Augusto Cesar Barreto Rocha (*)
O setor aéreo é intensivo em capital, com muita regulagem, grandes riscos associados, muita incerteza de externalidades e, consequentemente, com poucas empresas operando. Estas empresas podem passar anos com prejuízos e outros tantos com lucros altos, mas, no longo prazo, são poucas sobreviventes. A pandemia derrubou o faturamento deste setor para praticamente nada, passando um tempo expressivo para se recuperar no lado da receita. Cada país lidou com o assunto de uma forma distinta.
Por outro lado, os sentimentos dos consumidores com estas empresas nunca são dos melhores, pois é pouco frequente que as pessoas estejam dispostas a pagar mais caro por uma marca ou serviço – o foco é apenas preço. No lado da empresa, o movimento é de monopólio, cartel ou oligopólio, salvo nos mercados mais avançados, onde há alta demanda com dinheiro para gastar. E o que se verifica é que só tem uma coisa pior que o monopólio público: o monopólio privado.
Quando a operação tem difícil ponto de equilíbrio, a competitividade é que leva para mais competência. Entretanto, em oligopólios, não há competição saudável. Frequentemente quando surge um novo jogador no ambiente de empresas aéreas, as demais que atuam no setor tentam (e normalmente conseguem) impedir a presença da nova empresa e o jogo é sempre o mesmo: lucratividade baixa, levando a uma concorrência desleal e predatória, onde todos perdem.
O livro “The New Leviathans: Thoughts After Liberalism”, do professor John Gray ajuda a entender este mundo dos anos 2020 e um paralelo com as reflexões dele podem ser interessantes para o entendimento do que vivemos. Temos uma certa liberdade de preço e de operação nas empresas aéreas e aeroportos nacionais, mas isso é saudável para a população? Por que razão as capitais da região norte seguem sendo espoliadas? De fato, temos um liberalismo ou um totalitarismo do capital?
Depois que a Alitalia faliu, o governo italiano criou uma companhia aérea estatal chamada Ita. Sua sede é no Ministério da Economia. O mesmo aconteceria aqui? Não. A “sabedoria popular” ou “do mercado” apontaria o dedo contra. Como uma parcela pequena da população frequenta aeroportos, há um impacto relativamente pequeno em quantitativo, mas um impacto gigante na competitividade do país e das regiões.
As concessões que foram vendidas como as soluções, cada vez mais se apresentam como alternativas de piores condições de serviço do que na Infraero, seja em Manaus, seja em outros – basta andar pelos terminais de passageiros e constatar o nível de serviço. Da mesma forma, as empresas aéreas possuem agora paredes de WhatsApp e de robôs, com passageiros sendo levados feito contêineres em um porto vazio. O descaso e o desrespeito nos tratos relacionais é o que impera, onde ninguém se sente responsável por nada e nunca surge a palavra “desculpe” ou “lamento” nos diálogos, apenas uma desumanidade que rosna.
Na construção institucional que temos, precisaremos reconstruir a capacidade do diálogo. Fora disso, será uma impossibilidade encontrar lucro para todos. O modelo atual é de perda para todos. Enquanto não existir uma construção humana, com resultados e lucros, será o império da briga e uma volta para jatos executivos, que já se verifica, com crescimento acima de 4% ano, para os que tem dinheiro. Os que não tem, não voam, mas sentem na pele a redução dos negócios daqueles que estão no meio.
(*) Professor da UFAM.