19 de setembro de 2024

Vozes da Filosofia de Manaus: Carolina Pereira Martins

Dando continuidade ao projeto “Vozes da Filosofia de Manaus”, conheça hoje à trajetória de vida dessa magnânima filósofa. “Saudações cordiais e fraternas a todos os leitores (as) do jornal do comércio. Meu nome é Carolina Pereira Martins, tenho 27 anos, sou natural de Manaus – AM. Atualmente resido no estado de São Paulo- SP. Como evidencio minha trajetória: sou pessoa com deficiência física (PCD), diagnosticada com paralisia cerebral congênita devido à falta de oxigenação no cérebro durante o meu nascimento. Assim, meus movimentos das pernas e minha coordenação motora foram comprometidos, o que me impediu de andar e falar, precisei usar cadeira de rodas durante a infância.

Ao meu tempo, minha reabilitação foi um processo longo e doloroso, mas o apoio dos meus pais, Francisco Martins e especialmente da minha mãe, Suely Almeida, foram fundamentais. Com muito esforço e dedicação da minha mãe, aos 8 anos de idade consegui levantar da cadeira de rodas e dar meus primeiros passos, o que me permitiu seguir meus estudos. O amor pela filosofia já nasceu em mim desde criança, como eu não falava, pensava bastante, então desenvolvi essa capacidade de raciocínio rápido e certeiro, aprendi a ler em casa com meu irmão que sempre trazia livros para  ensinar-me e a ler  junto comigo como eu não andava ele lia muitos livros para mim foi mediante a essa conjectura que nasceu o amor pela vida intelectual e pela filosofia e a arte de filosofar. Formei-me em Licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM) em 22 de janeiro de 2024. Ainda não tenho livros publicados, mas pretendo publicar no futuro.

Desde cedo, sempre fui uma pessoa curiosa e questionadora. Na minha adolescência, tive professoras e professores que me inspiraram profundamente, introduzindo-me a grandes pensadoras e pensadores e suas ideias. Além disso, minhas próprias experiências de vida, marcadas por desafios e superações, despertaram em mim um profundo interesse por questões existenciais e éticas. A filosofia se tornou essencial na minha vida como pessoa com deficiência, oferecendo-me um espaço para refletir sobre a condição humana, a busca pelo sentido da vida e a compreensão das diferentes perspectivas sobre o mundo. Através da filosofia, pude analisar criticamente a sociedade e lutar por inclusão e direitos. Esse campo do conhecimento me deu ferramentas para questionar preconceitos, propor mudanças e defender a igualdade, contribuindo para uma sociedade mais justa e inclusiva.

A filosofia como disciplina deixou de ser considerada uma “área prioritária” e tem sido questionada por sua natureza pouco prática. Mas, como lembrava a filósofa Marina Garcês, “a filosofia não é útil ou inútil. É necessária”. Trata-se de uma linha tênue fundamental para aprender a pensar de forma crítica e reflexiva. Refletir e analisar questões fundamentais têm impactos práticos substanciais. A filosofia não apenas nos capacita a perceber o mundo de novas maneiras, mas também pode transformar nossa interação com ele. Desde auxiliar os outros até lidar com a morte, ou decidir sobre expressões impulsivas nas redes sociais e na vida cotidiana o pensamento crítico e as ferramentas filosóficas nos orientam na tomada de decisões informadas.

Eu entendo que a filosofia, ao longo dos séculos, tem desempenhado um papel fundamental na construção do conhecimento humano e na promoção de uma compreensão mais profunda do mundo. Sua contribuição é vastamente rica e multifacetada, abrangendo desde o desenvolvimento do pensamento crítico até a orientação ética, passando pela reflexão sobre a ciência e a tecnologia. Em um mundo cada vez mais complexo e interconectado, a filosofia se revela mais relevante do que nunca.

Em primeiro lugar, a filosofia promove o desenvolvimento da cognição por meio da análise rigorosa de argumentos e ideias, a filosofia ensina a questionar e a não aceitar passivamente as informações apresentadas. Esse processo de questionamento e análise é essencial para distinguir entre argumentos válidos e falácias, capacitando os indivíduos a tomar decisões mais informadas e fundamentadas. O pensamento crítico, portanto, não apenas enriquece o indivíduo, mas também fortalece a sociedade como um todo, fomentando um ambiente onde ideias e políticas podem ser debatidas de maneira racional e construtiva.

Além disso, o exercício filosófico explora questões fundamentais sobre a existência, a moralidade, a natureza da realidade e do conhecimento.  Em suma, a filosofia oferece uma compreensão mais profunda e crítica do mundo ao nosso redor. Ela capacita os indivíduos a viverem de maneira mais consciente e significativa, promovendo um desenvolvimento intelectual, ético e social que é essencial para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo.

A filosofia, para mim, é mais do que uma disciplina acadêmica; é uma paixão profunda e transformadora. Ela me ensinou a questionar, a refletir e a compreender o mundo e a mim mesma de maneira que nunca imaginei possíveis. Agradeço à filosofia por me guiar nos momentos mais difíceis, por me dar a força para desafiar minhas limitações e por iluminar meu caminho com sabedoria. É através do pensamento filosófico que encontramos a coragem de enfrentar nossas dúvidas e incertezas, e é na arte de filosofar que descobrimos a beleza da busca constante pelo conhecimento e pela verdade.

Por fim, agradeço ao professor Luís Lemos pelo convite e pela oportunidade de compartilhar minha história de vida com os leitores do JC. Espero que, assim como a filosofia transformou a minha vida, ela possa também tocar o coração e a mente de muitas outras pessoas, inspirando-as a explorar e a amar o pensamento filosófico”.

Luís Lemos

É filósofo, professor universitário e escritor, autor, entre outras obras, de "Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente", Editora Viseu, 2021.

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