23 de novembro de 2024

Razões para abraçar a transição de baixo carbono

Apesar do Acordo de Paris de 2015 visar limitar o aquecimento global, o Brasil e o Amazonas têm demorado para descarbonizar suas economias, negligenciando sinais climáticos. Esta relutância precisa mudar e o artigo traz cinco justificativas importantes para iniciarmos urgentemente esse processo.

A redução da emissão do Carbono é um desafio mundial por vários motivos:

O primeiro é devido ao fato de que o carbono é um dos principais gases de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global <https://bit.ly/3QsfDjY>.

O segundo é por conta da saúde pública, já que a emissão do CO2 contribui para a poluição do ar, causando impactos negativos na saúde humana desde doenças respiratórias, cardiovasculares e até mesmo o câncer. Para exemplificar, recomenda-se a leitura de um artigo publicado na Nature em 2021 <https://bit.ly/3JDz9WK>, o qual utilizou o conceito de Custo de Mortalidade de Carbono (MCC em inglês), uma medida que estima quantas vidas seriam salvas ou perdidas devido a um aumento ou redução nas emissões de gases de efeito estufa. 

Na estimativa central, eles descobriram que o MCC de 2020 é de 2,26 x 10-4 vidas por tonelada métrica, com a estimativa variando de -1,71 x 10-4 (baixa, <10º percentil) a 6,78 x 10-4 (alta, >90º percentil). Em linguagem mais simples, isso significa que reduzir (aumentar) as emissões em 1 milhão de toneladas métricas de CO2 em 2020 salva (causa) 226 vidas, em média, de 2020 a 2100, no cenário de emissões base. Um milhão de toneladas métricas equivale às emissões anuais médias de 35 aviões comerciais, 216.000 veículos de passageiros e 115.000 residências nos EUA.

O MCC implica que remover (adicionar) a quantidade de emissões de CO2 de uma usina termelétrica a carvão média nos EUA em 2020 salva (causa) 904 vidas, em média, de 2020 a 2100.

O terceiro motivo é o custo social <https://bit.ly/4aYgMrz> e que envolve o prejuízo financeiro ao contribuinte, pois enquanto poucos enriquecem com práticas legais (produção e/ou venda de carvão, gasolina, diesel, geração de energia via termoelétricas, plásticos etc.) ou ilegais (desmatamento, queimadas etc.) que emitem CO2, maioria acaba pagando o prejuízo. Para exemplificar, recomenda-se a leitura de um estudo que focou nas queimadas em nossas florestas, uma das principais fontes de emissão de grande quantidade de CO2 e poluição atmosférica em nossa região e que torna o Brasil um dos vilões da emissão global <https://peerj.com/articles/cs-1694/>. O estudo <https://bit.ly/3y0KC07>, realizado com base em dados do DataSUS, liderado pela Fiocruz e WWF-Brasil, revelou que em dez anos (2010-2020), as queimadas na Amazônia brasileira foram responsáveis pelo aumento nas internações por problemas respiratórios no Amazonas (87%), Pará (70%) e em mais três estados (>60%), causando um prejuízo de quase um bilhão de reais aos cofres públicos.

O quarto motivo diz respeito à segurança alimentar < https://bit.ly/3Wlc82g>, pois o aumento das emissões de CO2 podem gerar fenômenos climáticos extremos, como secas e inundações, e à alteração dos padrões de crescimento de culturas. Para se ter ideia, um artigo publicado em 2018 na Revista ScienceAdvances < https://bit.ly/3xZuGLy> analisou o impacto do elevado nível de CO2 no arroz, que é a principal fonte de alimento para mais de 2 bilhões de pessoas. Usando experimentos de longa duração com 18 variedades diferentes de arroz cultivadas na Ásia, os pesquisadores descobriram que, além das reduções já conhecidas em proteínas, ferro e zinco, houve também reduções consistentes nas vitaminas B1, B2, B5 e B9 quando expostas a níveis mais altos de CO2.

O quinto motivo é a perda da biodiversidade, pois as mudanças climáticas causadas pelas emissões de carbono têm levado à perda de habitats naturais, extinção de espécies e desequilíbrio nos ecossistemas.

Diante do exposto, a descarbonização é urgente ante os riscos climáticos à saúde, alimentos, biodiversidade e custos sociais. Embora tenha assumido compromissos como o Acordo de Paris, o Brasil e o Amazonas carecem de estratégia robusta de longo prazo com metas, programas e fundos para descarbonizar. É hora de adotar energias limpas, reflorestamento e práticas sustentáveis em setores-chave, ou as consequências para a população serão cada vez mais graves.

Jonas Gomes

Prof. Dr. Jonas Gomes da Silva - Professor Associado do Dep. de Engenharia de Produção com Pós Doutorado iniciado no ano de 2020 em Inovação pela Escola de Negócios da Universidade de Manchester. E-mail: [email protected].

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