A indústria amazonense de transformação fechou o quadrimestre com uma escalada de dois dígitos no faturamento, horas trabalhadas, massa salarial e emprego. A análise isolada de abril, no entanto, mostra que o setor reduziu ritmo nas vendas, no uso deu sua capacidade instalada fabril e no volume de vencimentos pagos a seus trabalhadores – embora as contratações tenham se mantido em alta. É o que revelam os números locais dos Indicadores Industriais da CNI (Confederação Nacional da Indústria), compilados em parceria com a Fieam (Federação das Indústrias do Amazonas).
O faturamento real caiu 8,7% ante março – que teve dois dias úteis a menos. A redução de ritmo praticamente eliminou o ganho de março (+8,8%). O confronto com abril do ano passado, contudo, indicou uma elevação de 16,5%, mantendo a alta do quadrimestre (+30,8%) na escala dos três dígitos. Na média nacional, as vendas líquidas aceleram 1,5% ante março de 2024 e escalaram 12,2% frente ao mesmo mês de 2023, fortalecendo o acumulado do ano (+2,4%).
Desta vez, a situação das horas trabalhadas nas linhas de produção fabril do Estado indicou um patamar mais confortável. Já operando em ritmo normal, após o boom de produção que se seguiu à crise da vazante histórica e o fim dos rescaldos logísticos, o indicador acelerou 3,1% em relação a abril, em desempenho simétrico ao do levantamento anterior (-3%). O confronto com a marca de 12 meses atrás resultou em uma variação positiva de 19,8%. Em três meses, a alta foi de 10,5%. Os respectivos números do nível de atividade em todo o país (+2,4, +8,2% e 2,9%) foram todos positivos.
A situação é mais preocupante para a UCI da indústria do Amazonas. O percentual de utilização da capacidade instalada caiu de 84,5% para 79,6% frente ao mês anterior, com redução de 4,9 ponto percentual (-5,80%). O vigor do ritmo de produção da indústria amazonense também foi inferior ao de igual mês de 2023 (83% de uso) confirmando uma retração de 3,4 p.p. (-4,10%). A UCI do quadrimestre ficou em 87,9% (+2,4 p.p.) praticamente empatando com o ano anterior (87,2% de uso). Embora com percentual ainda menor de máquinas industriais em uso, o indicador nacional (79,2%) superou março de 2024 (78,7%) e abril de 2023 (78,6%).
Os números da CNI mostram um panorama mais refratário que o do mês anterior. Conforme o IBGE, a produção da indústria amazonense fechou o trimestre no azul, com 4,4% de expansão, sendo alavancada por seis dos dez segmentos industriais sondados – incluindo eletroeletrônicos, bens de informática e duas rodas. Mas, megulhou em março, nas variações mensal (-13,9%) e anual (-10,9%). A Suframa contabilizou altas no faturamento do acumulado do ano em dólares (+10,54% e US$ 9.53 bilhões) e em reais (+7,35% e 47,45 bilhões), com a diferença de que o mês também foi positivo.
Empregos e salários
Os indicadores relativos à mão de obra da indústria do Amazonas e sua remuneração voltaram a emplacar desempenhos divergentes, mas apenas na variação mensal. De acordo com a CNI, a média do saldo de contratações no parque fabril do Estado teve acréscimo de 0,9% quando comparada a abril, superando o dado anterior (+0,6%). O incremento foi de 5,1% no confronto com o mesmo intervalo do exercício anterior, gerando reflexos positivos no acumulado do ano (+26,1%). Os números brasileiros (-0,3%, +1,4% e +1,3%) foram todos mais fracos.
A pesquisa da CNI vai ao encontro do ‘Novo Caged’ – que contabiliza apenas os empregos formais. A base de dados do Ministério do Trabalho e Previdência mostra que a indústria de transformação foi o segundo setor que mais contratou localmente em abril, registrando aumento de 0,95% e 792 novos postos de trabalho, mas ficou aquém das marcas de março (+1.218), fevereiro (+1.052) e janeiro (+1.055). Os resultados foram positivos para 14 de suas 25 atividades, principalmente em máquinas, aparelhos e materiais elétricos (+179); e “outros equipamentos de transporte”/duas rodas (+151). Em quatro meses, a indústria do Amazonas gerou 4.144 vagas (+3,28%).
Os Indicadores da CNI mostraram performance um pouco mais fraca para a massa salarial. Houve um decréscimo mensal de 7,1%, após a escalada de março (+11,2%) e a estagnação de fevereiro (0%). A soma dos vencimentos dos trabalhadores da indústria amazonense manteve a musculatura no confronto com mesmo mês de 2023 (+9,4%) e nos quatro meses iniciais de 2024 (+23%). A indústria brasileira como um todo (-2,8%, +2,5% e +4,8%) acompanhou esse movimento.
“Indústria aquecida”
Em texto e vídeo divulgados pela assessoria de imprensa da CNI, economista da entidade, Larissa Nocko, cita o “mercado de trabalho aquecido”, o “avanço do rendimento médio”, a “melhora do ambiente de crédito” e a “inflação moderada” como fatores que favoreceram o poder de compra da população e, consequentemente, o consumo de bens industriais. Ela acrescenta que, mesmo os indicadores que recuaram no mês, apresentam aumento quando comparados com o ano passado, mostrando uma situação mais favorável para o setor.
“A pesquisa mostra que a indústria de transformação iniciou o segundo trimestre aquecida. Faturamento, horas trabalhadas na produção, UCI tiveram avanço mensal. Por outro lado, o rendimento médio do trabalhador e a massa salarial sofreram queda, muito em função do pico de março, quando houve o fechamento de uma fábrica e pagamento de verbas rescisórias. Mesmo diante dessa retração, os indicadores retomaram o patamar anterior a esse pico, em trajetória crescente e em linha com o mercado de trabalho”, analisou.
A economista destaca que o cenário positivo da indústria de transformação surge em linha com o panorama apontado pelas divulgações do IBGE “Há um avanço da produção industrial brasileira no comparativo de março. E o setor também mostrou um resultado forte no PIB do primeiro trimestre. Mas, é importante destacar que os resultados de abril ainda não contemplam os efeitos das enchentes no Rio Grande do Sul. Esse desastre climático deve surtir efeitos negativos para a indústria, nos próximos meses”, ponderou.
“Panorama instável”
Em entrevistas recentes à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente da Fieam e vice-presidente executivo da CNI, Antonio Silva, reforçou que o estudo dos Indicadores conta com amostragem local “pequena”, contribuindo para que os dados sinalizem mais uma “tendência do setor”. Para o dirigente, os indicadores mais recentes do setor sinalizam um cenário de estabilização para o PIM, mas com tendência positiva para 2024.
“O primeiro trimestre, em particular, sofreu com os efeitos da demanda represada do último trimestre de 2023. Nossas expectativas são de que o modelo continue em trajetória crescente, porém, em ritmo mais lento. O panorama econômico ainda se mostra instável, o que não permite que asseveremos quanto a um acentuado crescimento constante. Os números, entretanto, são extremamente positivos e nos deixam otimistas para o restante do ano”, concluiu.