A cidade de Los Angeles (LA) tem sofrido com fortes secas ao longo dos anos, mas apesar disso, desenvolveu um sistema de gestão participativo e é considerada a segunda cidade mais resiliente. Este artigo apresenta como ela envolve sua população na administração pública e como enfrenta as fortes secas que assolam a região.
Graças ao reconhecimento do trabalho voluntário, social e ambiental realizado em Petrópolis, em 2013, fui convidado pelo Escritório de Educação do Departamento de Estado dos Estados Unidos para participar do International Visitor Leadership Program, um programa de intercâmbio com oito décadas de existência <https://tinyurl.com/yjmprp7u>.
De 21 de abril a 10 de maio de 2013 realizamos visitas ao Congresso, prefeitura, universidades, bibliotecas, ONGs e empresas em Washington DC, Cincinnati, Minnesota e LA. O tema daquele ano foi “Sociedade Civil Organizada” e dialogamos com gestores da prefeitura de LA e com lideranças comunitárias para entender como funcionava a gestão participativa daquela região. Em grande síntese, na cidade de LA, os eleitores aprovaram uma nova carta em 1999, cujo ponto central foi a criação de um sistema de conselhos de bairro. Cada bairro tem um conselho comunitário escolhido pela comunidade e conta com um orçamento anual independente para este conselho administrar. Cada conselheiro atua de forma voluntária e são centenas de líderes espalhados em 99 conselhos de bairros que representam os interesses locais dos cidadãos.
Naquela ocasião, foi observado que os políticos antes de tentarem aprovar o orçamento da cidade ou suas propostas de projetos, precisam visitar as comunidades afetadas para dialogar com suas lideranças e moradores. Isso permite identificar as prioridades locais e incorporar as demandas da população nos projetos. Sem esse diálogo, torna-se difícil obter apoio para aprovar suas propostas e eles podem até enfrentar dificuldades para se reeleger.
Essa prática promove a transparência e o envolvimento cidadão na tomada de decisões sobre o que realmente importa para cada bairro. Além disso, incentiva a população a acompanhar o trabalho dos representantes eleitos e encoraja os jovens a participarem mais ativamente na política de suas comunidades e cidade, valendo a pena ler o conteúdo destes links <https://tinyurl.com/2s44t257, https://tinyurl.com/5bvmku2n e https://lacity.gov/calendar, https://empowerla.org/councils/>.
Além disso, LA está no Sul da Califórnia, uma região semiárida caracterizada pela presença de montanhas, intensa urbanização, baixa precipitação anual e intenso uso de água. Esses fatores contribuem para criar um ambiente propenso a incêndios florestais e secas frequentes e intensas ao longo do tempo. Destaca-se o período entre 2012 e 2016, considerado uma das secas mais severas na região nos últimos 1200 anos. Apesar disso, LA tem buscado enfrentar as secas de forma planejada, participativa e não é à toa que foi eleita a segunda cidade mais resiliente pelo Resilient Cities Index 2023.
Entre as boas práticas desenvolvidas por LA em parceria com o Governo da Califórnia, Fundação Rockefeller (100 Resilient cities) e/ou Administração Federal está a elaboração e implementação do Plano “Resilient Los Angeles” lançado pelo prefeito Eric Garcetti em março de 2018 <https://tinyurl.com/2s3th3uc> contendo 91 páginas, 15 objetivos e 96 ações.
O Plano faz um resgate das experiências amargas sofridas pela cidade com os eventos climáticos ao longo dos anos, reconhece os planos anteriores e lista uma série de iniciativas para tornar a cidade resiliente, incluindo medidas para prevenir e enfrentar as secas tais como expandir e proteger fontes de água para reduzir a dependência de água importada e reforçar o abastecimento local; priorizar bairros chave para captura de água pluvial, arborização urbana e outros benefícios comunitários; revitalizar os rios; oferecer incentivos para tornar residências e empresas mais eficientes em termos de energia e água; educar os moradores e proprietários de imóveis sobre os benefícios econômicos e para a saúde trazidos pelas árvores; plantar árvores em comunidades com menos árvores para desenvolver uma cobertura arbórea mais equitativa até 2028 (são cerca de 15000 árvores plantadas anualmente); estimular as residências e empreendimentos a adotarem telhados e pavimentos claros e frescos, desenvolver um índice de vulnerabilidade ao calor urbano e um plano de mitigação para se preparar para temperaturas mais altas e calor extremo mais frequente, desenvolver um sistema alternativo de água para combate a incêndios etc.
Diante do exposto, há a necessidade de uma mudança paradigmática na gestão pública de Manaus e demais cidades do Amazonas. É imprescindível que se estabeleça uma gestão participativa que não apenas priorize de forma transparente os reais interesses das comunidades, mas também seja um reflexo das necessidades e aspirações da população, em contraposição aos interesses meramente políticos e empresariais momentâneos. Além disso, é preciso elaborar um plano de longo prazo para tornar nossas cidades resilientes contra cheias e secas, e o caso de LA é mais um que pode nos ajudar ao longo do tempo.