A guerra contra o clima exige inteligência, ciência e uma política ambiental séria, nas escalas municipal, estadual e federal. Não adianta colocar o nome CLIMA na secretaria e desconhecer o básico sobre eventos extremos e a geografia urbana de Manaus.
Meu mestrado na primeira turma do Centro de Ciências do Ambiente da UFAM, em 1999, versou sobre o tema risco geológico – elaborei o primeiro mapa de vulnerabilidade aos processos erosivos para a cidade de Manaus. Naquela época, eu era geólogo concursado pela CPRM, atual Serviço Geológico do Brasil, motivo profissional que me fez migrar do Rio de Janeiro para Manaus e escolher aqui viver, já se vão 30 anos.
Em minha dissertação, há 25 anos atrás, recomendava não construir em terrenos de Manaus com cotas abaixo dos 30 metros acima do nível do mar. O meu estudo e recomendação foram aproveitados pela UFAM na construção conceitual do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (PROSAMIM) em 2003. Alguns projetos públicos, como PROSAMIM, baseiam suas decisões em ciência.
Na tarde deste domingo (28 de julho), Dia Mundial da Conservação da Natureza, estive presente no Ato em Defesa do Parque dos Bilhares ocorrido no Largo São Sebastião. Nosso objetivo: MOBILIZAR MANAUS PELAS ÁREAS VERDES DE NOSSA CIDADE!
Imbuídos da bandeira do meio ambiente, demonstramos, com clareza, que os temas sustentabilidade e mudanças climáticas não devem estar fora dos próximos programas municipais de governo, especialmente, quando vivenciamos o que o povo gaúcho passou e vem se reconstruindo – o desafio hercúleo de enfrentamento ao evento extremo climático.
Infelizmente, a Prefeitura de Manaus parece alheia ao tema, especialmente ao defender a construção de uma sede para a SEMMASCLIMA numa área de preservação permanente da bacia hidrográfica do Mindu.
Não bastasse a proposta esdrúxula de retirada de árvores locais, da mata ciliar, para a construção de um prédio, o projeto arquitetônico indica que o imóvel ficará na cota de 27 metros acima do nível do mar, uma área classificada como de alto risco para eventos extremos pela Defesa Civil do Amazonas (fonte: https://sispdec.defesacivil.am.gov.br/mapas/publico/areas_risco_cprm), acesso gentilmente cedido pelo Ministério Público de Contas do Amazonas (MPC).
A Prefeitura de Manaus possui este estudo promovido pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), há quase uma década.
Conversava sobre o tema com o amigo Ruy Marcelo, procurador do MPC, e ele ressaltava de forma contundente: “Até quando edificaremos em área de risco, em vez de recompor mata ciliar? ”
Parece que a atual Prefeitura de Manaus vem adotando uma postura negacionista, não respeitando sequer estudos técnicos científicos e recomendações dos órgãos de controle, para o enfrentamento às mudanças climáticas e eventos extremos.
Essa, caros leitores e leitoras, é uma causa que me levou voltar às ruas. Não estou filiado a nenhum partido político, mas, temas estratégicos como restauração florestal, proteção e recuperação de igarapés, me empolgaram a participar, como cidadão de Manaus, desta empreitada democrática domingueira.
Tenho acompanhado, de forma atenta, os discursos e propostas inovadoras sobre meio ambiente, saneamento básico e gestão de riscos urbanos do deputado federal Amom Mandel (CIDADANIA). Pesquisas eleitorais em Manaus o apontam num segundo turno, como programa de governo confrontante ao do atual prefeito David Almeida (AVANTE).
Vi também nascer em 2024, nas ações de proteção dos igarapés do Gigante, Goiabinha e Água Branca, a proposta de candidatura à Câmara de Vereadores de uma bancada ambiental, formada por 11 representantes do ativismo socioambiental manauara, filiados à REDE SUSTENTABILIDADE.
Observo nas redes sociais as postagens do amigo e ex-deputado estadual Luiz Castro, pré-candidato ao legislativo municipal pelo PDT, político que, por muito tempo, presidiu a Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa do Amazonas.
E poderia falar de tantas outras pessoas, comprometidas com a causa ambiental, que estão emprestando seus nomes e histórias nas eleições de outubro de 2024, (re)qualificando, se eleitos, os debates sobre os valores e ética sustentáveis nos mandatos municipais da próxima gestão da Capital amazonense.
Como profissional que atuo executando a política ambiental no Amazonas, é hora de ajudar a eleger uma bancada ambiental com força política na Câmara de Vereadores, independente da origem de partidos políticos.
Que nosso voto útil construa uma Manaus resiliente, especialmente, ao enfrentamento dos eventos extremos climáticos. Com o fenômeno La Niña se instalando só a partir de agosto, confirma-se que 2024 será mais um ano de forte vazante, exigindo da gestão pública: disciplina, monitoramento, responsabilidade fiscal e respeito aos dados científicos.
Nosso apelo aos órgãos de controle e ao Judiciário: suspendam a obra do Parque dos Bilhares. Não permitam o crime ambiental e ao erário público contido na equivocada proposta de construção da sede da SEMMASCLIMA.
Num prédio localizado em terreno da cota 27 metros, numa área de alto risco à inundação definida pelo Serviço Geológico do Brasil e Defesa Civil do Amazonas, imaginem os estragos de uma grande cheia, no novo normal, com cotas superiores aos 29 metros, cada vez mais recorrente em tempos de mudanças climáticas.
Ainda estão muito vivas as imagens de Porto Alegre, com bairros inteiros alagados pela ocupação urbana de planícies de inundação, terrenos que deveriam estar destinados, legalmente, como áreas de preservação permanente.
Por final, uma sugestão à Prefeitura de Manaus: troque o nome da SEMMASCLIMA… SEM+MAS+ CLIMA…. Lendo rápido, soa: SEM MAIS CLIMA. #ficaadica!
*Geólogo, Analista Ambiental, Professor Doutor em Ciências Ambientais e Sustentabilidade na Amazônia e Pesquisador do Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia da UEA.