18 de outubro de 2024

Um animal tornado Deus

Num certo canto da África, o Homo sapiens era ainda um animal insignificante levando a vida como dava, nos andaimes do mundo. Mas, ao cabo dos milênios seguintes, ele se transformou, visto o horizonte de eventos, no dono de todo o planeta e no terror do ecossistema. Hoje, imagina-se, está preste a se tornar um deus, capaz de conquistar não só a juventude eterna como também capacidades divinas de criação e destruição, visto o poder determinante dos fatos.

No domínio dos sapiens na Terra, infelizmente até agora produziu pouco de que possamos nos orgulhar. Controlamos o meio a nosso redor, aumentamos a produção de alimentos, construímos cidades, estabelecemos impérios e criamos vastas redes de comércio. Mas será que a rigor reduzimos a quantidade de sofrimento no mudo? Diversas vezes, aumentos acentuados de poder humano não melhoraram substancialmente o bem-estar dos sapiens como indivíduos, causando em geral imenso sofrimento a outros animais.

Fizemos por fim algum progresso real no que condiz a condição humana da redução da fome, das pestes e da guerra.  No entanto, a situação dos outros animais está se deteriorando mais rápido do que nunca, e as melhoras no padrão de vida da humanidade ainda são muitos recentes e frágeis para que estejamos certos delas.                                                                                                                                                                                        Além do mais, apesar das coisas incríveis que os humanos são capazes de fazer, permanecemos inseguros quanto a nossos objetivos, dando a impressão de estarmos tão descontentes como sempre. Progredimos das canoas para as galeras, daí para os navios a vapor e para os ônibus espaciais – mas ninguém sabe para onde estamos indo. Somos mais poderosos do que nunca, porém temos pouquíssima ideia do que fazer com todo esse poder. Pior ainda, os humanos parecem mais irresponsáveis do que nunca. Deuses feitos por si próprios, tendo apenas as leis da física para nos fazer companhia, não prestamos contas a ninguém por nossos atos. Consequentemente, estamos devastando nossos amigos animais e ecossistema que nos cerca, buscando pouco mais que nosso próprio conforto e divertimento sem jamais encontrar satisfação. Existe alguma coisa mais perigosa que deuses insatisfeitos e irresponsáveis que não sabem o que querem?

Essa última indagação vem da parte de Yuval Noah Harari autor de Sapiens Uma Breve História da Humanidade, obra sobre a qual teceremos apanhados que valem a pena nos moldes que acompanham os rumos de publicações quitais, não fosse esta uma agência de advogados que nesta atividade se adjetiva como estação de escritos semanais, sempre não apenas inspirada  nos Códigos, Constituição e algo das publicações do gênero. Então, comecemos.  Assim, o planeta Terra tem cerca de 4,5 bilhões de anos. Numa fração ínfima desse tempo, uma espécie entre incontáveis outras o dominou: nós humanos. Somos os animais mais evoluídos e mais destrutivos que jamais viveram, os únicos que podem acreditar em coisas que existem em sua imaginação, como deuses, Estados e direitos humanos.

O fogo nos deu poder; a agricultura nos deixou famintos por mais; o dinheiro nos trouxe propósito; e a ciência nos tornou letais.

Sapiens é a obra-prima daquele citado professor israelense autor de outras publicações consagradas, além de notável mestre ph.D. em história pela Universidade de Oxford e professor na Universidade Hebraica de Jerusalém, valendo-lhe a reputação como um dos mais brilhantes intelectuais da atualidade.

Num feito surpreendente, que já fez deste livro um clássico contemporâneo, o historiador e mestre israelense aplica, de maneira acessível, uma fascinante narrativa histórica a todas as instâncias do percurso humano sobre a Terra, sobre a qual dispo-nos a discorrer em artigos sucessivos semanais, adotando-se o título de cada assunto, mas ligados todos a este básico.

Desde as nossas raízes evolutivas até a era do capitalismo e da engenharia genética, temos muito mais poder que nossos ancestrais, por outro não somos necessariamente mais felizes. Harari se vale de uma abordagem multidisciplinar ousada que preenche as lacunas entre história, biologia, filosofia e economia, e, com uma perspectiva macro e micro, analisa a páginas tantas não apenas os grandes acontecimentos, mas também as mudanças mais sutis notadas pelos indivíduos.

Traduzido para quase cinquentas idiomas Sapiens é leitura essencial para entender quem somos, de onde viemos e o que nos distingue das demais espécies.

 

É advogado de empresas (OAB/AM 436). Contato: [email protected].

Bosco Jackmonth

* É advogado de empresas (OAB/AM 436). Contato: [email protected]

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