24 de novembro de 2024

Sob todos os ângulos

A fotógrafa Selma Carvalho tem fotografado Manaus nos mais diversos ângulos registrando o passado e o presente.
Selma Carvalho vive em Manaus há 29 anos e é apaixonada pela cidade_

No dia 30 de junho completou 115 anos da chegada de quatro frades capuchinhos da Úmbria ao Amazonas: freis Domingos de Gualdo Tadino, Agatângelo de Spoleto, Ermenegildo de Foligno, e Matinhos de Ceglie. Apesar de a data comemorada ser 1909, desde 1906 os capuchinhos da Lombardia já estavam morando em Manaus e foi na casa destes que os umbros ficaram hospedados e começaram sua missão no Amazonas, que continua até hoje.

Para comemorar a data, no dia 18, sexta-feira, foi inaugurado o Museu dos Capuchinhos num espaço da Igreja de São Sebastião, e aconteceu a vernissage da exposição fotográfica ‘Capuchinhos na Amazônia’, no Centro Cultural Palácio da Justiça, sob a curadoria de Selma Carvalho.

O Museu consta de mais de 2.500 peças entre fotografias (desde o começo de seus trabalhos no Amazonas, os capuchinhos documentaram fartamente com fotos as suas ações), arquivos e objetos históricos. As próprias paredes da igreja são ricas em pinturas históricas do artista italiano Francesco Campanella, colocadas ali em 1930. Entre as várias imagens, a da Sagrada Família e do Sagrado Coração de Jesus, vieram da França e estão no local desde 1904; a de Santo Antônio veio de Portugal; e as de N. Sra. das Graças e N. Sra. do Perpétuo Socorro foram doadas pelas famílias Perdigão e Adolpho Lisboa. Outras peças do Museu são dezenas de cálices recebidos pelos frades como presentes de ordenação ou data histórica da igreja; uma caixinha de música do século 19, que ainda funciona; um conjunto de coroas utilizadas nas cerimônias da Coroação de Nossa Senhora, do Espírito Santo e do Sagrado Coração de Jesus; peças esculpidas em madeira retratando São Francisco, Santo Antônio, São Benedito e N. Sra. de Nazaré; estandartes bordados a mão, do início do século passado, utilizados em procissões de Nossa Senhora; missais em latim; e um belo sacrário de uma igreja demolida que existiu no alto Solimões entre 1917 e 1920.

 

Selecionar entre milhares

Quanto às fotografias, a mais antiga é de 1911 e mostra a primeira missa realizada na Tríplice Fronteira, com indígenas perovianes.

“Ano passado vim visitar o presépio dos capuchinhos, com peças seculares, em tamanho natural e, conversando com o frei Dimitri, que também é fotógrafo, ele me perguntou se eu queria ajudá-lo nos eventos de comemoração dos 115 anos da ordem capuchinha, no Amazonas, e eu aceitei”, lembrou Selma.

“Então o frei Dimitri me apresentou a missão ‘Nós continuamos’, os acompanhei em ações que realizam junto a moradores de regiões carentes de Manaus, e conheci o frei Raul, que estava organizando o Museu, bem como as peças que seriam expostas”, falou. 

Além das fotos existentes no acervo local, em março os capuchinhos viajaram até a missão existente em Belém do Solimões, aldeia do povo tikuna, em Benjamin Constant, e trouxeram mais de 1.000 fotos.

“Comecei a pesquisar em agosto. Eram umas 20 caixas repletas de fotografias mas, devido ao prazo para a exposição, só deu tempo de pesquisar em oito caixas. Selecionei 35 fotos coloridas, da atualidade, e 25 em preto e branco, das missões do passado”, disse.

‘Capuchinhos na Amazônia’ prossegue aberta ao público até 29 de outubro, no Palácio da Justiça, das 9h às 15h, depois, no dia 5 de novembro, terça-feira, segue para o Centro Cultural Palácio Rio Negro, onde permanecerá até o final do ano.

 

Fotógrafa climática

Selma Carvalho vive em Manaus há 29 anos e é apaixonada pela cidade e pela região amazônica. Fotógrafa profissional há 13 anos, a paulista se especializou em imortalizar através de imagens a Manaus do passado, clicando prédios históricos e estruturas antigas. Também ficou expert em fixar as cenas causadas pelas enchentes e vazantes do Negro, como as ruas alagadas da cidade na grande cheia de 2021, e este ano, com os vastos beiradões sem água.

A fotógrafa é expert em fixar as cenas causadas pelas enchentes e vazantes do Negro
A fotógrafa é expert em fixar as cenas causadas pelas enchentes e vazantes do Negro

 

Com a experiência que possui, Selma iniciou um novo trabalho. Fazer curadoria de exposições fotográficas. Já acumula oito em seu portfólio.

“Fiz a curadoria de ‘Chão velho’, da Clíssia Monteiro; ‘As amazonas’, do Tássio Melo; ‘Esses rios são minhas ruas’, da Simone Brandão, entre outras. Essa, dos ‘Capuchinhos na Amazônia’, talvez tenha sido a que mais me envolvi com o objeto da curadoria, pois acompanhei os freis em suas ações do ‘Nós continuamos’, para entender mais a fundo o universo da ordem, aqui no Amazonas”, contou.

_Os acompanhei em ações que realizam junto a moradores de regiões carentes de Manaus_
“Os acompanhei em ações que realizam junto a moradores de regiões carentes de Manaus”

 

Outro trabalho de Selma que certamente enriquecerá em muito a sua trajetória fotográfica é a cobertura que ela está fazendo da restauração do complexo Booth Line. Desde que as obras começaram, em junho, Selma acumula centenas de imagens dos mais inimagináveis ângulos possíveis do passo a passo de reconstrução do prédio.

Ângulos inimagináveis do passo a passo da reconstrução do complexo Booth Line
Ângulos inimagináveis do passo a passo da reconstrução do complexo Booth Line

 

“Essa é a missão do fotógrafo. Documentar, através de imagens, o máximo que puder”, finalizou.    

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio

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