4 de outubro de 2024

As enchentes transbordam o nosso vazio  (parte 5)

Eventos climáticos extremos continuam causando prejuízos bilionários e ceifando vidas no Brasil, prejuízos que poderiam ser mitigados com uma melhor gestão das cidades, terras, florestas e das pessoas. Este artigo lista dez cidades resilientes e destaca as boas práticas da campeã Nova Iorque, a fim de estimular a população a cobrar das autoridades por ações mais concretas e efetivas, especialmente em um ano eleitoral, quando os cidadãos passam a existir e são lembrados pelos candidatos, empresários, profissionais políticos e aliados.

No artigo anterior foi citado o Relatório Resilent Cities Index, o qual tem recebido apoio de prefeitos, gestores, pesquisadores e financiadores de instituições como Arup, Rockefeller Foundation, C40 Cities, World Bank, Resiliente Cities Network, Tokyo Marine Group e Economist Impact, razão pela qual deveria ser material de estudo dos que comandam a nação, estado e cidade.

No site que divulga a sua edição mais recente <https://bit.ly/3RbwJCS>, há vídeos, artigos, planilha e o relatório que é referência global em termos de risco urbano, resposta e recuperação, e que visa ajudar formuladores de políticas e partes interessadas a entender o risco e a elaborar políticas eficazes para a resiliência urbana. Para eles, as cidades resilientes são as que conseguem prever, se defender, adaptar-se e recuperar-se das mudanças ambientais, econômicas, sociais e climáticas de maneira eficiente. E para identificá-las, criaram uma metodologia  <https://bit.ly/3RoFnOv> e um índice (0-100 pontos) que avalia 25 cidades, usando quatro pilares e 19 indicadores. 

Segundo o Resilient Cities Index 2023, as dez cidades mais resilientes são Nova Iorque (84,9 pontos); 2) LA (84,4); 3) Londres (83,2); 4) Cingapura (82,0); 5) Paris (81,3); 6) Melbourne (80,9); 7) Amsterdã (79,9); 8) Tóquio (79,6); 9) Barcelona (79,0); e 10) Munique.

Nova Iorque (NI) é uma cidade costeira, localizada na foz do rio Hudson, que deságua no Oceânico Atlântico. Apesar de ser um grande centro financeiro, cultural e tecnológico dos EUA, ela enfrenta problemas climáticos extremos tais como tufões, furacões, tempestades e enchentes. Por exemplo, um dos maiores eventos nos últimos onze anos foi o furacão Sandy ocorrido no final de  outubro de 2012, que gerou US$ 19 bi de prejuízos e cerca de 43 mortes.

Apesar da cidade de NI estar preparada para enfrentar tais fenômenos, ainda há espaço para melhorias. Do ponto de vista estratégico, estas são as boas práticas adotadas para aprimorar sua preparação após o ocorrido em 2012: 

1) documentar, propor e implementar recomendações.

Foi lançamento em 11 de junho de 2013 o PlanNYC: a stronger, more resiliente New York <https://bit.ly/4bRU7gW>, um plano com as lições aprendidas em 2012 e com recomendações práticas, tanto para a reconstruir as comunidades impactadas pelo Sandy quanto para aumentar a resiliência da infraestrutura e dos edifícios em toda a cidade;

2) plano de longo prazo, elaborado com a população, que incorpore a sustentabilidade e resiliência da cidade. Para enfrentar os desafios das mudanças climáticas é preciso envolver a população. Neste sentido, há o Plano OneNYC <https://bit.ly/4egiVAX>, lançado em 2015 pelo prefeito Bill de Blasio,  com 354 páginas, construído com a população: 7500 moradores em um levantamento eletrônico; 1300 participantes de reuniões em 40 comunidades; 800 moradores ouvidos em pesquisa telefônica; 177 organizações civis; 50 membros eleitos.

Neste documento há objetivos e metas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, bem como projetos e iniciativas para: educar e empoderar a população por meio de aplicativos, plataformas e ferramentas digitais; plantar árvores; proteger a área costeira; melhorar o sistema de alerta de inundações; melhorar a infraestrutura de drenagem, além de criar parques (ex: Staten Island) com áreas para absorver a água.

Além disso, implementaram leis para garantir que os edifícios sejam construídos ou adaptados para resistir aos eventos climáticos, educaram a população, criaram planos de evacuação para as áreas de risco para garantir que os moradores sejam evacuados com segurança etc.

3) continuidade das principais ações, com leis atualizadas, ajustadas nos planos seguintes: Citywide Climate Adaptation Plan <https://tinyurl.com/yf2ykkxb>, OneNYC2050 <https://bit.ly/3Xn0QLo>,  e  PlaNYC: Getting Sustainability Done < https://tinyurl.com/ypfjejm7>.

Finalmente, o caso de NI mostra que planejamento, envolvimento dos moradores e ações contínuas focadas nas comunidades, nos prédios, na infraestrutura e na defesa costeira são essenciais para aumentar a resiliência da cidade. Infelizmente, a maioria das cidades no Brasil carece de um plano de longo prazo que incorpore a sustentabilidade e a resiliência. Para piorar, quando alguém tenta algo e sai do poder, o que vem depois descontinua, e assim continuamos contabilizando muitas perdas e vivendo de planos contingenciais como os que temos visto no Sul e no Amazonas <https://tinyurl.com/2v5r9wnw>, reflexo da incapacidade das autoridades de pensar a longo prazo, envolver efetivamente a população e alocar de forma transparente e eficiente os recursos ao longo do tempo.

Jonas Gomes

Prof. Dr. Jonas Gomes da Silva - Professor Associado do Dep. de Engenharia de Produção com Pós Doutorado iniciado no ano de 2020 em Inovação pela Escola de Negócios da Universidade de Manchester. E-mail: [email protected].

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