22 de novembro de 2024

Prototipagem e equipamentos

Os equipamentos são um tipo de recurso muitas vezes aparentemente conhecidos. Aparentemente porque se tem a impressão, até mesmo a ilusão, de que sabemos o que são e que, por essa ilusão, cometemos sem querer falhas e danos propositais aos esforços de inovação tecnológica. Por uma feliz coincidência a própria palavra “equipamento” faz uma sinalização fundamental para a sua importância não apenas para a produção de tecnologias, mas para toda equipe que pretenda alcançar algum objetivo ou resultado. Essa coincidência quer dizer que sem equipamentos não há equipe, uma vez que, atualmente, é muito difícil encontrar quem faça inovações tecnológicas sozinho. As tecnologias, ao que tudo indica, são desafios que só podem ser enfrentados e superados se se contar com a ajuda de pelo menos uma pessoa na equipe, sem levar em consideração, nessa contabilidade humana, as pessoas que estão fora do projeto, mas que, de alguma forma, contribuem com ele, como os fornecedores, os clientes e toda sorte de membros institucionais e organizacionais. Em síntese, sem equipamentos não há equipes efetivamente preparadas para materializar a tecnologia que pretendem entregar aos seus usuários, clientes e consumidores para que suas necessidades possam ser supridas ou terem seus problemas solucionados.

Em termos gerais, equipamento pode ser tomado como toda e qualquer ferramenta que uma ou mais pessoas utilizam para fazer alguma coisa. Neste sentido, uma chave de fenda é um equipamento porque serve para apertar e afrouxar parafusos, da mesma forma que serve para fazer ajuste entre peças quando a usamos para batê-las, como se fosse um martelo. Note que há uma relação entre o efeito que se quer produzir (a coisa que queremos materializar) e a causa: a causa é a ferramenta. Os efeitos podem ser tão sutis quanto os promovidos pelos equipamentos de segurança. Veja que, neste caso, o que queremos realizar é justamente a não realização do acidente ou a não geração de danos, caso algum incidente nocivo. Os equipamentos de proteção individual, então, são ferramentas que servem para que danos não sejam gerados no corpo humano.

Também de forma geral, sem os equipamentos os resultados pretendidos não poderão ser alcançados. Uma máquina de impressão 3D é um tipo de equipamento, se a intenção for fazer a prototipagem rápida de alguma tecnologia. Se esse equipamento não estiver disponível, os resultados pretendidos (os protótipos) não poderão se alcançados, naturalmente, a não ser que haja alguma máquina ou procedimento substitutos. Neste caso, quando há substitutos, os substitutos passam a fazer o papel de equipamentos, o que vem a confirmar o esquema lógico de que sem os meios os fins não podem ser alcançados. Equipamentos são meios. E como uma equipe é um tipo de organização, é um agrupamento humano com objetivos previamente negociados entre os seus membros, sem os equipamentos necessários os objetivos ficam comprometidos, o que leva à aceitação do fato de que sem equipamentos não há equipes, porque o plano não pode ser executado.

Dessa forma, há equipamentos para lidar com os recursos, para fazer a transformação dos recursos em produtos e para tratar com os próprios produtos tecnológicos gerados. É aqui que geralmente entram as confusões entre máquinas e equipamentos, cuja distinção se faz, fundamentalmente, pelo seu papel na relação meios-fins. Uma máquina é tomada simplesmente como um objeto composto por um conjunto de peças que produzem algum tipo de movimento, seja através do esforço humano, seja através de outros meios, mecânicos ou elétricos, por exemplo. Por outro lado, como já foi explicado, um equipamento é todo objeto utilizado na produção de alguma coisa. Simples assim. Alguém poderia perguntar se uma máquina pode ou não ser considerada um equipamento. A resposta é sim, se ela for utilizada para fazer alguma coisa. E a resposta será não, se ela ficar ali, parada, sem uso. A dimensão utilidade é o que faz tanto a diferenciação conceitual quanto operacional das máquinas e equipamentos. Os equipamentos executam alguma função, enquanto as máquinas, tomadas apenas como tal, não.

Cientistas utilizam equipamentos para lidar com matérias-primas. É o caso das impressoras 3D, por exemplo, quando aplicadas para cortar madeiras, ou dos tornos, quando utilizados para preparar alguma peça de metal. Os equipamentos dão apoio, suporte às pessoas para que elas façam alguma coisa. Em muitos casos, os equipamentos são utilizados para evitar que algo não aconteça. Tomem-se os casos dos aparelhos de ar-condicionados, que são máquinas que têm como finalidade evitar que a temperatura ambiente esteja além ou aquém de determinado valor ou sensação térmica. Há até a possibilidade de se reconhecer como equipamentos os artefatos místicos, como os crucifixos e figas que muita gente acredita que dá sorte ou, o que dá no mesmo, espanta os maus-olhados.

Há também os equipamentos para transformar as matérias-primas em protótipos e tecnologia. Novamente, aqui entram em cena as máquinas e toda sorte de artefatos físicos, o que é fácil de compreender e aceitar. E as ferramentas extrafísicas, como as linguagens de programação e os algoritmos? Sob a ótica da nossa definição, elas também podem ser consideradas equipamentos porque são recursos, meios, utilizados para gerar algum resultado, executar algum trabalho. Isso quer dizer, então, que tudo aquilo que é utilizado como ferramenta para fazer alguma coisa pode ser considerado como equipamento, inclusive as ferramentas extrafísicas.

Essas considerações são fundamentais para a prática da geração de tecnologias porque ampliam e aprofundam a possibilidade de reconhecimento e listagem de tudo aquilo que é necessário para que as equipes de produção tecnológica possam fazer uma lista de materiais adequadamente consistente. Isso quer dizer que as chances de se deparar, ao longo do caminho a ser percorrido, com a falta de equipamentos se reduzem sobremaneira. Isso por que não se deve esquecer que todo projeto obrigatoriamente tem que apresentar uma listagem de todos os materiais que são estritamente necessários para que a tecnologia seja materializada. E todos os equipamentos precisam estar ali contidos.

Daniel Nascimento

É Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)

Veja também

Pesquisar