23 de outubro de 2024

Clima de aprendizado: as lições do Rio Grande do Sul à Amazônia

As notícias dos eventos climáticos extremos no Sul do Brasil assustam pela intensidade, pelos danos materiais e, principalmente, pelas vidas perdidas. O que assusta também é que, infelizmente, os gestores públicos responsáveis não seguiram os alertas e as recomendações da ciência. E lembrem-se: esses alertas não se limitam às chuvas no Sul. A ciência já tem avisado sobre a seca intensa que deve nos impactar novamente aqui na Amazônia – e esta deve ser tão ruim quanto a última.

Tem sido noticiado que a Defesa Civil do Amazonas recomendou o estoque de alimentos, água e remédios na zona rural no nosso Estado. O mapa de potencial impacto aponta mais de 40 munícipios dos 62. E este será o terceiro evento de seca extrema em cinco anos – a última sequência histórica seguida havia ocorrido na década de 1970.

E isto é resultado das mudanças globais do clima: aumento na intensidade e na frequência dos eventos climáticos e meteorológicos extremos.

Os ciclos do planeta Terra estão harmonizados para que os ecossistemas naturais e os sistemas climáticos possam se ajustar. Eventos de secas e cheias são normais na Amazônia – Isso tem sido parte do nosso cotidiano nos últimos 20 mil anos. E os ciclos e a reciclagem de água, do carbono e do oxigênio estão adaptados. 

O problema é que as mudanças do clima desarmonizam esses ciclos e desregulam o regime de chuvas, estações do ano, safras, migração de peixes etc. Isto porque esses eventos não permitem que os ecossistemas se recuperem – aumentando a sua vulnerabilidade e fragilizando sua capacidade de se “autoajustar”.

A ciência tem nos apontado isso, com grande precisão e antecedência, que poderia nos permitir tomar melhores decisões de adaptação e ações emergenciais. Mas, infelizmente, isto não tem acontecido.

Apesar do Brasil ter seu Plano Nacional de Adaptação, desde 2016, houve poucos avanços. Adaptação às mudanças do clima ainda é um tema que não chegou nas discussões nos processos eleitorais, no Congresso, nas Assembleias e nas Câmaras.

Por conta das perdas incalculáveis no Rio Grande do Sul, é mandatório que a sociedade brasileira aprenda como lidar com eventos climáticos extremos. A ciência nos mostra que esses eventos só tendem a aumentar e se espalhar pelo Brasil inteiro!

Ações práticas precisam ser tomadas imediatamente: (1) elaboração dos planos de adaptação estaduais e municipais alinhados; (2) inclusão de métricas de vulnerabilidade climática nos planos diretores de grandes cidades e grandes obras; (3) fortalecer e aumentar a atuação da Defesa Civil integrada com as agendas de meio ambiente, produção rural e assistência social; (4) considerar mapas de vulnerabilidade para a realocação de pessoas e negócios; (5) preparar mecanismos de crédito facilitado às famílias, e negócios urbanos e rurais afetados; e (6) inclusão da temática no calendário escolar.

Pressionar nossos gestores públicos para que essas e outras medidas sejam tomadas terão impactos positivos em curto, médio e longo prazo. 

Este ano teremos eleições municipais e precisamos eleger candidatas e candidatos que tenham propostas efetivas para mitigar e adaptar às mudanças climáticas.

A negligência a esses eventos climáticos extremos é de responsabilidade de todos nós: quem piora os efeitos das mudanças do clima; de gestores que não se preparam ou não ouvem a ciência; e de quem vota ou deixa de votar. 

Victor Salviati

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.

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