Daniel Nascimento-e-Silva, PhD
Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)
A prototipagem vista sob a ótica da fidelidade é originária do campo das tecnologias da informação e comunicação. Contudo, como quase tudo nos esforços de inovação tecnológica e solução de problemas com recursos tecnológicos, a prática do benchmarking levou essa concepção para praticamente todos os campos tecnológicos, principalmente porque permite que pessoas consideradas normais compreendam os desafios muitas vezes hercúleos de transformar ideias em soluções efetivas para problemas e suprimento de necessidades. Contudo, diferentemente do que ainda continua a prática da fidelidade no seu campo de origem, noutros está restrita à sintonia entre o que foi pensado e o que efetivamente está ou foi concluído. Isso quer dizer que o protótipo, no campo das tecnologias de informação e comunicação, não leva em consideração aspectos financeiros, logísticos e legais, dentre inúmeros outros, que têm o poder e a capacidade de lhe provocar alterações. Tome-se como exemplo um protótipo de alta fidelidade, que já está praticamente pronto para ser distribuído para o mercado, que encontra forte concorrência no quesito preço porque seus componentes são caros. Se houver a possibilidade de outros materiais serem utilizados para que ganhe em competitividade, a versão final terá que ser modificada. Razões como essas explicam o porquê de outras áreas considerarem a prototipagem de alta fidelidade apenas quando aquela que deve ser levada para aprovação dos clientes porque já superou todos os testes que tinha que superar.
O protótipo de alta fidelidade é aquele que já consegue apresentar os benefícios que seus clientes, públicos-alvo, demandantes ou usuários desejam em uma versão próxima da que será distribuída. Dito em uma linguagem popular, é aquela versão quase perfeita. Só não é perfeita porque precisa ser assim reconhecida por pessoas e organizações com autoridade ou responsabilidade para tal. Sob a ótica do método científico-tecnológico, os protótipos de alta fidelidade são materializações consistentes e validadas de todos os outros tipos de protótipos previstos: conceitual, processual, estrutural, funcional, relacional e ambiental, dependendo, naturalmente, da complexidade da tecnologia que se pretende gerar e dos desafios empresariais e mercadológicos que o produto precisa enfrentar e superar.
Na dimensão conceitual, o protótipo de alta fidelidade consegue traduzir em termos de equivalência as necessidades a serem supridas, os problemas a serem solucionados ou os desejos a serem satisfeitos. Isso significa que aquilo que se espera da tecnologia já é empiricamente garantido e validado. O conceito de uma vacina com menos efeitos colaterais que suas concorrentes efetivamente testada e validada é um exemplo neste sentido.
Na dimensão estrutural, o protótipo de alta fidelidade apresenta a menor quantidade possível de partes, subpartes, componentes, subcomponentes e peças. Essa minimização é necessária para a redução de custos, facilidade de produção, rapidez e precisão de manutenção e máxima usabilidade por parte dos usuários. A estrutura adequada facilita a elevação da fidelidade das outras dimensões.
Na dimensão processual, o protótipo de alta fidelidade já tem mapeadas todas as fases estritamente necessárias de produção e montagem, cada qual com suas respectivas atividades e materiais a serem utilizados. A garantia de que cada fase entrega um subproduto em conformidade com os requisitos previstos para servir de matéria-prima para a fase seguinte é a demonstração tácita da fidelidade de cada parte e, consequentemente, do produto final.
Na dimensão funcional, o protótipo de alta fidelidade já apresenta o desempenho esperado, maximizado, de cada peça, componente, subcomponente, parte e subparte, de forma que os benefícios esperados da tecnologia podem ser devidamente demonstrados através dessas funcionalidades. Isso quer dizer que a tecnologia já funciona porque, internamente, já há o funcionamento desejado.
Na dimensão relacional, o protótipo de alta fidelidade conseguiu materializar a otimização das relações de causa-efeito entre as peças, componentes, subcomponentes, subpartes e partes, de maneira que a tecnologia funciona sempre da mesma forma (fidedignidade) e apresenta sempre resultados similares (validade). Validade e fidedignidade são os parâmetros básicos nesta dimensão.
Na dimensão ambiental, o protótipo de alta fidelidade tem garantido que não causará danos ao seu ambiente de operação e, inversamente, não sofrerá danos como consequência das ações das intempéries de onde vai ser utilizado. A dimensão ambiental representa, como já mostrado anteriormente, a extensão da dimensão relacional (que é interna, intrínseca à tecnologia) para além da tecnologia, para o seu entorno, o que envolve principalmente os seus operadores e usuários.
A prototipagem de alta fidelidade tem sido aplicada com muito sucesso em outros campos da inovação tecnológica porque se atém à garantia de que o protótipo gerado tem praticamente todas as condições de ser transformado em tecnologia final. Mas essa garantia não está circunscrita, limitada apenas ao produto físico em si, mas também em inúmeros outros desdobramentos, que são capazes de provocar modificações no protótipo.
A alta fidelidade é correspondente a um “produto em elaboração” quase pronto, quase perfeito, entendida a perfeição como “pronto para ser transferida” para os demandantes. E um protótipo só deixa de ser assim considerado quando o sistema logístico de distribuição e fornecimento estiver pronto e aprovado, sistemática financeira (entrada e saída de dinheiro) estiver pronta e aprovada, sistema de custos estiver devidamente testado e aprovado, procedimentos legais estiverem prontos e aprovados e assim por diante. Isso tudo leva à constatação de que um protótipo definitivamente não é um rascunho, um esboço casual, uma ideia preliminar. Os cientistas trabalham sempre com a tentativa de fazer a versão final, perfeita, na primeira ocasião. Mas, como suprir necessidades é muitas vezes um desafio sobre-humano, precisam ir avançando devagar, dos protótipos de baixa até os de alta fidelidade.