22 de novembro de 2024

As enchentes transbordam o nosso vazio – parte 3

Eventos climáticos extremos, como enchentes, continuam a assolar o Brasil, evidenciando o despreparo dos governos em prevenir e mitigar tais situações. Este artigo apresenta estatísticas alarmantes sobre esse fenômeno no país e seus impactos nos últimos dez anos, além de destacar a falha na liberação de recursos orçados pela União para auxiliar municípios em ações de proteção e defesa civil.

Há mais de um mês, a sociedade mundial testemunha novamente o sofrimento dos brasileiros da região sul com as enchentes. E entre os estados mais afetados, reaparece o Rio Grande do Sul (RS), cujo último levantamento <https://tinyurl.com/5wpcf8nm> publicado pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), no dia 24 de maio de 2025, revelou as seguintes estatísticas: 

1) mais de R$ 10,4 bilhões de prejuízos financeiros; 2) 775 mil pessoas desabrigadas;  3) 108,6 mil casas destruídas ou danificadas; 4) 469 municípios afetados, sendo que os prejuízos de R$ 10,4 bilhões são os contabilizados e divulgados por 94 municípios, então o tamanho do estrago financeiro deve ser muito maior já que o valor anunciado vem de apenas 20% do total dos municípios afetados; 5) do total de R$ 10,4 bilhões, R$ 3,4 bi estão ligados ao setor privado, a saber: agricultura (R$ 2,7 bi), pecuária (R$ 245,4 milhões), indústria (R$ 267 milhões), comércios locais (R$ 130,2 milhões) e demais serviços (R$ 86,8 milhões); 6) em relação ao setor público, as perdas totalizam R$ 2,4 bi, em especial, as obras de infraestrutura (R$ 1,7 bi), danos materiais (R$ 428,6 milhões), sistema de transporte (R$ 92 milhões), sistema de ensino (R$ 83,6 milhões) etc; 7) em termos humanos já são 163 mortos, 445 desaparecidos, 95,7 mil desabrigados, 678,6 mil desalojados, 11,3 mil feridos e doentes, e 3,6 milhões de afetados.

Ao fazer uma análise de longo prazo, utilizando o relatório “Panorama dos desastres no Brasil, entre 2013 e 2023”, publicado este ano pela defesa civil e estudos técnicos da CNM <https://tinyurl.com/d9bwbrat>, observam-se as seguintes estatísticas:

8) 5233 municípios foram afetados por desastres, resultando em 64742 decretações de emergência e estado de calamidade, sendo que maioria (94%) das cidades foi afetada ao menos uma vez por algum tipo de desastre;

9) a seca (26141) e as chuvas (18980) representam 41% do total de decretos em todas as regiões do país;

10) em termos de decretações de anormalidade por desastres naturais, os últimos quatro anos foram os que mais registraram este tipo de ocorrência com piora gradativa desde 2021;

11) no geral, quando se analisa os 26141 decretos relacionados com a seca/estiagem, os cinco estados mais críticos são: Paraíba (4261), Bahia (3869), Minas Gerais (3269), Rio Grande do Norte (2978) e Pernambuco (2538). Em termos de região, o Nordeste é campeão (19291), seguido do Sudeste (3525) e Sul (2322);

12) quando se analisa os 18918 decretos relacionados com as chuvas, os cinco estados mais críticos são: Santa Catarina (4101), Rio Grande do Sul (2706), Minas Gerais (2500), Mato Grosso do Sul (1137), Pará (1108) e Paraná (856). Por região, o campeão é o Sul (7677), seguido do Sudeste (4765) e Nordeste (2346).

13) em termos de mortes, as chuvas são implacáveis, foram 2143 mortes ocorridas entre 2013 e 2023, maioria no Sudeste (1294), no Nordeste (319) e no Sul (304);

14) os prejuízos resultantes de desastres entre 2013 e 2023 foram estimados em R$ 639,4 bi, sendo que a região Sul foi a que sofreu mais prejuízos, R$ 257,9 bi, ou seja, 40,3% do total;

15) em termos de execução orçamentária da União para ações de gestão de risco e prevenção de desastres, foi observado que dos R$ 9.512.533.103 orçados, apenas R$ 3.043.078.929 foram efetivamente repassados aos municípios para ações relacionadas à proteção e defesa civil, ou seja, apenas 32% do prometido.

Finalmente, os alarmantes prejuízos dos eventos climáticos extremos no Brasil transbordam o nosso vazio e exigem entre outras coisas, investimentos urgentes dos governos e empresários em prevenção, mitigação e resiliência contra desastres naturais, liberação efetiva de recursos orçamentários, cooperação intersetorial e medidas de adaptação às mudanças climáticas tais como proteção e reflorestamento, construção de infraestruturas mais resiliente para enfrentar eventos extremos, sendo necessário estudar e adaptar as boas práticas de países e cidades que cuidam melhor de sua população e já superaram estes desafios, assunto que será abordado no próximo artigo, aguardem.

Jonas Gomes

Prof. Dr. Jonas Gomes da Silva - Professor Associado do Dep. de Engenharia de Produção com Pós Doutorado iniciado no ano de 2020 em Inovação pela Escola de Negócios da Universidade de Manchester. E-mail: [email protected].

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