Nilson Pimentel (*)
Para surpresa de muitos, o Brasil demonstra que está à deriva, falta comando e coordenação geral, haja vista, as últimas ocorrências; atrapalhado e sem transparência leilão do arroz, cancelado; governo decide voltar atrás sobre a construção de moradias provisórias no Rio Grande do Sul; ministro na “corda bamba”; demissão em Ministério envolvido em falcatruas do leilão do arroz; ministro em rota de colisão com Congresso Nacional e devolução de Medida Provisória; derrota do governo sobre desoneração de folha de pagamentos; taxação das blusinhas (uma vergonha); aumento da dívida pública; aumento do dólar e queda na Bolsa de Valores; aumento das queimadas nos diversos biomas; dentre tantas oscilações tortuosas desse governo. Contudo, continuam-se às voltas com as questões climáticas em todo mundo; aumento nas emissões de gases de efeito estufa; análises negativas para a exploração do lítio na natureza; análises negativas sobre instalações de produção de baterias de lítio em regiões diversas do mundo; previsões de secas severas no Brasil (principalmente na Amazônia); desertificação no bioma cerrado; aumento de temperatura em diversas regiões do mundo, e por aí vai. Os economistas-pesquisadores do CEA (Clube de Economia da Amazônia) ampliando pesquisas e estudos sobre as questões climáticas e seus reflexos nas economias, notadamente no Brasil e na Amazônia, se depararam com as seguintes informações: “Cientistas avaliam o atual estado da mudança climática de acordo com duas variáveis: concentração de CO2 (gás carbônico) na atmosfera e o forçamento radiativo (indicador que mede o aquecimento da superfície da Terra). O limite considerado seguro de concentração de CO2 é de 350 ppm (partes por milhão), enquanto o valor atual é de 417 ppm (maior). Já o limite de forçamento radiativo é de 1 watt/m², enquanto o registrado atualmente é de 2,91 watt/m² (também maior)”. Então, pergunta-se: há limites para o planeta terra? Na Alemanha, na terça-feira (21 de maio de 2024), o diretor do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático, Johan Rockström, um dos cientistas do clima mais conhecidos pela comunidade internacional, recebeu a honraria de maior prestígio da ciência ambiental o Prêmio Tyler de Conquista Ambiental por seu trabalho sobre limites planetários. No Centro de Resiliência de Estocolmo, na Suécia, juntamente com outros cientistas do Clima, estabeleceram o conceito de limites planetários, os quais buscam estabelecer parâmetros seguros para a vida humana na Terra, sendo que seis das nove fronteiras estabelecidas já foram cruzadas, rompidas, e foram elaboradas análises e esforços de pesquisa para demonstrar as implicações desse cenário de consequências para o planeta e para a humanidade. São os seguintes esses limites: 1) mudança climática; 2) integridade da biosfera; 3) mudanças no uso da terra; 4) mudanças no uso dos recursos hídricos; 5) ciclos biogeoquímicos; 6) acidificação dos oceanos; 7) carga de aerossol atmosférico; 8) esgotamento do ozônio estratosférico; 9) novas entidades. Sendo que esse limites planetários são processos considerados cruciais do sistema terrestre que estão sob risco e próximos de seus “pontos de virada ou rompimento”, segundo os cientistas. E, como eles apontam, “cruzar esses limites poderia levar a mudanças ambientais irreversíveis e, em alguns casos, provocar reações abruptas”. Assim, juntas, essas fronteiras planetárias formam o que o Centro de Resiliência de Estocolmo chama de espaço seguro para a humanidade. Do ponto de vista científico, o período atual apresenta o clima relativamente estável, o que permite a existência de outras formas de vida tão importantes quanto a nossa, necessário ao equilíbrio ambiental. Portanto, a aproximação desses limites está associada à aceleração do uso dos recursos naturais pelo homem (principalmente de combustíveis fósseis, recursos hídricos, etc). Por outro lado, as atividades humanas baseadas na exploração dos recursos naturais vêm acelerando nesses últimos tempos (séculos), o que para diversos cientistas a Terra entrou em nova era geológica: o antropoceno. Sem embargo, cruzar os limites planetários pode gerar diversos impactos ambientais, alguns dos quais já registrados, tais como, o aumento da temperatura global, aumento do nível do mar e de eventos climáticos extremos, como esse ocorrido no Rio Grande do Sul, a poluição dos cursos d’água (associada ao uso excessivo de fertilizantes químicos, esgotos urbanos não tratados, resíduos sólidos, microplásticos etc) e a perda de espécies marinhas (associada à acidificação dos oceanos), entre tantas. Para o professor Paulo Artaxo, do Instituto de Física da USP (Universidade de São Paulo) e um dos cientistas mais reconhecidos do Brasil, afirmou em artigo publicado em 2014 “que há interconexão entre os limites —ou seja, um influencia o outro; a mudança climática, por exemplo, afeta a perda de biodiversidade, entre outros aspectos”. “O planeta atua como entidade integrada e única, com interconexões em praticamente todas as áreas de risco”, “A discussão dos limites seguros de nosso planeta mostra que existe a possibilidade de que, ultrapassando os limites físicos de nosso planeta, podemos desestabilizar o relativamente estável clima que tivemos no Holoceno. Dois dos limites, mudanças climáticas e integridade da biosfera, estão em situação tão crítica que necessitam de medidas urgentes para a estabilização das condições de sustentabilidade na Terra”. Também, se tem a visão da economista britânica e professora na Universidade de Oxford, Kate Raworth em seu trabalho de 2012 que “a abordagem dos limites é importante por trazer “uma perspectiva global” dos problemas ambientais, nesse sentido, a gestão dessa crise também deve ser global: “No final, a decisão de onde a comunidade internacional deve fixar as fronteiras dependerá em grande parte das percepções de risco, do debate público e de poderosos grupos de lobby e do poder político internacional, porém os níveis nos quais elas estão fixadas devem estar baseados nas melhores ciências possíveis das realidades biofísicas do planeta”. Apesar de buscar ser o mais abrangente possível, o conceito de limites planetários não captura todos os aspectos da crise ambiental. E como pontua a professora Kate Raworth “Por trás desse quadro de escala global sobre o uso de recursos encontram-se imensas desigualdades em termos onde os recursos estão sendo utilizados e por quem”. “Da mesma forma, a perspectiva global não revela limites locais ou regionais críticos de pressão sobre recursos”. Também há incertezas, como em toda ciência, em relação aos valores estabelecidos para cada um desses limites. Temas como a introdução de novas entidades (microplásticos, pesticidas, etc), por exemplo, têm grandes lacunas de conhecimento. Assim, para a professora Raworth “o conceito de limites sociais, em conjunto com as fronteiras planetárias, segundo ela, a humanidade deve buscar ficar dentro das fronteiras mínimas de garantia dos direitos humanos, como os direitos à alimentação, à educação, à moradia, à saúde, à energia e à equidade. Esse espaço — dentro dos dois tipos de limite —seria como um donut”: “Entre uma base social que protege contra privações humanas críticas e um limite ambiental máximo que evita limites naturais críticos, há um espaço seguro e justo para a humanidade —que tem a forma de um donut (ou, se você preferir, de um pneu, de uma rosquinha ou de uma boia), esse é o espaço onde o bem-estar humano e bem-estar do planeta são garantidos, e sua interdependência é respeitada”. (*) economista, engenheiro, administrador, mestre em Economia, doutor em Economia, pesquisador sênior, consultor empresarial e professor universitário: [email protected]