22 de novembro de 2024

Porque Manaus é rica e o interior é pobre

Por Juarez Baldoino da Costa(*)

Em Iranduba, a 20 Km da capital, a fábrica de processar borracha para produzir pneus para o PIM-Polo Industrial de Manaus ainda não está operando por falta de látex e de usina para seu processamento.

A fábrica de pirarucu congelado alcunhado de “O Bacalhau da Amazônia” em Maraã, a cerca de 700 Km de Manaus, está desativada por dificuldades no abastecimento dos peixes e questões de infraestrutura como energia elétrica, câmaras frigorificas e escoamento.

Nos últimos 100 anos, desde Efigênio Sales em 1926, governadores têm se sucedido no Amazonas e têm implantado medidas para melhorar a situação de penúria econômica do interior, com resultados ainda insuficientes apesar de todas as ações tomadas.

Neste caminho, desde o humaitaense Álvaro Maia, governador que mais permaneceu no cargo com 17 anos de mandatos,  criador da importante Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA) cujo objetivo foi impulsionar as atividades produtivas do Amazonas, e que empresta  seu nome para a rodovia conhecida como BR – 319 Manaus-Porto Velho, até o atual governador Wilson Lima, passando pela era Gilberto Mestrinho e seus apoiados Amazonino Mendes, Eduardo Braga e Omar Azis, os dois últimos hoje senadores, os esforços se revezaram e os objetivos foram perseguidos, sem no entanto atingirem patamares razoáveis para formar consistência.

Terceiro ciclo, Zona Franca Verde e Novas Matrizes Econômicas, com empréstimos e investimentos incluindo fornecimento de implementos, foram os programas mais conhecidos com as mesmas intenções desenvolvimentistas.    

Porém, Manaus continua rica e enriquecendo, e o interior, no geral, continua pobre e empobrecendo, o que é mais grave.

Os fluxos antagônicos de geração de riqueza e de pobreza são realimentados diariamente pela dinâmica econômica e naturalmente  concentrativa do PIM, e sem ele, a pobreza tenderia a se agravar.   

Com a ZFM, Manaus se torna um sorvedouro de recursos, e a rarefação da população interiorana não consegue captar investimentos relevantes do orçamento do estado ou de emendas parlamentares federais.

As emendas parlamentares estaduais,  mais direcionadas ao interior, também  necessárias e importantes, não têm conseguido alavancar ações de impacto continuo, tendo sido mais focadas na construção ou recuperação de quadras esportivas, de vias públicas e beiradas destruídas pelo fenômeno das terras caídas e outras intervenções menores na áreas de saúde e ensino.    

Esta injeção de recursos movimenta a economia na áreas da construção civil principalmente através de licitações, gerando salários locais e ativando o comércio, mas as ocorrências são pontuais e de ciclo curto, elementos que não permitem o funcionamento econômico progressivo e permanente, não havendo prioridade para fomentar a vocação do município. 

Os cursos da UEA – Universidade Estadual do Amazonas e da UFAM – Universidade Federal do Amazonas em suas unidades fora da capital  cumprem o papel fundamental da formação da população, mas não são suficientes para fixação dos graduados em suas cidades porque não há ainda  atividades nas quais se possa aplicar seus conhecimentos, forçando o êxodo em busca da melhoria de vida só obtida em Manaus pelo estimulo do funcionamento da ZFM.

São Gabriel da Cachoeira, por exemplo, forma anualmente 20 a 30 alunos nos cursos do IFAM – Instituto Federal do Amazonas, e dos 300 jovens dos últimos 10 anos, raros são os casos de replicação no mercado lical de trabalho, sendo a maioria emigrante para Manaus ou  dedicada  a outras atividades fora do seu campo de aprendizado.

A alternativa que mais adere ao conceito de desenvolvimento econômico pelas características geográficas do interior é o investimento, suporte técnico e a garantia de compra e de escoamento de produtos locais, que somente o governo do estado pode promover.

Este processo matura no médio e no longo prazo, ultrapassando mandatos de 4 anos.

Manaus ficou rica depois de décadas de continuísmo da ZFM, e o interior continua pobre pela descontinuidade de décadas de suporte à sua economia local.

 É possível mudar o quadro, desde que se mude a estratégia de longo prazo, comprovadamente inadequada até então.

(*) Amazonólogo, MSc em Sociedade e Cultura da Amazônia – UFAM, Economista, Contabilista, Professor de Pós-Graduação e Consultor de empresas especializado em ZFM.

Juarez Baldoino da Costa

Amazonólogo, MSc em Sociedade e Cultura da Amazônia – UFAM, Economista, Professor de Pós- Graduação e Consultor de empresas especializado em ZFM.

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