*Carmen Novoa Silva
Certo dia perguntaram a Michelangelo, que esculpiu a famosa “Pietá (piedade) que se encontra na Basílica de São Pedro, porque tinha feito a Mãe de Jesus com as feições bem mais jovens que a do Filho. Ao que ele respondeu: “Porque as almas maternais nunca renunciarão a suas dimensões poéticas e transcendentais. Por isso, permanecem para todo o sempre jovens”Mas, existe algo muito mais profundo naquele olhar de Mãe que sustenta ao seu colo o corpo inerte e sem vida de Cristo. Os outros que acompanhavam Maria apenas se limitavam, a condoídos a VER e a OLHAR a cena funesta. Na superficialidade do tempo escasso. Mas o olhar de Maria contemplava! “O maior grau do saber é contemplar o porquê” (Sócrates). E ali com Ele nos braços, descobriria a essência de sua morte: CON-TEM-PLA-VA e compreendia-o como compreendia a si mesma. Convertia-se nele. Isso é contemplar. É Compartilhar de sua experiência trágica. Participar de seu mundo. E do silêncio, escutou as verdades supremas de que Ela era agora a Senhora da Cruz e da Esperança! A retirar ressureições das dores da humanidade. Ela era no agora, Senhora da Oração e do Serviço. A intercessora. A Senhora das túnicas inconsúteis. Como aquela que tecia fio a fio, em puro algodão para Jesus. Numa tessitura valiosa. Porque sem emendas. Integrais. Como o reflexo da alma dos puros e inocentes. Ali com o Filho no colo, o rosto jovial, expande o brilho DO SER UNA E INDIVISÍVEL. E propala a contemplação como a verdade intuída. Revelada e descoberta através dos olhos, que como lasers potentes, miram seu interior e revelavam verdades… Olhos sentem. Ali com o Filho exangue ao colo não era mais Pietá. Mas a Senhora de Esperança! Num Mundo de Paz. Da Oração. Da Contemplação só emergem as verdades interiores. Querer viver, é contemplar a vida cara a cara para descobrir a nós mesmos.
CARMEN NOVOA SILVA, é Teóloga e membro da Academia Amazonense
de Letras e da Academia Marial do Santuário de Aparecida-SP