25 de novembro de 2024

Apocalipse e herança

Vivemos tempos apocalípticos. O Apocalipse, último Livro das Escrituras Sagradas, nos revela, e esse é o termo mais adequado, fatos e sinais que representam momentos históricos de transformações planetárias, nos diversos campos científicos e do conhecimento humano.

Venho estudando e observando as adaptações e readaptações do Planeta Terra, uma casa viva e dinâmica que se transforma e reforma desde a criação, há cerca de 4,5 bilhões de anos. Ao conhecimento científico prescrito pela Geologia, nasceram/surgiram as Eras Geológicas (Pré-Cambriana, Paleozoica, Mesozoica e Cenozoica) e suas subdivisões, que se constituem intervalos de tempo na História do planeta, correspondentes às transformações e eventos relacionados à evolução de nossa casa Gaia.

Do Livro A Geologia na Construção do Desenvolvimento Sustentável do Brasil, editado em 2019 pela Federação Brasileira de Geólogos (FEBRAGEO), no capítulo de apresentação, página 02, lê-se: “ A ciência, nos últimos anos, tem se concentrado mais e mais na Terra como um planeta, aquele que, por tudo que sabemos, é único – onde se combinam um delgado cobertor de ar, uma fina capa de água e um filme ainda mais delgado de solo para sustentar uma teia de vida com maravilhosa diversidade e em contínua mudança (EDDY, J. A fragile Seam of Dark Blue Light. Proceedings of Global Change Resource Forum. USGS Circular 1086, p.15, 1993.).

O meu grifo destaca o problema apocalíptico, ou melhor, o arbítrio/escolha/paradigma que ora se apresenta à humanidade inteligente diante da guerra climática e suas consequências.

Quem ainda permanece negacionista ao fato que atravessamos um período de mudanças do clima, e isso exige dos seres vivos capacidade adaptativa – resiliência, sugiro a leitura dos artigos do Professor Doutor Luiz Carlos Molion. Aprenderemos com o pesquisador que a grande característica destes tempos apocalípticos é a frequência dos eventos extremos (exemplos da tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul, e do que ocorre na atual vazante dos rios na Amazônia).

Me perdoem os medíocres, mas não vou entrar no debate entre aqueles que medem o tempo em dias, anos, séculos e os que observam tempos geológicos (milhares, milhões e bilhões de anos). Nelson Rodrigues (1912-1980) já nos ensinava que “toda a unanimidade é burra”.

Ao posicionar a Ciência dentro do Método Científico, onde sempre há tese, antítese e síntese, reflito: esta é a primeira mudança climática planetária onde aqui estão e vivem quase 9 bilhões de seres humanos (Homo sapiens sapiens) (re)encarnados.

Com tanta sapiência junta, com tantos rumores de guerra locais e mundiais, muros entre nações vizinhas sendo erguidos, racismo e corrupção estruturados, brigas letais entre torcidas de futebol, unidades familiares destruídas pela economia desumana e pela ideologia sem limites… que herança estamos deixando aos nossos filhos, netos, bisnetos…?

Com 11 estados federativos e o Distrito Federal pegando fogo…  a grande maioria das cidades convertidas em ilhas de calor, balneários urbanos na forma de esgotos à céu aberto, planos diretores inexistentes e/ou desrespeitados, as reflexões na alma das vítimas da tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul… que herança aguardam nossos futuros cidadãos brasileiros?

Com anos consecutivos de influência do El Niño (2022, 2023 e 2024), os resultados da maior vazante histórica que estamos presenciando, reforça a necessidade de cuidado dessa “fina capa de água” no Planeta, exigindo governança socioambiental e investimentos sérios e permanentes no controle ambiental, infraestrutura que, infelizmente, o Amazonas e a Amazônia não dispõem.

Reforço o clamor às autoridades constituídas estaduais, que, sem uma estrutura institucional de governança das águas (agência, instituto, secretaria, UGP…) estaremos sendo coniventes com a incapacidade de execução da atual Política Estadual de Recursos Hídricos do Amazonas, tendo por responsável ou irresponsável, o governador Wilson Lima.  A Assembleia Legislativa do Amazonas aprovou o indicativo deste tema em 2021, a partir do excelente trabalho defendido pelo ex-Deputado Estadual e atual candidato à Prefeitura de Manacapuru Angelus Figueira.

Onde estão os representantes dos Órgãos de Controle?

O grande barato do Apocalipse é que ele revela dificuldades, mas descobre UM NOVO CÉU, E UMA NOVA TERRA – “Depois vi um novo céu e uma nova terra. O primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia mais” (Apocalipse, 21:01).

É preciso fazer desaparecer a herança apocalíptica do primeiro céu e da primeira terra… e as metas de 2030 estão claríssimas nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (https://brasil.un.org/pt-br/sdgs). Se algumas gerações foram negligentes, e muitas continuam sendo, é hora de arregaçar as mangas e reconstruir e restaurar a Terra com o envolvimento sustentável e o cuidado e resiliência necessários.

Com o seu deferimento, caro Leitor, compartilhe as ideias aqui reunidas, dentro da finalidade maior do artigo: apagar o fogo da negligência do Estado brasileiro e dos gestores criminosos que ainda insistimos em eleger… em 06 de outubro de 2024, podemos mais uma vez escolher melhor.

Daniel Nava

Pesquisador Doutor em Ciências Ambientais e Sustentabilidade da Amazônia do Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia da UEA, Analista Ambiental e Gerente de Recursos Hídricos do IPAAM

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