24 de novembro de 2024

Brasil é uma das 18 economias com crescimento no grupo de 36 países do mundo

Puxado novamente pela indústria e pelos serviços, o PIB brasileiro conseguiu manter o prumo no terceiro trimestre, ao marcar estabilidade em relação aos três meses anteriores (+0,1%) e somar R$ 2,74 trilhões em valores correntes. Foi a terceira taxa positiva consecutiva para o Produto Interno Bruto do país, que segue no topo da série histórica e 7,2% acima do nível pré-pandemia (o quarto trimestre de 2019). O resultado surpreendeu o mercado, que apostava em recuo, especialmente após a mais recente divulgação do IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central). 

O trimestre foi puxado principalmente pelo consumo das famílias, que cresceu com a recuperação do mercado de trabalho e as políticas de transferência de renda, impactando em crescimento nos serviços, comércio e indústria, em detrimento da agropecuária e, principalmente, construção. Mas, os investimentos encolheram 2,5%. O confronto com o mesmo trimestre de 2022 gerou acréscimo de 2% para o PIB, fortalecendo os acumulados do ano (+3,2%) e dos 12 meses (+3,1%). As informações foram divulgadas nesta terça (5), pelo IBGE –que também revisou os dados de 2022. 

Os números vieram na contramão do IBC-Br, que tem metodologia diferente. O indicador do BC (Banco Central) caiu 0,64% na variação trimestral e teve crescimentos mais modestos em nove (+2,77%) e 12 meses (+2,55%). O mesmo BC calculou números mais generosos para o Amazonas (-0,48%, +3,67% e +3,45%, respectivamente). A confirmação do desempenho do Estado só será disponibilizada pelo IBGE dentro de dois anos, embora a Sedecti (Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação) deva divulgar seu estudo a respeito das Contas Nacionais do IBGE, nos próximos meses.

Levantamento com os 36 países que já divulgaram seus PIBs do terceiro trimestre aponta o Brasil como uma das 18 economias com crescimento no grupo. Mas, países vizinhos, como Chile (+0,30%) e Colômbia (+0,20%), se saíram melhor. A lista inclui também quatro nações estagnadas (Itália, Suécia, Canadá e Reino Unido) e 14 com Produto Interno Bruto em queda. O melhor resultado veio da Polônia (+1,40%) e o pior, da Arábia Saudita (-3,90%).

Indústria e construção

A indústria (0,6%) foi um motor de crescimento da economia brasileira, mas sua única atividade em crescimento foi a de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (+3,6%), em sintonia com o maior consumo de energia. Já as indústrias extrativas (+0,1%) e de transformação (+0,1%) ficaram estáveis. A comparação com o mesmo trimestre de 2022 indicou alta de 1% para a indústria e uma nova queda nas indústrias de transformação (-1,5%), em detrimento da alavancagem nos demais segmentos. O mesmo descolamento entre a indústria e seu principal segmento se deu no acumulado do ano (+1,2% e -1,6%, na ordem).

Para o presidente da Fieam, Antonio Silva, os números do IBGE demonstram o “estágio de estabilidade” e “relativo crescimento” do setor. “Os números estão dentro de nossas estimativas iniciais. O Amazonas, a exemplo dos números nacionais, deve seguir a tendência de estabilidade. Um ponto positivo que pode impulsionar a indústria é o aumento do consumo das famílias de 1,1%. Esse é um indicador que denota um brando aquecimento do mercado, e que pode refletir na produção industrial. As perspectivas para o último trimestre são de manutenção dos indicadores em patamar constante”, avaliou.

O pior resultado da indústria, no entanto, veio mesmo da construção. Na virada trimestral, essa foi a única atividade industrial a cair, com um tombo significativo de 3,8%. A comparação com o mesmo período do ano passado também rendeu recuo para as construtoras de Norte a Sul do Brasil (-4,5%), contribuindo para um dado negativo para todo o subsetor, no acumulado do ano (-0,9%).

“Esse ano foi marcado por muita expectativa com o Minha Casa Minha Vida, mas o anúncio das novas medidas veio tarde. O investimento no setor está muito fraco e nós precisamos disso para botar a economia para andar. No Amazonas temos os piores índices possíveis e só conseguimos usar 22% dos recursos disponibilizados em FGTS e temos muitas obras de infraestrutura paradas. Isso sem contar com os efeitos da seca”, ressaltou o presidente do Sinduscon-AM, Frank Souza.

Serviços e agropecuária

Responsável pela parte majoritária do PIB brasileiro, os serviços cresceram 0,6% em relação ao trimestre anterior, alavancados por seis de suas sete atividades, e com destaque para informação e comunicação (1%). O valor adicionado subiu 1,8% frente ao mesmo período de 2022, sendo favorecido principalmente pelas atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (+7%). Ambos os segmentos sustentaram a alta de 2,6% nos serviços, em nove meses. Já o comércio avançou 0,3%, 0,7% e 0,9%, respectivamente.

“Nos últimos anos, os serviços se tornaram o setor mais robusto da economia. É o que mais emprega e cresce em vendas. Agora, que estamos entrando no caminho da normalidade e com os navios aportando em Manaus, tudo aponta que o comércio também vai superar esse momento e vivenciar um Natal com crescimento. O consumidor já está navegando com mais tranquilidade, por conta da diminuição da inadimplência e isso aponta para uma recuperação”, frisou o presidente em exercício da Fecomércio-AM, Aderson Frota.

Em contraste, a agropecuária foi o único dos três grandes setores a declinar no trimestre (-3,3%). Vale notar que a queda veio após a atividade atingir seu maior patamar, no levantamento anterior. De acordo com os dados revisados pelo IBGE, essa foi a primeira queda da atividade, após cinco trimestres com taxas positivas. A comparação com o mesmo trimestre de 2022 mostrou incremento de 2%, contribuindo para uma escalada de 18,1% no aglutinado de janeiro a setembro.

“De certa forma, já era esperada essa pequena redução no PIB agropecuário do país. Principalmente porque o período assinala o término da safra de soja, que ocorre no primeiro semestre e ainda é a principal lavoura do Brasil”, explicou o presidente da Faea, Muni Lourenço. “No Amazonas, o impacto vem se dando pela forte estiagem deste ano, que trouxe redução de produção agropecuária”, acrescentou, sem falar de expectativas.

Consumo e investimentos

Pela ótica da demanda, a Formação Bruta de Capital (-2,5%) encolheu pela quarta vez seguida, reduzindo a taxa de investimento para 16,6% do PIB, e a taxa de poupança para 15,7%. Em 12 meses, a retração foi de 1,1%. “É um reflexo da política monetária contracionista, com queda na construção e nos bens de capital”, analisou a coordenadora da sondagem, Rebeca Palis, em texto da Agência de Notícias IBGE.

Já o consumo das famílias aumentou 1,1% no trimestre, enquanto os dispêndios do governo subiam 0,5%. A variação anualizada apresentou altas respectivas de 3,7% e 1%. “O crescimento é explicado pelos programas governamentais de transferência de renda, pela continuação da melhora do mercado de trabalho, pela inflação mais baixa e pelo crescimento do crédito. Por outro lado, apesar de começarem a diminuir, os juros ainda estão altos e as famílias seguem endividadas. Houve também a queda no consumo de bens duráveis”, encerrou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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