A corrente de comércio exterior do Amazonas encolheu no primeiro semestre. A soma das exportações e importações mal encostou nos US$ 7.26 bilhões, sendo 3,97% inferior ao dado do mesmo período de 2022. As vendas externas avançaram, principalmente de produtos primários. Mas, as aquisições de partes e peças importadas para o PIM, que compõem a parte majoritária da balança comercial amazonense, seguiram em declínio. É o que revelam os números do Mdic, disponibilizados no site Comex Stat.
A base de dados alimentada pelo governo federal confirma que, em seis meses, o saldo das vendas externas do Amazonas se mantém positivo em 10,85%, com US$ 477.95 milhões (2023) contra US$ 431.16 milhões. Mas, o mesmo não pode ser dito das compras do Estado no estrangeiro, que sofreram recuo de 4,90% e passaram de US$ 7.13 bilhões (2022) para US$ 6.78 bilhões (2023). A análise trimestral, que é usada para captar tendências, confirmou um decréscimo de 10,89%, para as importações (US$ 3.19 bilhões), e uma escalada de 19,40%, para exportações (US$ 260.10 milhões).
A análise mensal mostra que o problema se agravou em junho. As vendas externas somaram US$ 78.75 milhões em junho, configurando um avanço de 5,28% em relação a maio (US$ 74.80 milhões) –que também teve 21 úteis. Já a comparação com maio de 2022 (US$ 85.01 milhões) apontou queda de 7,36%. As importações tiveram performance ainda pior: despencaram 17,6% na variação mensal, de US$ 1.25 bilhão para US$ 1.03 bilhão, além de ficarem 12,71% abaixo do dado de 12 meses atrás (US$ 1.18 bilhão).
O comparativo da pesagem das mercadorias apresenta desempenho ainda menos desfavorável para as exportações, possivelmente impactado pela variação cambial e a inflação internacional. O volume das vendas ficou em 19,72 mil toneladas, 13,96% a menos do que em maio (22,92 mil toneladas) e encolheu 10,32% frente à marca do mesmo mês de 2022 (21,99 mil toneladas). Já as importações (331,48 mil toneladas) ficaram 21,23% mais baixas na comparação com o mês anterior (420,82 mil toneladas), embora tenham crescido 46,08% sobre o valor contabilizado em igual intervalo de 2022 (217,46 mil toneladas).
Insumos e primarização
Dominada por insumos para o PIM, a lista de importados é encabeçada por circuitos integrados e microconjuntos eletrônicos (US$ 203.03 milhões) e discos, fitas e suportes para gravação de sons (US$ 92.75 milhões), além de óleos de petróleo” (US$ 84.76milhões). As posições seguintes foram ocupadas por polímeros de etileno (US$ 49.84 milhões), partes e acessórios de veículos de duas rodas (R$ 39.16 milhões) e componentes para aparelhos eletroeletrônicos (R$ 24.90 milhões). A lista inclui também manufaturados, como aparelhos de ar-condicionado (US$ 34.81 milhões) e celulares (US$ 33.97 milhões).
A China (US$ 407.15 milhões) confirmou liderança no ranking de fornecedores para o PIM, embora tenha sofrido recuo 5,86% na comparação com o valor de um ano atrás (US$ 432.50 milhões). Na sequência estão Estados Unidos (US$ 88.28 milhões), Rússia (US$ 84.03 milhões), Coréia do Sul (US$ 70.58 milhões), Taiwan/Formosa (US$ 64.57 milhões) e Vietnã (US$ 60.68 milhões), entre 89 nações que negociam com o Amazonas.
Do lado das exportações, a Colômbia (US$ 8.10 milhões) caiu da liderança para o terceiro lugar, ao retroceder 27,81% na variação anual. Foi precedida pela Alemanha (US$ 10.90 milhões) e China (US$ 9.72 milhões). A primeira adquiriu principalmente ouro (US$ 10.63 milhões), enquanto a segunda praticamente resumiu suas compras a ferro-ligas/nióbio (US$ 8.46 milhões). Na sequência estão Argentina (US$ 7.78 milhões), EUA (US$ 7.20 milhão), Vietnã (US$ 4.27 milhões) e Venezuela (US$ 4.04 milhões), em um total de 75 países.
A pauta foi liderada pelas motocicletas (US$ 11.98 milhões), em valor quase idêntico (+0,76%) ao de 12 meses atrás (US$ 11.89 milhões). O pódio foi dividido com ouro (US$ 10.63 milhões) e preparações alimentícias/concentrados (US$ 10.18 milhões). Outro destaque veio do ferro-ligas/nióbio (US$ 8.46 milhões), em um rol de 336 itens. Em função da primarização da pauta e da presença de muitos produtos acabados, os próximos manufaturados do PIM só aparecem na 8ª, 11ª, 13ª e 14ª posições em diante –barbeadores (US$ 2.62 milhões), autorrádios (R$ 1.94 milhão) e celulares (R$ 1.25 milhão)
Esperança no câmbio
Para o diretor adjunto de Infraestrutura, Transporte e Logística da Fieam, e professor da Ufam, Augusto Cesar Rocha, a queda das importações em uma escala de dois dígitos é uma “surpresa preocupante”. “Isso pode apontar uma tendência negativa. Talvez a variação cambial tenha começado a fazer efeito. Um estoque excessivo é outra hipótese a ser verificada, com o tempo”, conjecturou.
Na análise do dirigente, o processo inflacionário embutido na moeda americana está sendo percebido nos custos do setor, o que faz do câmbio a “última esperança” para a indústria incentivada. “Para os próximos meses, entendo que o panorama segue otimista para a apreciação do real. Isso pode gerar oportunidades para a importação ter compensação da inflação em dólar. Mas, acredito em um cenário mais neutro no curto prazo, com tendência de oportunidades mais na importação do que exportação”, ponderou.
Rocha também aponta eventuais perdas para o comércio exterior do PIM, a partir da tendência de valorização das commodities. Há uma sinalização da Opep de reduzir a oferta de petróleo e o acordo entre Ucrânia e Rússia para venda de grãos não foi renovado. “O Brasil, como produtor de commodities, pode ser beneficiado. Todavia, há a tendência do preço do frete internacional voltar a ser agravado”, alertou.
Questionado sobre eventuais progressos nos esforços do PIM em adensar a cadeia de insumos e reduzir a dependência de componentes importados, o diretor adjunto de Infraestrutura, Transporte e Logística da Fieam frisou que a indústria incentivada está focando em prioridades de curto prazo e na sobrevivência do modelo ZFM. “A única pauta para o setor, no momento, é a reforma Tributária. Enquanto isso não for superado a inquietação e preocupação serão grandes”, resumiu.
“Parâmetros aceitáveis”
Já o gerente executivo do Centro Internacional de Negócios da Fieam, Marcelo Lima, ressaltou que, passado o período mais crítico da pandemia, as oscilações registradas mês a mês pelas importações e exportações do Amazonas ainda estão dentro de um “parâmetro aceitável” e não são foco de preocupações. “Temos de levar em consideração os impactos da variação cambial do período e o problema da demanda do Distrito, que acredito ter desacelerado na compra de insumos. É o meu ponto de vista”, avaliou.
O executivo concorda que a pauta de exportações vem sendo primarizada, mas avalia que o PIM ainda mantém participação “razoável”. “No caso das exportações, chama a atenção o aumento e o destaque da participação do ouro. Quanto ao nióbio, não é nenhuma surpresa, porque o minério vem se destacando ao longo dos quatro últimos anos. Os produtos do PIM que vinham sendo âncoras das vendas externas estão se mantendo em nível aceitável. Os concentrados estão diversificando vendas na América Latina, assim como as motocicletas. A ideia é aumentar exportações, mas dependemos de políticas de governo”, concluiu.