Mesmo amargando queda de produção, a indústria de bicicletas do PIM vislumbra dias melhores e renova apostas no aprimoramento de seus produtos. O Polo Industrial de Manaus reúne quatro fábricas do segmento –Caloi, Sense Bike, Oggi Bikes e Houston Bike –e responde por 40% da oferta brasileira do produto. Conforme a Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares), as empresas investiram R$ 183 milhões neste ano e já planejam novos aportes em 2024, focando principalmente nos minoritários e ascendentes modelos elétricos.
“Mirando no crescimento para o futuro, o setor precisa continuar investindo na melhoria da produção. Os associados estão fazendo isso e já há aportes de capital previstos para o próximo ano. Conforme as tecnologias vão aparecendo, é natural que isso aconteça, para manter a indústria atualizada e competitiva. Então, sim, a gente confirma a continuação dos investimentos”, afiançou o vice-presidente do Segmento de Bicicletas da Abraciclo, Fernando Rocha, durante recente coletiva de imprensa.
Os números de produção, no entanto, seguem negativos e induzem um otimismo cauteloso. De janeiro a setembro, o PIM fabricou 379.202 bicicletas, o que equivale a uma queda de 20,3% frente ao mesmo acumulado de 2022 (476.610). Em setembro (33.239), o ritmo de trabalho no Distrito Industrial de Manaus sofreu retração ainda mais acentuada, depois do esboço de recuperação do mês anterior. O volume de produção declinou 22,3% diante de agosto (42.780) e tombou 31,4% frente ao dado de 12 meses atrás (48.442). “Ainda temos uma queda produção e isso ainda é muito relacionado a um excesso de estoques, que vem desde o ano passado”, explicou.
Segundo o vice-presidente do Segmento de Bicicletas da Abraciclo, os fabricantes vão observar o quão rápido as vendas internas e o mercado internacional vão se recuperar, no próximo trimestre. “Têm surgido oportunidades para a indústria nacional, em termos de disponibilidade de componentes. Já vemos, no trimestre que está se encerrando, o lançamento de novos produtos, com novas tecnologias. Isso se deve a um equilíbrio na área de supply, mas ainda temos de observar como serão as vendas dos próximos meses”, ponderou.
Gestão de estoques
Fernando Rocha, frisou que a indústria ainda está tendo de equilibrar a oferta, diante de uma nova realidade de mercado. “A gestão de estoques vem em evolução, com o setor conseguindo reduzir os seus volumes, quando comparado ao patamar da virada do ano. Isso é um bom sinal de que tudo está ficando mais equilibrado. Este último trimestre ainda depende muito dos resultados do Dia das Crianças e o varejo aponta que vai depender disso para as compras de Black Friday e Natal”, ressaltou.
A estimativa da Abraciclo ainda é que o segmento feche 2023 com 14,9% de queda e 510.000 unidades produzidas – contra as 599.044 bicicletas manufaturadas ao final do exercício anterior. Vale notar que a projeção foi revista para baixo, em agosto. Até então, o PIM trabalhava com a estimativa de fechar o ano com uma quantidade mais generosa de produtos fabricados (570.000) e um decréscimo três vezes menor (-4,8%).
Indagado sobre o impacto das vendas para as projeções da indústria, Rocha respondeu que a produção deste ano já está “praticamente determinada” e sinalizou que mudanças de rota tendem a gerar efeitos de médio a longo prazo. “Já temos a previsão de volume comercializado para as próximas datas festivas e, em uma eventual aceleração das vendas, tentaremos ao máximo flexibilizar. Porém, não é o que está mostrando a tendência de momento, que é um mercado estável nos próximos meses”, ponderou.
Elétricas em destaque
Em encontros anteriores, a Abraciclo já havia apontado que o mercado vem sofrendo mudanças, com o declínio dos “modelos de entrada”, em favor de produtos mais sofisticados e caros. E que, em razão disso, o faturamento vem mostrando resultados melhores, mesmo com uma produção menor. Dados da Abraciclo informam que a receita projetada na cadeia de bicicletas para este ano soma R$ 1,01 bilhão em vendas, 11,48% a mais do que o contabilizado em 2022 (R$ 906 milhões) – embora a quantia ainda tenha ficado menor do que o registro de 2021 (R$ 1,17 bilhão).
A base de dados da entidade confirma que o mercado brasileiro continua vendendo mais bicicletas tipo Moutain Bike, embora categorias minoritárias comecem a abrir mais espaço – especialmente a elétrica. A MTB lidera o ranking de produção de janeiro setembro, com 59% da oferta e 224 mil unidades. Foi seguida pelas categorias Urbana/Lazer (24,6% e 93.300), Infanto-Juvenil (11,5% e 43.600), Elétrica (2,7% e 10.300) e Estrada (2,2% e 8.800). Em relação ao ano passado, as duas primeiras (-25,9% e -24,1%, na ordem) recuaram nas vendas e as três últimas cresceram (+21,5%, +24,3% e +19,3%).
“Levando em conta as categorias, as que mais sofrem redução de produção são a Mountain Bike, Urbana/Lazer. São produtos muito relacionados ao mercado de varejo no Brasil. Porém, nós temos as bikes elétricas crescendo exponencialmente em relação ao ano passado, com aumento de participação de 1,7% para 2,7%. A intenção é que esse número vá progredindo, a cada ano. E também temos aumento nos modelos Estrada, muito mais em função da disponibilidade de componentes do que tínhamos anteriormente”, analisou.
O Sudeste recebeu o maior volume de bicicletas fabricadas no PIM, respondendo por 55,9% (212.200) da demanda. O segundo lugar do ranking ficou com o Sul, para onde foram enviadas 67.800 unidades (17,8% do volume fabricado). Na sequência, vieram o Nordeste (12,2% e 46.500), o Centro-Oeste (8,6% e 32.600), e o Norte (5,5% e 20.700). Apenas o Nordeste (+1,9%) e o Centro-Oeste (+0,1%) avançaram em relação ao mesmo período de 2022. “A distribuição, ela vem caindo no Sudeste e no Sul, novamente como reflexo do varejo nacional. As demais regiões estão equilibradas”, encerrou.
Boxe ou coordenada: Exportações diminuam desvantagem
A queda de produção não encontrou nas exportações. Os embarques para o mercado externo totalizaram 2.568 unidades em setembro. O volume é 362,7% maior ao do mesmo mês do ano passado (555) e 328% superior em relação a agosto (600). De acordo com levantamento do portal Comex Stat, que apura os embarques totais de cada mês, analisados pela Abraciclo, os principais destinos foram Paraguai (1.366 bicicletas e 53,2% das exportações), México (731 e 28,5%) e Uruguai (312 e 12,1%). O saldo do acumulado do ano, contudo, continua negativo, com decréscimo de 25,7%, entre 2022 (17.252) e 2023 (12.814) e primazia nas vendas para o Paraguai (6.625 e 51,7%), o Uruguai (2.640 e 20,6%) e a Bolívia (1.488 e 11,6%).