Por Lilian D’Araujo
@lydcorr
Mais um ano e mais um ciclo de vazante dos rios amazônicos começa a impactar o planejamento econômico do Estado mesmo meses antes do previsto. Após sofrer intensamente com uma seca histórica em 2023, com efeitos devastadores para o meio ambiente, para os povos que habitam e cuidam do bioma na região; para os negócios, comércio e indústria, especialistas já projetam um novo período de seca preocupante. As mudanças climáticas vistas de Norte a Sul do Brasil, como presenciamos na tragédia que assolou o Rio Grade do Sul recentemente, e ao redor do mundo, é uma das maiores ameaças que ocupam os grandes debates mundiais. E isso, já alertam especialistas, é reflexo da crise climática.
Os efeitos da estiagem severa foram sentidos em todo o Amazonas. Na região do Baixo Rio Negro, polos vibrantes do Turismo de Base Comunitária (TBC) na região enfrentaram dificuldade de acesso a itens básicos, como alimentos e água potável. Além disso, tiveram que interromper suas atividades durante o segundo semestre, por conta da seca dos rios, meios de acesso dos turistas para os territórios.
Em 2023, como forma de auxiliar a população na região, que sofreu fortemente com a seca extrema, a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) criou a Aliança Amazônia Clima, movimento que conta com o apoio de 80 organizações socioambientais e representantes de centros de pesquisa na região amazônica para o combate aos efeitos da crise climática. Em uma das frentes da Aliança, foram mobilizadas doações de itens de primeira necessidade, como água potável, cestas básicas e medicamentos, para as comunidades mais afetadas pela seca: em 2023, a iniciativa atendeu mais de 12 mil pessoas em 17 territórios como Unidades de Conservação e Terras Indígenas.
Este ano, prevê-se uma seca mais severa que a de 2023, devido à persistência do fenômeno El Niño, que se estendeu até 2024, formando domos de calor. Em abril, a Defesa Civil do Amazonas publicou um relatório crucial alertando para a possibilidade de repetição da situação. Segundo os dados, os rios das bacias da região estão atualmente com níveis de água abaixo do esperado para a cota de cheia normal, indicando que acontecerá um evento de seca extrema neste ano.
“Nós temos vários indicadores nesse ano de 2024 sobre a séria ameaça de uma seca de grandes proporções, como tivemos no ano passado aqui na Amazônia. As projeções científicas apontam para um aquecimento global mais acelerado do que anteriormente previsto. Quanto mais longa e intensa é a estação seca, mais frequentes e grandes ficam as queimadas. Isso contribui para o aquecimento global e regional, criando um efeito dominó que tende a tornar esse problema cada vez mais grave”, afirma Virgilio Viana, superintendente-geral da FAS.
Da mesma forma, a grande enchente que atingiu o Rio Grande do Sul está relacionada à extrema seca que afetou a Amazônia no ano passado, segundo avaliação da FAS. A catástrofe é causada pela combinação de umidade trazida por rios voadores (um grande corredor de umidade que desce até o Sul todos os anos), uma onda de calor no Sudeste e Centro-Oeste, e ventos intensos no estado, resultando em chuvas contínuas e inundações em várias bacias hidrográficas. Não apenas o clima, mas também as ações humanas estão relacionadas a essas alterações.
“O enfrentamento às mudanças climáticas representa o principal desafio de hoje para o futuro da humanidade. É essencial a mobilização das organizações da sociedade civil, das empresas, das instituições de pesquisa e dos governos nas diferentes esferas para lidar com esse gigantesco desafio que temos pela frente”, considera Virgilio Viana. “É essencial pensar não apenas em ações emergenciais, mas em ações preventivas de adaptação climática. Nós temos uma série de experiências aqui no Amazonas, desenvolvidas pela FAS e por instituições financeiras, que permitem compreender quais são os caminhos, qual o custo, como fazer soluções práticas”.
CIEAM
De olho nas alternativas, a melhoria da infraestrutura de comunidades e municípios do interior também é uma solução que pode colaborar com a redução dos impactos da seca. Para o coordenador da Comissão de Logística do Cieam (Centor das Indústrias do Estado do Amazonas), Augusto César Rocha, a logística precisa de opções. “Precisamos de infraestrutura logística sistêmica: rodovias, hidrovias, mais aeroportos de interior. O ideal seria fazer um Plano Amazonense de Logística e Transporte, onde a resiliência das infraestruturas críticas fosse tratada”, apontou.
O fato é que sejam projetos de infraestrutura, soluções de inovação, apoio às comunidades e povos tradicionais, ao ponto de concordância de todos é que as soluções precisam ser pensadas, debatidas e implementadas antes do problema causar tantos prejuízos e perdas para os amazônidas.