22 de novembro de 2024

Prototipagem e custos

A experiência tem mostrado que quase todos os projetos de geração tecnológica têm um ponto em comum: a falha no orçamento. Essa falha, infelizmente, quase nunca é para menor, quase nunca implica em custos gastos menores do que o que consta no documento aprovado. Dito de outra forma, os custos apresentados na aprovação do projeto quase sempre são muito menores do que se mostram depois ou ao longo de sua execução. Essa falha é decorrente da incompreensão e desconhecimento do que seja o custo, tanto conceitual quanto operacionalmente falando. Esse desconhecimento também pode ser verificado nas centenas e às vezes milhares de páginas na internet que dizem orientar sobre as diferentes formas de custeio dos projetos das inovações tecnológicas. Percebe-se, tanto nessas páginas de “especialistas” quanto no cotidiano da elaboração de projetos até por membros experientes, que suas visões estão limitadas e abarcam apenas alguns aspectos da operacionalização da invenção, como se tudo se resumisse àquilo que acontece no laboratório. O teste da realidade tem lhe dado amargas lições.

Para que se possa entender com exatidão os custos, é necessário que se compreenda a lógica que lhes dá origem. A primeira lição é essa: o custo é apenas consequência de algo mais essencial. E esse algo é a relação meios-fins. E a lógica é muito simples: tudo aquilo que precisa ser feito ou que foi executado consumiu recursos. Os recursos são os meios através dos quais o produto ou tecnologia foi gerada. O produto e a tecnologia são os fins. É daí que vem o ditado popular, e verídico, de que tudo consome recursos e que, por essa razão, “não existe almoço grátis”. Os custos são apenas a expressão monetária dos meios, dos recursos. Disso resulta a segunda lição que precisa se apreendida e testada: recursos não são dinheiro. Por isso nunca se deve confundir dinheiro com recurso e vice-versa. Mas todos os recursos, todos os meios podem ser expressos em dinheiro, em termos monetários, como dizem os profissionais de negócios. Disso advém a terceira lição, que os custos são a expressão financeira (em dinheiro) dos recursos necessários para a produção de alguma coisa.

Agora vamos ao segundo esquema lógico para a compreensão precisa de todos os tipos de custos, principalmente os de prototipagem. Tudo o que é feito tem, no mínimo, três conjuntos de atividades: pré-operacionais, operacionais e pós-operacionais. As atividades pré-operacionais são todas aquelas que precisam ser executadas antes de se começar a produzir alguma coisa. No caso dos protótipos e das inovações tecnológicas, uma série de atividades precisam ser executadas para poder viabilizar qualquer proposta. A disponibilidade de laboratórios e seus equipamentos são exemplos, da mesma forma que pessoal habilitado para fazer e auxiliar a execução do projeto, a anuência dos gestores ou de autoridades específicas, em alguns casos de tecnologias. Tudo isso tem custo e que precisa, de alguma forma, aparecer na proposta e que vai implicar no custo do projeto.

Os custos operacionais são os relativos aos recursos diretos que serão utilizados para gerar o protótipo. Recursos diretos significa no momento temporal de execução, que vai da elaboração do primeiro protótipo até a sua aprovação como tecnologia finalizada. E esses custos não implicam somente os relativos às impressoras 3D e suas matérias-primas, bolsas de pesquisa, honorários de colaboradores e demais itens comuns nas propostas de projetos. É preciso custear a energia elétrica assim como a obsolescência dos Laboratórios e seus equipamentos. Também é preciso levar em consideração os custos de oportunidades, o custo do tempo, das utilidades consumidas, das chances causadas, dentre outras, passíveis de serem identificadas para cada projeto, processo, matérias-primas e tecnologia a ser gerada.

O terceiro grupo são os custos pós-operacionais, que consomem recursos depois que o protótipo se transformou em tecnologia. É preciso fazer o registro da propriedade intelectual, fazer o pedido da patente, custos com advogados, contadores e profissionais de atuária, dentre outros. As negociações para distribuição e transferência da tecnologia também geram custos, assim como o desenho dos canais logísticos, sistemáticas de manutenção ou assistência técnica e inúmeras outras atividades com o intuito de colocar a tecnologia à disposição dos clientes, usuários e consumidores e prestar as assistências devidas quando necessárias. Vale reformar que tudo isso é apenas preparação, o planejamento do que a logística chama de canais de distribuição, que é a forma de relacionamento dos cientistas e grupo de geração da tecnologia com quem vai receber o artefato tecnológico criado. Embora seja apenas esforços de prototipagem, esses custos precisam estar ali embutidos.

Uma atenção especial precisa ser dada às iniciativas de prototipagem feitas em instituições públicas por ela homologadas ou como protagonistas. Embora não sejam os membros da equipe de pesquisa que façam os desembolsos, há inúmeros recursos, diretos e indiretos, em todas as fases de operação, que são consumidos. Os protótipos e as tecnologias geradas têm, sim, custos, e eles precisam ser previstos e alocados nos projetos. Se não houver a previsão, o resultado obtido no médio ou longo prazo é o sucateamento institucional e suas consequências nocivas, dentre as quais a impossibilidade de geração de tecnologias, de apresentação de novas propostas. Esse tem sido, aliás, a principal causa do sucateamento dessas instituições e não o descaso governamental (que não é irreal).

Em última análise, os custos representam o quanto o protótipo (e a tecnologia) consome em recursos, expressos em unidades monetárias, que são a sua expressão financeira. O que o recebedor da proposta vai fazer é uma avaliação sob a ótica financeira do esforço, material, ativos, tempo e utilidades consumidos, assim como as chances causadas e as oportunidades negadas no andamento para a entrega de um bem ou serviço. Muitas vezes as propostas são reprovadas justamente porque ficam restritas ao custeio de algumas poucas atividades exclusivas da fase operacional, o que é uma grande ilusão.

Daniel Nascimento

É Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)

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