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), por outro lado, confirma que os níveis de comprometimento de renda e inadimplência das famílias da cidade ainda se mantêm elevados, embora tenham voltado a declinar. 

Empregos e investimentos

Diferente do ocorrido em maio, sete dos nove subcomponentes do indicador de confiança do comerciante mostraram recuperação em Manaus, embora dois deles ainda estejam no nível de insatisfação. As melhoras mais acentuadas vêm das expectativas para o desempenho do comércio (+6% e 165,7 pontos), das empresas (+4,4% e 170,2 pontos) e da economia (+3,7% e 154,6 pontos). O crescimento otimismo também foi significativo para o nível de investimentos nas empresas (+4% e 121,2 pontos) e a situação dos estoques (+5,1% e 94,7 pontos). 

As avaliações sobre as condições atuais da economia nacional (+3,6% e 92,2 pontos) e dos negócios (+0,2% e 121,5 pontos) tiveram melhora menos significativa. Os pontos baixos se limitaram, desta vez, às percepções do empresário local sobre o estado atual do comércio (-2,4% e 119,3 pontos) e o nível de contratações de funcionários (-1,2% e 130 pontos) – sinalizando que o sinal amarelo ainda não se apagou no comércio de Manaus. Vale notar que o levantamento mais recente do Novo Caged confirma que, de janeiro a maio, o comércio de Manaus eliminou 511 postos de trabalho com carteira assinada.

A maioria dos varejistas locais considera que a situação atual da economia brasileira “piorou muito” (38,1%). O percentual dos que apontou que “melhorou um pouco” (29%) subiu, mas praticamente empata com o grupo dos que avaliam que “piorou um pouco (27%). Apenas dizem que 5,2% “melhorou muito” e esse número também cresceu. A visão predominante comércio ainda é de piora relativa para o comércio (31,5%) e de melhora atenuada para a empresa (41,3%). Companhias que empregam mais de 50 pessoas e que atuam com bens não duráveis são as mais otimistas. 

A pesquisa mostra um panorama melhor para as expectativas dos comerciantes de Manaus. A avaliação geral é que a economia brasileira vai “melhorar um pouco” (35,7%) ou até “melhorar muito” (34,1%), em detrimento das fatias minguantes dos que cravam que vai “piorar muito” (17,9%) ou “piorar um pouco” (12,3%). Os sentimentos que pesam mais para o setor e para a empresa também são de progressos mais significativos (41,7% e 48,5%, na ordem). 

Apesar da queda do subindicador de contratação de funcionários, a parte majoritária dos lojistas ainda aponta que seus quadros devem “aumentar pouco” (46,95%). A parcela dos que dizem que pode “reduzir um pouco” caiu para 30,4%. Já as projeções predominantes para investimentos são de que será “um pouco maior” (34,5%), para uns, ou “um pouco menor” (34,2%), para outros. A situação dos estoques também melhorou e 64,5% dos comerciantes dizem que está “adequado”, em detrimento dos que informam que está acima (20,9%) ou abaixo (13,9%) do ideal.

Segundo semestre

O presidente em exercício da Fecomercio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços de Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, concorda que a sondagem mostra Manaus com um destaque positivo que não aparece na média nacional. O dirigente explica que a avaliação dos estoques ainda reflete os preparativos para o Dia das Mães, e atribuiu a melhora geral dos indicadores principalmente à proximidade da segunda metade do ano, que traz mais datas comemorativas e menos chuvas.

“A entrada do verão traz perspectivas boas para o comércio. Começamos o ano com muitas chuvas e com a grande maioria dos consumidores negativados e sem crédito. Essa inadimplência tirou vigor das vendas. Mas, costuma haver um incremento de 35% a 40% nas vendas, entre o primeiro e o segundo semestre. O governo tem se preocupado com a questão do crédito, através do Programa Desenrola. E há perspectivas de o Banco Central reduzir os juros, a partir de agosto. Isso tudo é positivo, mas ainda estamos longe de índices normais de comportamento do varejo”, ponderou.

“Sinal de alerta”

Em texto da assessoria de imprensa da CNC, o presidente da entidade, José Roberto Tadros, ressalta que a queda da confiança dos comerciantes mostrada na pesquisa é um sinal de alerta, pois o setor vem sofrendo com as altas taxas de juros e as dificuldades que os consumidores têm de acessar crédito e pagar dívidas. “O resultado do Icec de junho mostra que os empresários estão cautelosos com a situação econômica atual do país, que afeta diretamente o consumo das famílias”, afiançou. 

Já a economista responsável pela análise da pesquisa, Izis Ferreira, apesar dos crescimentos de intenção de consumo entre as famílias brasileiras, o crédito caro e restrito ainda é um freio paras as compras. “O otimismo do consumidor, com maior segurança no emprego e melhora da renda disponível pela inflação mais baixa, não tem se traduzido em alta das vendas no varejo de forma geral e sustentada. Isso tem se refletido na redução da confiança do varejista”, concluiu, acrescentando que “a permanência dos juros altos tem levado os comerciantes a redefinirem as estimativas de vendas para baixo, assim como os aportes em pessoal e capital físico da empresa.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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