Líder da nova geração de empreendedores na Amazônia, Ilana Minev traz em seu portfólio o DNA dos pioneiros que vieram para a região há mais de dois séculos. Uma presença que se tornou originária na construção da identidade amazônica e que firmou os alicerces do desenvolvimento regional sustentável que se diferencia no modo de distribuir oportunidades, igualitário e participativo. Confira o bate-papo com Ilana Benchimol Minev(*)
Por Alfredo Lopes. – Coluna Follow-up BrasilAmazoniaAgora
1. Follow-up – O radar corporativo do Grupo Bemol, passados 81 anos, consolidou um portfólio de governança que, no mínimo, lhe conferiu longevidade robusta e comprometimento regional. É nesse contexto que o programa Empreende, Mana! mostrou sua graça e força?
Ilana Benchimol Minev – A história da Bemol tem suas raízes em 1942, quando três jovens empreendedores, Israel, Samuel e Saul, fundaram a empresa. No entanto, o que muitos desconhecem é o papel crucial desempenhado por sua mãe, D. Lili, nesse processo. Depois de enfrentar tempos difíceis no seringal, ela demonstrou resiliência ao costurar e trocar seu trabalho por passagens, proporcionando aos seus filhos acesso à educação e a oportunidade de trilhar um caminho diferente na vida. Quando a Bemol deu seus primeiros passos, D. Lili desempenhou um papel fundamental como a primeira colaboradora, registrando todos os pedidos e organizando tudo para impulsionar o crescimento do negócio.
Há duas décadas, iniciamos o nosso processo de governança, como o caminho para garantir a perenidade do negócio e gerar valor futuro, estabelecendo assim a governança corporativa e familiar. Este compromisso com a governança proporciona transparência, atrai talentos, inspira as pessoas e promove o crescimento sustentável. Fortalecemos nossa governança de várias maneiras, adição de auditoria externa independente, inclusão de conselheiros externos, e a adoção de boas práticas de ESG, entre outras iniciativas.
Paralelamente, estamos comprometidos em criar uma próxima geração de amazônidas com oportunidades igualitárias entre homens e mulheres. Atualmente, 61% dos nossos clientes são mulheres, e 55% das lideranças na gestão da Bemol também são mulheres. Nesse contexto, o programa “Empreende, Mana!” emerge como uma iniciativa que celebra a força da mulher empreendedora. Mantendo-nos fiéis aos nossos princípios de integridade, respeito, energia, economia e melhoria contínua, a Bemol celebra seus 81 anos de história. Esses valores têm servido como nossa bússola, e o programa visa orientar e apoiar mulheres empreendedoras na região amazônica, que buscam diariamente soluções e oportunidades de negócio para gerar renda e prosperidade.
2. FUp – Segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), porém, é lento o avanço das mulheres no cargo de lideranças das corporações pesquisadas em 2022. Elas ocupam apenas 15,2% dos cargos de diretoria e conselhos de administração. A que você atribui esse ritmo de mudança?
Ilana – Quando abordamos a longevidade das empresas, a pauta da diversidade se torna uma presença essencial no dia a dia das organizações. Embora o número de mulheres em cargos de diretoria e conselho ainda seja relativamente baixo, de acordo com a pesquisa do IBGC, houve um pequeno avanço em relação ao ano anterior, quando a representatividade feminina nos cargos de liderança estava em 14,3%. Apesar desse pequeno crescimento nos indicadores, a distância a ser percorrida em direção à igualdade nos conselhos e na diretoria ainda é substancial. Esse aumento merece celebração, mas a lentidão na promoção da diversidade deve envolver mais gestores para abraçar o tema e melhorar a representação de gênero nas organizações.
Conforme diversos estudos indicam, quando empresas têm uma alta administração com perfis diversificados, elas tendem a colher benefícios como maior pluralidade, liderança colaborativa, inovação e, consequentemente, processos de tomada de decisão mais robustos, contribuindo para a sustentabilidade do negócio. Atualmente, na Bemol, temos orgulho de relatar que 55% dos cargos na alta gestão são liderados por mulheres, inclusive com muita responsabilidade e dedicação, assumi este ano a Presidência do Conselho de Administração, cargo até então ocupado apenas por homens na Bemol. Isso é especialmente significativo, considerando que uma parcela substancial de nossos clientes é composta por mulheres. Ter essa perspectiva nos conecta de forma mais profunda com nossos clientes, promovendo empatia e identificação com a marca, ao mesmo tempo em que contribui para uma sociedade mais justa e equilibrada.
Cestaria Indígena Alto Rio Negro – Stoch
3. FUp – Outro dado significativo é o percentual de 18,8% de participação feminina na liderança de empresas estrangeiras, seguida por 16% nas companhias de controle estatal e, por fim, setor privado nacional, 14,9%. Isso é apenas curioso ou simplesmente sintomático?
Ilana – Esses dados são mais do que apenas curiosos; eles são sintomáticos de tendências e realidades importantes no cenário de liderança corporativa no mundo. A diferença nas porcentagens de participação feminina na liderança de empresas estrangeiras, empresas de controle estatal e empresas privadas nacionais indica que há fatores variados em jogo.
A maior participação de mulheres na liderança de empresas estrangeiras pode refletir políticas mais progressistas em igualdade de gênero adotadas por empresas multinacionais, bem como a influência de diretrizes globais de diversidade e inclusão. Países nórdicos, por exemplo, promovem a liderança feminina por meio de políticas que incluem cotas de gênero, licença parental compartilhada, educação sobre igualdade de gênero, flexibilidade no trabalho e acesso a cuidados infantis de qualidade. Além disso, eles cultivam uma cultura de igualdade de gênero, incentivando a transparência na representação de gênero e fornecendo apoio específico para o desenvolvimento de lideranças femininas. Essas práticas têm sido eficazes em aumentar a participação das mulheres em cargos de liderança e promover a igualdade de oportunidades.
Por outro lado, a menor representação de mulheres em empresas privadas nacionais pode indicar desafios culturais, sociais e estruturais dentro dessas organizações que impedem o progresso em direção à igualdade de gênero.
Portanto, esses números são sintomáticos de questões mais profundas e podem servir como um chamado à ação para as empresas e o governo trabalharem juntos na promoção de uma liderança mais diversificada e inclusiva em todos os setores.
4. FUp – A boa notícia são os dados da CNDL, que apontam um crescimento de 30% entre 2021 e 2022 de mulheres empreendedoras. Conte a experiência Bemol e suas parcerias com os movimentos organizados para avançar esses desafios.
Ilana – O Programa “Empreende, Mana” é uma iniciativa fruto da parceria entre a Bemol e a Rede Mulher Empreendedora, com o propósito de oferecer apoio às empreendedoras que são clientes da Bemol. Este programa teve sua origem a partir da nossa experiência interna com colaboradoras que participaram do programa “Elas por Elas”, atualmente em sua segunda edição. Por meio desse programa, as colaboradoras tiveram a valiosa oportunidade de desenvolver habilidades pessoais, estabelecer uma rede de contatos e receber orientação de mentoras experientes. O treinamento é conduzido internamente, de colaboradora para colaboradora, apresentando trajetórias reais e próximas da realidade local.
Ao analisar os resultados positivos do programa “Elas por Elas” e reconhecer o crescente impacto das mulheres no mundo dos negócios, com um aumento constante no número de empreendedoras que estão fazendo a diferença, a Bemol identificou uma oportunidade de contribuir para o crescimento e sucesso de empreendedoras da região. Decidimos oferecer módulos abordando tópicos como autoconhecimento, gestão financeira, técnicas de vendas e a utilização eficaz das redes sociais para impulsionar seus negócios.
De acordo com dados do Sebrae, as mulheres representam aproximadamente 34% dos empreendedores no Brasil, mas no Amazonas esse número é ligeiramente inferior, cerca de 29%. Para o “Empreende, Mana”, recebemos aproximadamente 400 inscrições para preencher apenas 40 vagas. Após a conclusão da primeira etapa em agosto, o programa continua com sessões de mentoria em grupo e um “pitch day” com o objetivo de impulsionar os negócios das participantes.
As mulheres têm demonstrado uma notável capacidade de criar, liderar e impactar positivamente suas comunidades. O “Empreende, Mana” atua como uma plataforma para compartilhar experiências, inspirar-se mutuamente e construir laços poderosos entre empreendedoras, fortalecendo ainda mais o papel fundamental das mulheres nos negócios e na sociedade. Estamos entusiasmados em fazer parte dessa jornada de empoderamento e crescimento.
Ilana Benchimol Minev, administradora de empresas formada pela Fundação Getúlio Vargas com MBA em Business Law na Universidade de Miami, integra o Conselho de Administração da Bemol e da FBN (Family Business Network) Brasil, Diretora de Marketing e Eventos, do GACC e diretora da BRIL Amazonas – Câmara Brasil-Israel de Comércio.
* Coluna follow-up é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, pelo Jornal do Comércio do Amazonas, sob a responsabilidade do do CIEAM Centro da Indústria do Estado do Amazonas, coordenação editorial de Alfredo Lops, consultor da entidade e editor do portal BrasilAmazoniaAgora.